Sinopse
Cooper deixa sua casa para viajar pelo mundo enquanto continua ignorando os telefonemas de sua mãe, sentindo-se incapaz de conectar-se a ela depois que seu pai faleceu após desenvolver Alzheimer. Em Londres, Cooper encontra-se e passa a noite com Sonja, uma jornalista de tecnologia. No dia seguinte, ele descobre que seu número de cartão de crédito foi roubado, ficando sem dinheiro para uma viagem de volta. Ele volta para a casa de Sonja e ela lhe mostra seu Oddjobs, um aplicativo que lista empregos. Ele vê um, nas proximidades, relacionado a uma companhia de videogames, SaitoGemu.
Crítica
Um cara foge de casa e de seus problemas para “se encontrar”. Viaja pelo mundo, conhece outras culturas, e tudo isso é mostrado com economia através de uma montagem rápida das fotos que o mochileiro foi fazendo pelo caminho. Porém, logo antes de voltar para o lar ele se descobre sem dinheiro. Usando um aplicativo que encontra pequenos serviços locais para pessoas que precisam de grana imediata, ele acaba se submetendo a uma empresa de videogames que está testando uma nova tecnologia de realidade virtual. Um chip é implantado na sua nuca e ele passa a poder enxergar, escutar e interagir com criações digitais. Levado pelos programadores para um casarão gótico no meio do nada, o turista tem de passar uma noite no local experimentando seja lá o que o jogo tiver preparado para ele.
Essa é a estrutura de Playtest, que basicamente usa a tecnologia como desculpa para criar um conto de horror. Todos os elementos de uma narrativa do tipo estão lá. Cooper (Wyatt Russell) é um protagonista carismático, mas cheio de traumas e problemas com os quais evita lidar – e que, claro, serão explorados pelo horror que o aguarda. Há o indício de uma grande conspiração e mesmo o velho e bom clichê da mansão mal assombrada – que aqui é assombrada apenas pelo que estiver na cabeça do usuário. E pontos sejam dados, pois o episódio se utiliza muito bem desses lugares comuns, fazendo um bom trabalho ao, primeiro, deixar o espectador se afeiçoar ao mochileiro e sua jornada, somente para depois ir colocando obstáculos em seu caminho.
Dirigido por Dan Trachtenberg, que já tinha se saído muito bem na estreia à frente de longas com o excelente Rua Cloverfield 10 (2016), este segundo episódio da terceira temporada de Black Mirror (primeira a ser produzida pela Netflix, vale apontar), foge apenas um pouco àquela questão que tornava as primeira temporadas tão interessantes em seu conceito. Lá, a maneira como a tecnologia interferia na vida dos personagens era orgânica. Ou seja, eram já normatizadas na rotina social que, de alguma forma sombria, se voltavam contra as pessoas e seus interesses – ao menos no que entendemos na nossa atualidade como interesses, pois às vezes a parte chocante era justamente descobrir que a tecnologia corrompeu alguns traços do caráter social.
Aqui não, embora se trate de um conto de horror bem dirigido e repleto de bons sustos e atuações, Playtest é demasiadamente exclusivista. Não parece algo que poderia acontecer com qualquer um de nós, e, portanto, não impacta tanto quanto poderia. Imagine se, por exemplo, o jogo já fosse algo comum em todas as casas, e então os mesmos problemas surgissem justamente por Cooper ser traumatizado? É só uma sugestão, não para “melhorar” o episódio, já que isso é subjetivo, mas para trazê-lo mais próximo do conceito que movia seus antecessores.
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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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