Black Mirror :: T02 :: White Christmas
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Charlie Brooker
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Carl Tibbetts
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White Christmas
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2014
-
Reino Unido
Crítica
Leitores
Sinopse
Joe Potter e Matt Trent estão abrigados, e aprisionados, em uma pequena cabana no meio da neve. Joe acorda em um dia de Natal e encontra Matt preparando uma ceia natalina. Matt tenta fazer com que Joe fale sobre o que o levou até lá, assunto este que Matt diz que eles nunca discutiram nos cinco anos em que estiveram juntos. Joe fica relutante em dizer qualquer coisa e ao invés disso pergunta o que trouxe Matt até lá. Feliz pela conversa, Matt começa a contar sua própria história.
Black Mirror
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Crítica
Se existe uma tônica em Black Mirror, renomada série de seu gênero, provavelmente ela trata dos maiores temores do ser humano: a solidão e/ou a incapacidade de comunicação com seus pares. No quarto episódio da segunda temporada deste sucesso britânico conhecido por expandir universos e às vezes esquecer-se de amarrar peças simples do roteiro, temos um trágico capítulo de Natal que acompanha três narrativas independentes, e igualmente desagradáveis, altamente relevantes e desenvolvidas com destreza por Carl Tibbetts (Retreat, 2011) e pelo roteirista e criador Charlie Brooker.
Os protagonistas são apresentados num protótipo tecnológico de masmorra. Lá, Matt (Jon Hamm) está em incessante busca por um diálogo amigável com Joe (Rafe Spall). Este se mostra relutante. Aos poucos, o espectador se envolve numa história em que todos os passos convergem para a manipulação da mente alheia, num questionamento acerca dos limites da evolução digital em nossas vidas.
De todos os contos até aqui, este é o que mais provoca angústia frente ao poder do Estado, somado à tecnologia, para o controle da coletividade. Os protagonistas estão presos num limbo virtual. As justificativas? Matt era um galante conselheiro amoroso – aos moldes de Hitch: Conselheiro Amoroso (2005) e semelhante ao personagem que Hamm já interpretara em Mad Men (2007-2015) – contratado por homens sem confiança para lhes auxiliar nas paqueras. O processo era feito por meio das câmeras oculares, artefato já experimentado no episódio The Entire History of You, da primeira temporada, com Toby Kebbell. Num desses casos, Matt testemunha um assassinato e é julgado como cúmplice. Já Joe não soube lidar com um bloqueio literal, oriundo de um novo aparato da ciência que permite aos indivíduos inibirem a imagem de alguém em particular. Qualquer pessoa bloqueada apenas visualiza um vulto de quem lhe penalizou. Os problemas conjugais de Joe lhe fizeram cometer erros irreparáveis. Ele executou outro ser humano, algo que nessa sociedade futurista não somente é imperdoável, como também digno de tortura.
Interferências dos sistemas à parte, outra história também se desenrola por intermédio de Matt. Greta (Oona Chaplin) contrata um serviço de inteligência capaz de controlar a casa de acordo com suas preferências. Um tipo novo de residência inteligente. Só que para isso será extraído um cookie de seu cérebro, que ficará responsável por todo o trabalho. Essa cópia está presa num universo paralelo e vive eternamente servindo às predileções da matriz. Mergulhando o espectador num túnel de claustrofobia, White Christmas simboliza um tempo de controle, de possibilidade de intrusão e de abolição da privacidade tal qual a conhecemos hoje.
Aqui, o espectador explora mais abertamente a pena eterna, imposta à versão física ou digital dos condenados. Também experimentamos a rejeição e a dissuasão de um direito básico: a comunicação livre. Mesmo que de forma exagerada, Brooker se permite, pela primeira vez até o momento, criar um universo mais cruel possível e de forma competente, vide a inexistência de furos de roteiro e a coerente direção de Tibbetts. Se o charme do programa é induzir a uma reviravolta surpreendente, algo que não falta no episódio, aqui se torna algo ainda mais chocante, pois o ambiente, com forte impacto estético da fotografia de George Steel (Peaky Blinders, 2013), desestrutura a noção de realidade e provoca um turbilhão de inquéritos reais.
Caso o desenrolar da trama não tenha sido suficientemente traumático, ao final somos convidados a reavaliar tudo desde o início, e isso torna as indagações ainda mais dolorosas. Nesse pesadelo pré-natalino, Black Mirror discute os desdobramentos mais sórdidos e arrepiantes da tecnologia, com imaginação invejável. Se nesse lugar temos a desumanização da justiça, também vivenciamos um mundo próximo e crível. Mais uma vez, a produção contrasta a visão de futuro com os constantes upgrades de nossos tempos, ao passo em que provavelmente não teremos como escapar dessa elegante ascensão de melhorias das corporações e dos grupos sociais.
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