Crítica


7

Leitores


1 voto 8

Sinopse

Incumbido da difícil missão de solucionar o caso do assassinato de um menino de 14 anos, o promotor Andy Barber precisa encarar uma reviravolta dolorosa quando seu filho, Jacob, é apontado como um dos principais suspeitos.

Crítica

Você poderia afirmar que a sua era uma família feliz?”, pergunta o advogado para Andy Barber (Chris Evans), seu igual em profissão. Tão acostumado a acusar, esse agora se encontra em posição adversa – ao invés de pedra, é vidraça. É chegada a sua vez de responder às perguntas que lhes são feitas. O semblante derrotado, de entrega e consternação, afasta qualquer leitura positiva a respeito do questionamento que lhe é feito. Mas sua resposta é incisiva: “sim, nós éramos uma família feliz”. O que teria acontecido, portanto, para se ir de um extremo a outro? É nesse ponto em que a série Em Defesa de Jacob, no seu episódio piloto, dá um pulo de dez meses, deixando o prólogo para trás e retornando esse tempo para que as explicações devidas possam ser dadas. E pelos oito capítulos dessa primeira temporada, é fácil deduzir que será disso que a trama irá se ocupar. Um recurso não dos mais originais, mas, ainda assim, eficiente o bastante para prender as atenções e instigar as curiosidades envolvidas. Um passo calculado, mas de eficiência comprovada, afinal.

Andy é o tipo de homem satisfeito com a posição que ocupa como pai e esposo. Acorda cedo, mas não o suficiente para impedir que a esposa, acostumada a corridas matinais, não tenha seus momentos de intimidade. Ela vai praticar seu esporte, ele levanta logo depois, preocupado em se arrumar e em oferecer os cuidados necessários exigidos pelo filho adolescente, Jacob (Jaeden Martell, em seu segundo trabalho ao lado de Evans, após o recente Entre Facas e Segredos, 2019). Quando Laurie (Michelle Dockery, de Downton Abbey, 2010-2015) retorna, marido e filho estão prontos para sair – um para o trabalho, o outro para a escola. Ela irá demorar um pouco mais, mas não pense que trata de uma dona de casa que passa os dias procurando o que fazer: ela também tem seu emprego, compromissos e responsabilidades fora do lar. Ou seja, uma família absolutamente normal. Ou quase isso.

A situação começa a mudar quando Jacob, durante uma atividade em sala de aula, recebe, junto com os colegas, o aviso de que o prédio será fechado e todos devem se proteger. O medo toma conta, mas é preciso manter a calma. Há a possibilidade de um atirador estar pelos corredores, ou algo pior. O garoto resolve ligar para os pais, em busca de informações. A mãe só atende muito depois, pois estava no meio de uma reunião. Quem fala de imediato é o pai, que fora chamado antes por obrigação profissional – e, por isso, já se encontra na cena do crime. Num parque próximo, um dos alunos foi encontrado morto. Assassinado. A cena não é fácil. Sabiamente, os espectadores não são confrontados com o evento em si – talvez ainda não – apenas com o resultado da tragédia. Perguntas passarão a ser feitas. Enquanto promotor público, é tarefa de Andy punir os culpados. Ele passará a atuar ao lado de policiais. E quem cometeu tamanha barbaridade precisará responder por seus atos.

O diretor Morten Tyldum (indicado ao Oscar por O Jogo da Imitação, 2014) não tem pressa em se aprofundar na investigação policial. Ele deixa claro estar mais interessado nas repercussões sobre esse incidente verificadas no seio da família Barber. Jacob demonstra indiferença, mas essa é até uma reação compreensível – segundo ele, os dois não eram próximos, tinham apenas uma disciplina em comum, não eram propriamente amigos. Laurie está mais distante, reativa, sem muita interferência. Portanto, estará sobre os ombros de Andy os efeitos de cada revelação. Na cena inicial, se encontra sozinho. É de se imaginar o que o levou a se isolar. Ele luta com sua chefe para continuar no comando desse caso, mesmo estando tendo interesses tão próximos. Falar com outros estudantes parece levar a lugar nenhum, mas uma ou outra pista podem surgir. E quando o pior dos indícios se concretiza, como ele irá reagir? O que fazer quando há uma possibilidade real do próprio filho estar envolvido no crime sobre o qual está debruçado?

Chris Evans não é um ator dos mais versáteis, é fato, mas ninguém pode acusá-lo de não ser uma presença sólida. E, portanto, cumpre com eficiência o que dele é exigido na maior parte do tempo. Nas passagens mais relaxadas, como o jantar despreocupado entre ele e o filho, porém, suas fragilidades começam a transparecer. Essas se revelam com mais intensidade quando a crise se instaura e uma miríade de sentimentos deveriam cruzar pela sua fronte, mas tudo que consegue emular é a nobreza consternada tão familiar aos fãs do Capitão América. Por ser apenas o começo, tal registro não chega a ser um incômodo. Porém, caso permaneça nesse tom, a preocupação poderá aumentar. Pelo que se vê até aqui, Em Defesa de Jacob se mostra hábil em lidar com os elementos reunidos, expondo-os com cuidado e precisão. É uma série que tem tudo para trilhar caminhos já visitados, mas que se o fizer com competência, poderá agradar na mesma proporção verificada em seus similares. Um bom drama de tribunal, aliado às verdades que apenas as mais fechadas relações familiares podem esconder – e proporcionar. As apostas, como se vê, são altas. Resta esperar para ver se irão se concretizar.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)