Crítica


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Sinopse

Os heróis continuam no encalço dos Apátridas. Sam cria uma estratégia diferente para se aproximar da líder dos revolucionários, isso enquanto Zemo segue ambíguo e o novo Capitão América está prestes a virar super.

Crítica

Já passamos da metade de Falcão e o Soldado Invernal e apenas agora a série parece que vai consolidando, aos trancos e barrancos, a sua espinha dorsal. Talvez os criadores devessem ter partido desde o início da crise humanitária capaz de gerar debates morais e éticos interessantes. Após o retorno de metade da população mundial – quando os Vingadores conseguiram desfazer o genocídio de Thanos –, natural haver numa tensão global de proporções inéditas, afinal existe menos espaço para tanta gente ocupar. Como encaixar novamente pessoas que voltaram após cinco anos de ausência? Neste quarto episódio, o ponto alto é justamente a conversa entre Karli (Erin Kellyman), a líder dos Apátridas, e Sam (Anthony Mackie). Existe um teor adulto nesse diálogo em que os dois demonstram semelhanças entre si, a despeito do antagonismo. Ela quer a paz uniformemente, mas não hesita em matar para alcançar isso. Ele tem um pensamento menos agressivo, mas, de certa forma, protege os ideais de nações segregadoras e Estados não tão preocupados com toda a população.

No entanto, Falcão e o Soldado Invernal continua projetando muitas coisas para o pouco tempo à disposição. Mais uma vez temos múltiplas ocorrências, dramas diversos se entrecruzando, satisfatoriamente no plano superficial, mas de modo contraproducente dentro de uma ideia ampla. Se na parte anterior Zemo (Daniel Brühl) sobressaiu com sua sagacidade maliciosa, aqui ele é integrado à lógica meio tortuosa de time. Aliás, esta se apresenta como uma dinâmica da série: oferecer espaço a circunstâncias/personagens potencialmente fortes e rapidamente encaixa-los num panorama que os dilui. Assim, temos uma história que se desenvolve focada especificamente no acúmulo, mais do que necessariamente na consistência dos elementos inseridos. Mesmo assim, o vilão tem ao menos duas cenas boas, a da extração de informação de uma criança com o auxílio de doces e a demonstração da ojeriza/ódio pela existência do valioso e cobiçado soro do super soldado.

A cineasta Kari Skogland fica indecisa entre fomentar a tensão e investir na envergadura dos personagens, isso em virtude da necessidade de aludir à complexidade geopolítica desse mundo que continua hostil aos desvalidos. A sequência envolvendo as guerreiras de Wakanda é somente uma desculpa para, simultaneamente, ter um episódio de embate corporal (padrão na série) e oferecer a Zemo a circunstância ideal para ganhar alforria. No mais, acrescenta pouco à dinâmica geral do programa. Também atendendo à convenção estrutural dos episódios, uma novidade é injetada espalhafatosamente como gancho à sequência. Dessa vez é a possibilidade do novo Capitão América (Wyatt Russell) ganhar a super força que caracterizava Steve Rogers. Há nas entrelinhas a confirmação da tese (antes verbalizada) de que símbolos são inúteis sem alguém valoroso para ostentá-lo. Porém, é uma situação com tantas nuances, mas que tende a ser rasteira.

Embora prazerosa de ver, cheia de personagens e gatilhos intrigantes, Falcão e o Soldado Invernal cada vez mais aparenta ser um programa intermediário cujo valor é maior enquanto peça. Faltando dois episódios para acabar, há muitas pontas soltas, conjunturas intrincadas que precisam ser resolvidas num curto espaço de tempo. Além de localizar Zemo, encontrar meios de parar os Apátridas, talvez desvendar quem é o Mercador do Poder (que, pelo jeito, tem uma importância global no que tange ao submundo), definir as posições de Sam e Bucky (Sebastian Stan) para o futuro, os idealizadores terão de lidar com outro “monstro” que eles próprios criaram na correria. Depois de fazer um movimento escuso e sorrateiro, o novo Capitão América agora tem aquilo que sempre desejou. Infelizmente, Kari Skogland não desenvolveu como poderia a vaidade dele sendo contrariada pelo insucesso em batalha. Mas, sem dúvida, a imagem do escudo vertendo sangue é bem forte.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.