Crítica


6

Leitores


5 votos 8.4

Sinopse

Shadow é atormentado por eventos recentes e o desaparecimento de Wednesday. O poder da Nova Mídia leva a nação a um estado de pânico provocado pelos ardis do Sr. World.

Crítica

A Sombra da Lua, último episódio da segunda temporada de Deuses Americanos, finalmente responde a um dos grandes mistérios da série, ainda que parcialmente. Depois de ter utilizado a lança Gungnir para salvar o Sr. Wednesday (Ian McShane), Shadow (Ricky Whittle) se vê confrontado por sua esposa morta e confirma que não mais confia nela, provavelmente apontando a uma ruptura definitiva. Enquanto Odin vai embora sorrateiramente, os novos deuses se movimentam para atacar seus adversários, para isso utilizando toda sorte de artimanhas tecnológicas, como controlar equipamentos e esferas governamentais a fim de plantar informações inverídicas sobre os oponentes, pintando-os como ameaças públicas, algo que casa muito bem como o discurso do Sr. World (Crispin Glover) sobre medo e controle, o que esse fragmento tem de melhor.

Aliás, no começo de A Sombra da Lua o meticuloso articulador dos novos deuses tece comentários ferinos e certeiros acerca do medo como artifício para gerar a dependência dos humanos. Ainda que não seja totalmente verbalizado, fica subentendido que, ali, pessoas recorrem aos deuses por puro temor diante do desconhecido. De maneira semelhante, outorgam aos governantes, bem como aos agentes destes, que podem desempenhar a função repressora em prol do Estado – como os policiais, por exemplo –, poderes desproporcionais. Nesse ponto, Deuses Americanos se conecta com a realidade, especialmente a reinante no seio estadunidense ainda chacoalhado por narrativas sobre atos terroristas que, não raro, antecedem políticas que têm muito mais a ver com o desejo desenfreado de alguns por poder do que necessariamente com o zelo pelo país americano.

Considerado publicamente perigoso, Shadow entra numa "viagem" tão logo é tragado pela árvore sagrada de Odin, isso depois de ter uma conversa com a misteriosa Bilquis (Yetide Badaki), que lhe fornece subsídios (o fruto do conhecimento) para o acesso a um passado até então ignorado. Mesmo que textualmente não seja escancarada a natureza do protagonista de Deuses Americanos, fica suficientemente clara a sua origem e, por conseguinte, a absoluta relevância que ele, de fato, tem à contenda que pode levar à aniquilação de deuses. Antes da errância, dele cair na estrada para, talvez se encontrar, Shadow se depara com sua constituição insuspeita que, entre outras coisas, explica a afeição de Wednesday e a necessidade que o deus nórdico tem de mantê-lo próximo, apostando alto na sua atuação definidora. O gancho está pronto para as próximas levas.

Todavia, afora a revelação, A Sombra da Lua deixa a desejar, especialmente por não costurar com tanta habilidade os recursos à disposição. O princípio do episódio é excepcional, com a narração do Sr. World ganhando camadas na associação com imagens dos anos 50 e a produção em curso de um filme de ficção científica. Passado esse instante no qual o medo é escrutinando, em poucos minutos, de maneiras distintas e complementares, a narrativa volta a instaurar-se numa escala convencional, salva ocasionalmente do banho-maria por informações relevantes, como as raízes de Shadow e demonstrações do poder imenso retido nas mãos dos novos deuses – com especial destaque à Nova Mídia (Kahyun Kim), poderosa em virtude da idolatria contemporânea, algo que os antigos precisam resgatar. O resultado morno reflete bem a segunda temporada.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.