Crítica


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Sinopse

Ed Morris, um homem comum, é abordado por uma linda mulher sintética com um plano ilegal que pode mudar completamente a sua vida. Ele decide ajudar. Então seu mundo realmente começa a desmoronar.

Crítica

Em Crazy Diamond, quarto episódio da antologia Electric Dreams, há um excesso de signos trabalhados improdutivamente. O problema maior, desta feita, é a superficialidade. Ed (Steve Buscemi), funcionário da empresa de engenharia genética responsável por gerar almas artificiais que estofam corpos com prazo de validade, é o protagonista da vez. A adequação desse sujeito à rotina que pretende deixar para trás em breve não é desenhada ao ponto de tornar impactantes os seus ímpetos de rebeldia. Ele menciona o desejo de evadir, com a mulher, da região na qual ambos moram confortavelmente, a vontade de encarar as vicissitudes marítimas em função da urgência de quebrar o marasmo, mas tal anseio surge sem potência dramática, especialmente porque não há preocupação considerável com a densidade desses personagens supostamente à deriva. E a frouxidão se espraia para outras searas dessa aventura que transcorre bastante morosamente.

Em um par de ocasiões, Crazy Diamons sinaliza à proibição do cultivo da vida orgânica nesse futuro demarcado por uma crescente erosão litorânea. Se trata de outra característica mal burilada, senão como indício do porvir em que a vida passa a ser gerada apenas por processos artificiais, vide as menções aos bebês de proveta. O diretor Marc Munden não se empenha na costura dessas partições de modo a substanciar uma visão coerente do conjunto. Pouco disposto a lançar uma mirada cáustica, ou agridoce, a esse cenário que abriga um protagonista nada memorável, inclusive pelo fato de ser um decalque, o realizador se contenta em empilhar ocasiões, de vez em quando lançando algum questionamento pertinente, mas evitando aprofundar-se neles. Logo, todas as pretensas complexidades são soterradas pelo acumulo de sortilégios bem simplistas.

Dentro da estrutura que comporta o vislumbre de potencialidades anêmicas, a iminência do desgaste do terreno, e, por conseguinte da casa, pode ser metaforicamente atrelada à corrida contra o tempo de Jill (Sidse Babett Knudsen), criatura sintética angustiada diante da morte. Levando em consideração a irmandade quanto à inspiração – a obra do escritor Philip K. Dick –, é relativamente simples estabelecer um paralelo existencial entre essa coadjuvante e os replicantes de Blade Runner: O Caçador de Androides (1982). Porém, nesta parcela de Electric Dreams se passa muito longe de mergulhar na melancolia derivada da imediata finitude. De um ponto em diante, a trama assume um mero caráter policialesco e, como era de se esperar, um frágil dilema moral sobrepuja a observação da extinção das existências, sejam elas as orgânicas ou as postiças.

Nome mais proeminente do elenco, Steve Buscemi é restrito em Crazy Diamonds, até porque seus esforços, especialmente no sentido de criar uma figura descontente, disposta a mudar de vida para encontrar a felicidade, são tolhidos pela trajetória que apela frequentemente aos lugares-comuns. A contravenção que gera a subversão dos valores inerentes aos cidadãos obedientes, a necessidade de mentir à mulher para colocar em prática o plano repleto de perigo e senões, o envolvimento amoroso com a humana criada em laboratório, são elementos dispostos apaticamente ao longo do desenvolvimento do enredo. Essa utopia com ares de distopia acaba sendo vítima de uma indeterminação que a faz oscilar demasiadamente, quando esta não fica estagnada. Sonhos e realidades se misturam com o marasmo semelhante ao experimentado por Ed no cotidiano.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.