Crítica


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Sinopse

Amy e Frank são duas de muitas pessoas em um Sistema que são instruídos por uma companheira digital: a Assistente. Essa tecnologia promove relacionamentos românticos. A assistente determina quanto tempo os parceiros podem ficar juntos, coleta seus dados e os ajuda a encontrar sua "alma gêmea". Amy e Frank só são organizados por um curto período de tempo, antes de serem emparelhados com os outros. Depois de alguns breves encontros, Amy e Frank percebem que se apaixonaram e tentam se rebelar contra a Assistente e o Sistema.

Black Mirror


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Crítica

Numa exacerbação fictícia dos aplicativos de relacionamento atuais, em Hang the DJ existe um mundo à parte, no qual pessoas se submetem aos desmandos do Sistema que visa aproximar solteiros, fornecendo-lhes experiências sentimentais das mais diversas. Enclausurados entre muros, embora o ambiente não pareça ser espacialmente tão restrito, vigiados de perto por capangas, os moradores seguem cegamente os desígnios do aparelho denominado “conselheira”, que diz quando, onde e com quem serão seus próximos encontros amorosos. Além disso, a validade do vínculo também é calculada de acordo com algoritmos, situação agravada pela impossibilidade de burlar as regras. Os protagonistas do quarto episódio da quarta temporada de Black Mirror são Amy (Georgina Campbell) e Frank (Joe Cole), que desfrutam de uma brevíssima interação repleta de hesitações, dúvidas e encantamento quase imediato. Sem sexo, nem beijo, eles se separam.

A genuinidade desse laço que se cria, a despeito das 12 horas em que o homem e a mulher passaram juntos, se estabelece de maneira simples. Contrapõe-se, por exemplo, ao comportamento do par seguinte dela. O rapaz bem apessoado age como se fosse autômato, completamente absorvido pela mecanicidade do Sistema, ao qual se voluntariou. Depois do sexo repleto de excitação, ao contrário de Frank, que se vê numa relação duradoura com alguém que obviamente lhe despreza desde o primeiro olhar, a rotina sufoca o encantamento. Hang the DJ extrai sua força narrativa dos detalhes, como a mania do namorado de Amy, antes algo simplesmente corriqueiro, adquirindo status de fator complicador em decorrência do estado geral de uma convivência sem amor. Ela pega na mão dele, buscando afeição. Ele entende isso como carência física e lhe oferece sexo oral. Prazeroso, sem dúvida, mas vazio.

Hang the DJ é conduzido por Tim Van Patten, experiente diretor com uma folha corrida invejável de trabalhos prestados, especialmente, à televisão. Ele esteve à frente de diversos episódios de Família Soprano (1997-2000), Sex And The City (1998-2004) e Game of Thrones (2011-), para citar as mais premiadas. Essa bagagem fica evidente na encenação sem firulas desnecessárias, focada nos pontos essenciais do enredo, principalmente na constatação de que, ao contrário do apresentado pelo aplicativo, provavelmente Amy e Frank devem permanecer unidos. Um ponto importante de virada é justamente quando, por obra do Sistema, a eles é dada a possibilidade de curtir novamente um ao outro. A curiosidade surge como um dos sintomas das inseguranças humanas que frequentemente colocam a perder elos aparentemente inquebrantáveis. Aqui a beleza do romance se intensifica gradativamente.

Na contramão de boa parte dos episódios de Black Mirror, Hang the DJ apenas enganosamente apresenta uma sociedade duramente controlada por inteligências artificiais e o que as valham. Em meio a questionamentos subjacentes sobre amores líquidos, encontros e desencontros, paira uma estranheza sintomática, embora a sutileza de tal anomalia seja construída com habilidade suficiente para não chamar demasiadamente a atenção do espectador à verdade por trás de tudo aquilo. No fim das contas, estamos diante de uma pequena e romântica ode aos rebeldes, àqueles que, paradoxalmente, precisam afrontar a onipotência dos gadgets, renegando seus cálculos de compatibilidade, para poder encontrar pares possíveis dentre tantos. É preciso “vencer” os ditames tecnológicos para que, noutra camada, a inteligência artificial chegue a um veredito acerca de como e quem amar.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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