Crítica


6

Leitores


1 voto 10

Sinopse

Acompanha a história de três mães que se aproximam quando seus filhos passam a estudar juntos no jardim de infância. Até então, elas levam vidas aparentemente perfeitas, mas os acontecimentos que se desenrolam levam as três a extremos como assassinato e subversão.

Crítica

Como lidar com o fim do mundo? Aparentemente, quando os últimos instantes se aproximam, o mais indicado a fazer é reunir as forças que restam e se juntar com aqueles que realmente importam. E se o episódio anterior, Tell-Tale Hearts (T02 E02), havia sido sobre o papel das mães, The End of the World (T02 E03) dirige seu foco à posição dos filhos. Se tudo parece ser feito em nome deles, como lidar quando se está no lugar destes? E a diretora Andrea Arnold fala tanto das crianças, que ganham cada vez mais espaço na trama, como também das próprias protagonistas, que se assumem também filhas – e resultado – de outro alguém. Essa nova perspectiva não chega a ser inovadora, mas é suficiente para manter em alta o interesse pelo desenrolar dos acontecimentos.

Após um forte enfrentamento com a mãe, que chegou de surpresa para uma visita encomendada, Bonnie (Zoe Kravitz), logo nos primeiros instantes desse episódio assume uma atitude de conciliação. Esse acolhimento – encontra a mãe e a filha, avó e neta, juntas na cama, a mais velha entoando uma cantiga de ninar para a mais nova – reflete um espírito que chega a ser almejado, ainda que não totalmente atingido. É confirmado que Ziggy (Iain Armitage, de Young Sheldon, 2017-2019), que filho de Jane (Shailene Woodley), é mesmo irmão os gêmeos Nicholas e Cameron Crovetti (Max e Josh Wright), filhos de Celeste (Nicole Kidman). As duas amigas, que já sabiam do fato – Ziggy é filho do ex-marido de Celeste, Perry (Alexander Skarsgard), fruto do estupro que este cometeu em Jane – e lidam bem com a triste verdade, se apoiando uma na outra. O passo seguinte, portanto, é promover a união das crianças, deixando para trás a tragédia que as uniu.

A questão é que as fragilidades que as cinco de Monterey estão enfrentando, em grande parte, foram cavadas por elas mesmas. Por quê Bonnie se culpa pelo assassinato de Perry, se tudo o que fez – o empurrou escada abaixo – foi em legítima defesa para salvar uma amiga? Não há júri ou policial que não a entendesse e discordasse dessa atitude. Portanto, o “segredo” que elas tanto parecem se esforçar para esconder, na verdade, é não mais do que uma distração. Muito mais relevante é Renata (Laura Dern) tendo que lidar com a pobreza que se avizinha, assim como Madeline (Reese Witherspoon) se esforçando para salvar o próprio casamento, situação que ela própria se colocou por uma traição cometida no ano anterior.

É neste ponto em que chegamos ao grande diferencial da segunda temporada de Big Little Lies: a presença de Meryl Streep. É de se lamentar que a vencedora de 3 Oscars tenha sido chamada para uma personagem tão unidimensional. Como Mary Louise – que, aliás, é o nome verdadeiro de Meryl, pra ver o nível de bajulação – assumiu a postura da mãe vingadora, disposta a tudo para descobrir a verdade da morte do filho, Perry. Agora, quando o mistério for desvendado, o que irá acontecer? Nada, é o mais provável. Que se concentre em resgatar sua relação com os netos – não apenas Nicholas e Cameron, mas também Ziggy. Aliás, os diálogos dela com Jane responderam pelos melhores momentos desse capítulo. Se seguir por essa linha, apostando mais nos laços afetivos e menos no lado policialesco, é capaz que essa temporada se recupere.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)

Grade crítica