Crítica


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Sinopse

Com Porto Real reduzida a cinzas, Daenerys tem tudo para começar um novo e próspero reinado.

Crítica

Havia desfechos praticamente telegrafados, portanto facilmente antecipáveis, isso antes mesmo do início do último episódio de Game of Thrones, a julgar pelos acontecimentos pregressos e definidores vistos em The Bells. O principal deles dizia respeito à missão que cabia tão e somente a Jon Snow (Kit Harington), o duro sacrifício de seu coração em função do bem estar alheio, dos súditos que, no fim das contas, não seriam seus. Mas, sem a bonita reação do dragão, que lamenta a ausência da “mãe”, o momento aguardado seria outro excerto anticlimático dessa tão problemática oitava temporada. A subsequente insurreição dos Imaculados, atitude que muda regras em Westeros e determina o futuro do assassino de ocasião, foi desenhada com boas doses de exagero. Ainda que eles detivessem a força bruta, não é difícil imaginar que as coisas poderiam ser diferentes, isso se não articuladas a fórceps para gerar o isolamento dos irmãos Stark e de seus caminhos.

A grande figura dessa jornada derradeira, um tanto morna e burocrática, foi o carismático Tyrion (Peter Dinklage), que andava meio apagado, pois ao largo das maquinações centralizadas na disputa entre as rainhas tiranas e nos amores melosos que prevaleceram tortuosamente nos movimentos crepusculares de uma das séries mais aclamadas dos últimos tempos. O único Lannister sobrevivente da linhagem direta de Tywin proporciona a cena mais emocionalmente forte da despedida, chorando intensamente diante dos corpos soterrados dos irmãos que verdadeiramente se foram depois de um desabamento. Mesmo tendo uma coleção de problemas com sua estirpe, diante da solidão efetiva ele desaba copiosamente, deixando à mostra, novamente, a complexa urdidura de um personagem reconhecido por sua inteligência e perspicácia, que chega, inclusive, a verbalizar um resumo de seus infortúnios pessoais ante à possibilidade de ser aniquilado.

Outro pilar desse episódio final é a distribuição dos herdeiros Stark por espaços em que efetivamente podem exercitar suas naturezas sem tantas cobranças e sinas impostas. Surpreendentemente, Bran (Isaac Hempstead Wright), aclamado o novo monarca dos sete reinos, acata a punição ao irmão e rubrica seu novo banimento à muralha, enquanto Sansa (Sophie Turner) e Arya (Maise Williams) assumem, respectivamente, a coroa e o desbravamento de mares em busca de aventuras. Claramente os showrunners David Benioff e D.B. Weiss, aqui também diretores, reforçam o legado e a importância do reino nortenho, fazendo dos filhos de Ned o fundamento de um encerramento relativamente bem-sucedido, isso se observadas as devidas ressalvas quanto ao teor conciliatório que até os castigos carregam consigo. Mas, a julgar pelos rumos apontados nas frações anteriores, foi um alívio não existir qualquer reviravolta melodramática para que tudo acabasse sem nódoas.

Game of Thrones perdeu densidade à medida que se tornou fenômeno global, tendo de agradar uma gama heterogênea de espectadores. A sensualidade e a brutalidade, presentes nos quatro primeiros anos, deram lugar a acabamentos controversos e direcionamentos tão frágeis quanto apressados. Dispondo os sobreviventes matematicamente de acordo com suas habilidades, David Benioff e D.B. Weiss surpreenderam apenas ao não colocar Jon Snow como herói intocável que governaria de forma justa e inconteste os sobreviventes. Ainda assim, a muralha lhe é tão familiar quanto Winterfell e, como se vê nos últimos minutos, o cuidado com o povo livre também cai como uma missão digna a quem demonstrou, durante oito anos, ser moralmente apto a sentar no trono de ferro. Pena que, ultimamente, ele foi reduzido a uma versão folhetinesca e rasa de si, assim sendo um sumário da imensa empreitada da HBO a partir dos livros de George R.R. Martin.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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