Crítica


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Sinopse

Em um futuro com elementos distópicos e pós-apocalípticos, Stripe, um soldado de uma organização militar, que caça e extermina mutantes conhecidos como "baratas". Quando seu esquadrão, que também inclui sua amiga e parceira "Hunter" e a líder Medina, encontra baratas, Stripe mata dois deles. Apesar de ganhar elogios por seu desempenho, ele começa a se sentir diferente após o contato com esses seres.

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Crítica

Em Men Against Fire, o exército é equipado com uma tecnologia revolucionária para lograr êxito mais facilmente em suas missões. Implantes cerebrais permitem que os soldados visualizem plantas-baixas de possíveis locais de ação, que se conectem com drones, tendo o olhar momentaneamente substituído por imagens geradas artificialmente e à distância, entre outros fins puramente bélicos. O protagonista deste episódio de Black Mirror é Stripe (Malachi Kirby), militar na expectativa de sua primeira missão de extermínio de "baratas", como são chamados os humanoides com características monstruosas que supostamente assolam vilas e ameaçam a existência humana na Terra. Logo na primeira incursão, duas mortes que lhe valem horas de prazer no sono. Neste mundo desenhado pelo roteirista Charlie Brooker, assassinato se compensa com simulação do prazer físico, de preferência a sensação de transar com a pessoa amada.

Em princípio, parece que Men Against Fire vai ficar detido justamente no percurso de adaptação de Strike à nova realidade. Ele, de certa maneira, representa o espectador, já que sua incursão no grupo de extermínio, ao mesmo tempo, nos mostra a configuração social vigente e a equivalente tecnológica que a altera. Todavia, ser atingido por um dispositivo estranho em pleno combate não estava nos planos do milico, bem como ter oscilações na “máscara”, denominação do conjunto de gadgets que literalmente turvam a visão dos voluntários à verdade. Quando o véu da manipulação oficial cai, passamos a entender a perversidade por trás da dinâmica militarista em curso. Tudo não passa de um mecanismo de limpeza étnica, bem ao gosto dos covardes que pregam supremacia racial ou algo que a valha como bandeira. Possibilitada pela tecnologia, a realidade, moralmente falando, nos é próxima.

Num sentido, Men Against Fire aborda a institucionalização da discriminação, como se determinados grupos devessem ser extirpados do planeta por apresentar esta ou aquela particularidade. A grande sacada do episódio, uma vez deflagrada a influência pela qual passam os homens e mulheres dotados de permissão para matar as “baratas”, é estabelecer um dilema ético, fazendo dele o grande fardo a ser carregado pelo protagonista. Afinal de contas, a culpa decorrente da investida anterior poderia, em tese, ser amenizada pela sensação de ignorância. Quem desconhece o que está fazendo, via de regra, não tem condições de assumir responsabilidades. Strike demonstra nojo do exército, do controle da entidade sobre seus componentes. Todavia, essa é uma armadilha engenhosa, habilmente construída pelo diretor Jakob Verbruggen para fazer do desfecho outra camada dessa discussão ampla.

Strike, antes de vítima, como os caminhos do episódio nos querem fazer crer, é um agente altamente comprometido com o status quo, mas por conta de sua alienação. Men Against Fire reflete a respeito da xenofobia, uma vez que os perseguidos são estrangeiros, obviamente. A mediação da tecnologia é posta absolutamente em xeque, uma vez que se confere aos softwares e hardwares o benefício da confiança incondicional. Pessoas se comunicam por meio de tradutores eletrônicos (como saber que o resultado condiz com a fala de origem?), gente mata ao observar monstruosidades (como acreditar no que os olhos modificados veem?), em suma, como viver num mundo boa parte edificado por imagens e sons projetados a partir de máquinas e virtualidades suscetíveis à autoridade e às arbitrariedades demasiadamente humanas? É uma distopia longínqua, mas suas implicações estão perigosamente próximas.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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