Crítica


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Sinopse

Idealista, a professora Sanna é transferida para uma escola no campo. A instituição, fechada há 40 anos, foi palco de uma tragédia no passado.

Crítica

O quinto episódio da antologia norueguesa Coletivo Terror mais parece um apanhado de lugares-comuns enfileirados e sem muita personalidade. Senão vejamos. Há a forasteira que rapidamente tem perturbada sua aclimatação supostamente perfeita a uma cidadezinha. O máximo que nos é oferecido da subjetividade de Sanna (Ellen Bendu) é que ela “precisou” de uma mudança apenas depois de um ano lecionando em Oslo, a metrópole bem mais agitada. A partir daí a protagonista desempenha o papel esquemático. Movida pela vontade de desvendar um mistério, lança luz sobre uma história (boato?) que aconteceu há mais de 40 anos nas cercanias. Se a cidade é conivente, se sepultou a ocorrência deliberadamente, se calou pelo decurso do tempo, nada disso é colocado à disposição do espectador. Trata-se de uma jornada bastante burocrática.

Assim como em Três Irmãos Loucos, Uma Escola Antiga lança mão de toda a sua artilharia "pesada" nos últimos momentos, investindo demasiadamente no plot twist como forma de ressignificar uma trama que anteriormente transcorre de forma banal e sem brilho. O diretor Atle Knudsen segue, efetivamente, uma cartilha nesse conto que ensaia mergulhar no macabro, mas que derrapa feio em virtude da deficiência da construção atmosférica. Primeiro, temos a estranha ao local novo, logo apresentada a uma lenda urbana; a felicidade da mulher cede aceleradamente à apreensão; pessoas aparentemente sumidas retornam à luz para lhe oferecer pistas; vozes de crianças emanam do porão de uma instituição de ensino fechada há décadas (equivalente à casa mal-assombrada); e cada cidadão consultado fornece uma pista para esse quebra-cabeça.

Basicamente, é delineado um mero acompanhamento da protagonista pelas sendas dos relatos tangentes ao desaparecimento de crianças nos anos 1970. Em momento nenhum isso é relacionado ao fechamento da escola – evento frequentemente sublinhado –, tampouco outros moradores vêem o tal zelador a quem todos imaginavam ter morrido, uma peça essencial para que as coisas se encaixem, uma assombração viva. O roteiro tem uma série de soluções fáceis, sendo sintomática disso a frequência dos diálogos simplesmente expositivos, acintosamente utilizados na direção de fazer as conjecturas ganharem sentido. Falta a construção de uma atmosfera genuína de instabilidade, bem como são da ordem do ordinário os jump scares que tentam desenhar uma relação de desassossego com esse meio asséptico pelo qual a professora circula diariamente.

Outro exemplo crasso da conveniência que perpassa integralmente Uma Escola Antiga é a senhoria da protagonista que, não contente em esclarecer suas dúvidas e apontar caminhos artificialmente, ainda se mostra uma conhecedora de magia assim que certo artefato sugere direcionamentos à resolução do enigma. Entretanto, o que sobrepesa negativamente nesse episódio é realmente a utilização precária de estereótipos e arquétipos, assim como as convenções do cinema de horror, especialmente o centralizado em personagens ignorantes quanto ao passado de uma localidade, transformados pelas circunstâncias em figuras centrais ao desembarace. A descoberta das ossadas a centímetros da superfície, num local de acesso amplo, também sinaliza a pouca disposição de Atle Knudsen, tanto pelas sutilezas quanto pela verossimilhança dessa história.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.