Crítica


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Sinopse

Castle Rock é uma cidade fictícia localizada em Maine, nos Estados Unidos. Lá, passado e presente se cruzam através das histórias de terror vividas e sentidas por seus moradores. Nesta estranha localidade, todo o universo de Stephen King se encontra.

Crítica

O quarto episódio de Castle Rock, intitulado The Box, começa com uma intensa deflagração da corrupção da cidadezinha em que a trama se passa. A prisão Shawshank, não à toa, é desenhada como um repositório de injustiças e autoritarismo. Inteligentemente, os criadores não permanecem aferrados apenas às possibilidades sobrenaturais, criando equivalentes palpáveis da maldade que circunda a localidade. O protagonista da vez é Dennis (Noel Fisher), o carcereiro que fez a ponte entre Henry (André Holland) e o prisioneiro misterioso (Bill Skarsgård). Ele caminha pelos corredores da cadeia demonstrando insatisfação quanto ao comportamento violento dos colegas e, principalmente, com relação à tendência local de fazer vista grossa para tudo de ruim que acontece nas cercanias. Essa conivência é encarada como um incentivo a toda sorte de desvios morais e de caráter. O diretor Michael Uppendahl se vale expressivamente das câmeras de segurança para mostrar a prevalência da brutalidade da lei.

The Box segue a tendência bem-vinda dos outros episódios, a de centralizar os acontecimentos num tema/personagem, permitindo que ao largo dele outros elementos e/ou pessoas também ganhem representatividade. Volta-se a falar do reverendo, pai de Henry, que morreu em circunstâncias nebulosas e, por conseguinte, há um aprofundamento na natureza do desaparecimento de outrora, com a adição de elementos novos, vide o casal de franceses considerados nazistas que viviam nos arredores de Castle Lake. Trata-se, num plano metafórico, mas também literal, de desenterrar cadáveres, de revolver a terra maculada para ajustar contas com o duro passado. Nesse sentido, a função de remover o corpo do terreno baldio para dar-lhe uma morada digna é equivalente, exatamente, ao movimento que o sujeito faz para compreender as conjunturas que o tornaram um pária ainda na infância, quando foi o principal suspeito de, após desaparecer por 11 dias, assassinar o próprio pai a sangue frio.

Outra tendência deste quarto episódio é aumentar a participação de coadjuvantes importantes, como Ruth (Sissy Spacek), que alterna momentos de perfeita sanidade e devaneios que expõem a fragilidade de sua saúde mental, e Alan (Scott Glenn), que aparentemente detém boa parte do conhecimento da verdade por trás dos fatídicos eventos que marcaram a vida das pessoas. Molly (Melanie Lynskey) tem sua relevância preservada, embora aqui diminuta, voltando a apresentar a capacidade extraordinária de ouvir/ver coisas, numa conexão profunda com a circunvizinhança. Nessa investigação em curso, empreendida por Henry para finalmente entender o que lhe aconteceu na meninice, há o encontro com Josepf Desjardins (David Selby), homem que pode estar ligado ao seu desparecimento, vislumbrado como um sujeito estranho, que coleta quinquilharias, entre elas documentos importantes. Possivelmente, há mais que essa figura possa revelar agora.

Uma reviravolta considerável no caso do prisioneiro misterioso – que possui uma ótima cena intimidando o almofadinha da administração de Shawshank que visava assustá-lo com histórias de tortura no Iraque – faz com que a trama ganhe uma atmosfera de instabilidade. Essa guinada violenta é protagonizada por Dennis, que demonstra frequentemente toda a sua insatisfação com o sistema penitenciário, sendo, inclusive, alvo de chacota da colega que ele rende na sala dos monitores, por não sorrir. Ele parece realmente à beira de um colapso nervoso, ou prestes a recorrer a medidas extremas, especialmente após saber que seus esforços para modificar o status quo podem acabar frustrados por algo que não lhe diz respeito diretamente. Os mistérios de Castle Rock ganham contornos diversos, permanecendo fundados no imponderável, sendo este de natureza humana e, talvez, sobrenatural. O que sobressai, no entanto, é a habilidade de fazer as pessoas o centro de tudo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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