Crítica


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Sinopse

A batalha em Winterfell está se aproximando. Jaime é confrontado com as conseqüências do seu passado. Uma interação tensa entre Sansa e Daenerys acontece num momento importante. Uma verdade vital vem à tona.

Crítica

Há um clima de fatalismo pairando sobre os ares gélidos de Winterfell no segundo episódio da oitava temporada de Game of Thrones. Também pudera. Com a iminência da chegada dos White Walkers, os acolhidos entre os muros do principal reino do norte se defrontam com a morte praticamente certa, com isso colocando em perspectiva a sua atuação até ali nas batalhas pelo trono de ferro. Os antigos parceiros de Patrulha da Noite de Jon Snow (Kit Harington), além do carismático selvagem Tormund (Kristofer Hivju), são os arautos, aqueles que anunciam a proximidade das ameaças. A câmera do diretor David Nutter passeia pelos espaços demonstrando o desalento impregnado em cada interação, na tristeza que se mistura com a bravura dos que não se importam de perecer se estiverem plenamente conscientes da finitude por um bom motivo.

Embora, pela estrutura apresentada desde o início, fique evidente que não teremos batalhas violentas até o momento derradeiro dessa fração da trama – e o seu final aponta, dramaticamente, para o início do evento mais aguardado do oitavo ano –, o segundo episódio é mais bem-sucedido que seu antecessor, especialmente por preparar emocionalmente o terreno às prováveis perdas que se sucederão. É bonita a reunião improvável dos inimigos anteriormente deflagrados diante de uma fogueira encarregada de quebrar a sensação de frio congelante no castelo. Esse calor efêmero, que igualmente pode ser entendido em sua carga metafórica, testemunha um acontecimento bastante significativo envolvendo Brienne (Gwendoline Christie), ao mesmo tempo reconhecimento de sua bravura e rompimento de uma regra machista que não previa cavaleiras.

Arya (Maisie Williams) concretiza um desejo manifestado timidamente nos episódios anteriores, numa cena condizente com a resolutividade de sua personagem, ou seja, sem romantismos exacerbados e com a praticidade que a urgência pede. Um componente que ganha matizes é o desgosto de Daenerys (Emilia Clarke) com a possível perda da autoridade adiante. Isso é visto, primeiro, no “julgamento” de Jaime (Nikolaj Coster-Waldau), ocasião em que sua palavra não é definitiva; segundo, na conversa repleta de tensão com Sansa (Sophie Turner); e, por fim, na revelação que o amado Jon Snow lhe faz diante da estátua de Lyanna Stark, na cripta. Ela não apresenta indícios de aceitar o direito de outrem, ameaçando perder as estribeiras se a intimidação dos White Walkers sucumbir ao plano traçado para que Bran (Isaac Hempstead Wright) sirva de valiosa isca.

Este segundo episódio da oitava temporada de Game of Thrones funciona muito bem como prefácio da guerra, a começar pela forma como cauteriza velhas feridas abertas, oferecendo-nos, inclusive, a possibilidade de relembrar importantes vínculos passados. Pode não ter apresentado alguma sequência de tirar o fôlego, ou algo que o valha, mas foi suficiente para compor uma atmosfera densa à brutalidade que se avizinha. Os personagens refletem sobre suas trajetórias antes de se colocarem a postos frente à morte, realizando velhos sonhos, experimentando sensações novas, trazendo à tona verdades inadiáveis ou comungando com outrora algozes diante de um oponente em comum. A espera que antecede a tempestade foi bem delineada, com passagens singelas, alguns respiros espirituosos e o tecido narrativo alinhado à tormenta no horizonte.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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