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Sinopse

A batalha em Winterfell está se aproximando. Jaime é confrontado com as conseqüências do seu passado. Uma interação tensa entre Sansa e Daenerys acontece num momento importante. Uma verdade vital vem à tona.

Crítica

O Inverno está chegando”, anunciava, há oito anos, o primeiro episódio de Game of Thrones. Durante esse tempo, repetidamente se reforçou a ideia de que, apesar de todas as intrigas entre os sete reinos de Westeros, o verdadeiro – e muito maior – perigo era aquele desconhecido, que permanecia ao norte da Grande Muralha. Pois bem, após nada menos do que 72 episódios, simplesmente o Inverno chegou – e mostrou-se ser bem menos permanente ou avassalador como se imaginava – ou, principalmente, como o público foi levado a acreditar durante essa longa jornada. Em The Long Night, terceiro episódio da oitava – e derradeira – temporada, muito se prometeu, as expectativas foram alçadas às alturas, porém, no que disse respeito à entrega, o resultado mostrou-se aquém do que poderia, de fato, ter sido alcançado. Falta de coragem dos realizadores ou vontade demasiada em agradar aos fãs mais cegos e fervorosos? Um pouco de ambos.

Anunciada como a menor das oito temporadas de Game of Thrones, esta contará com apenas seis episódios – um a menos do que a anterior e bem distante dos dez usuais nos seis anos iniciais. A justificativa para essa ‘encolha’ seria que estes capítulos finais seriam de proporções épicas e, portanto, se gastaria mais para produzi-los. Portanto, a solução para não estourar o orçamento seria gastar a mesma quantia com a qual antes se faria uma dezena, em quase a metade desse número. No entanto, isso não tem se mostrado uma verdade. Após dois segmentos iniciais em que muito pouco aconteceu – e se falou em excesso, dando vazão a falsos cenários de despedida que, obviamente, acabaram não se confirmando – este terceiro chegou com ares de superprodução, mesmo que o seu desenrolar não tenha confirmado essa impressão. Com uma fotografia escura, uso quase descontrolado de close ups, e uma inabilidade quase indisfarçável em aproveitar os amplos cenários durante os confrontos noturnos, o que se percebeu, durante os seus quase 90 minutos de duração, foi um desenrolar decrescente de interesse, em que pouco acontecia, muito se anunciava e quase nada era confirmado.

Jon Snow (Kit Harington) e Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) ficaram no comando dos dragões remanescentes – pelo menos entende-se que, antes, não estavam apenas namorando em céu aberto, mas, sim, treinando o rapaz para a montaria alada – enquanto que os demais se viraram em terra firme. Sansa (Sophie Turner) e Tyrion (Peter Dinklage) lideraram os mais frágeis, que permaneceram escondidos nas criptas, enquanto que Jaime (Nikolaj Coster-Waldau) e os restantes assumiram a liderança das tropas de combate. Todos esses – e mais uns tantos, como Sam (John Bradley), Brienne (Gwendoline Christie) ou Sandor (Rory McCann) foram ‘quase’ dados como sem saída em mais de uma ocasião. O ataque do exército de white walkers (os zumbis congelados) era tão impiedoso quanto determinado. No entanto, cada vez que alguém estava nos seus últimos segundos de resistência, uma solução era tirada da manga – ou do fundo da cartola – estendendo tais ‘coincidências’ até o esgotar da paciência (e da credibilidade) da audiência. Já havia sido dado ‘adeus’ para muitos deles (no episódio anterior), e mortes trágicas e sofridas seriam necessárias para que suas consequências liderassem os vivos. Os criadores David Benioff e D.V. Weiss parecem não acreditar nisso, preferindo manter cada um dos favoritos do público bem vivos, independente do quanto a verossimilhança tenha sido sacrificada.

Duas personagens, no entanto, garantiram um interesse mais qualificado. São elas a sempre surpreendente Arya (Maisie Williams), que mostrou, mais uma vez, ter uma das jornadas – e propósitos – mais bem construídos de toda a saga, e Melisandre (Carice van Houten), que após ter sido vista pela última vez em The Queen’s Justice (T07 E03) retornou com toda a pompa e circunstância para mostrar o seu real valor. As conjurações da feiticeira vermelha garantiram algumas das passagens mais emocionantes desse capítulo, justificando com efeito a sua presença. Sua despedida fechou um ciclo de muitos anos, feito de forma inteligente e de imenso equilíbrio. Ao contrário do verificado no envolvimento de Bran (Isaac Hempstead Wright), que pouco vez além de permanecer sentado de olhos fechados – ou estariam tão abertos que nem sequer foi possível compreendê-los? Ele até poderia saber de antemão tudo que aconteceria, mas faltou uma sintonia maior com a plateia para que fizesse sentido a tal calma aparente.

Para a direção deste que prometia ser o capítulo mais enérgico da temporada, foi chamado Miguel Sapochnik, vencedor do Emmy e do DGA por A Batalha dos Bastardos (T06 E09), e que além de ter dirigido séries como True Detective (2015) e Altered Carbon (2018), tem entre seus projetos futuros o novo longa de Tom Hanks (BIOS, previsto para 2020). Credenciais para coordenar The Long Night ele tinha de sobra, portanto. No entanto, lhe faltou acesso a uma das figuras mais emblemáticas do programa: a rainha vingativa Cersei (Lena Headey), que permaneceu em King’s Landing, apenas aguardando pelo desfecho desse conflito. Somente a sua ausência já seria suficiente para garantir que nada que fosse acontecer aqui seria, de fato, definitivo. E essa previsibilidade, como tem sido uma constante, novamente se confirmou. Fez-se justiça a partir daquela que há muito tem se mostrado a mais preparada, todas as figuras-chave para o desenrolar da história permaneceram nos seus devidos lugares e as únicas partidas foram daqueles, enfim, descartáveis. E com apenas três capítulos para o fim definitivo, não será surpresa nenhuma se a mesma estratégia inicial for confirmada: mais dois de muita falação, e um – ao menos espera-se – em que tudo será decidido. Para o bem, ou, como tem se anunciado, para o mal.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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