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Sinopse

Halston se tornou um estilista lendário. Ele construiu um império da moda, caracterizado nos bastidores por luxúria, sexo, status e fama, definindo a Era dos anos 1970 e 1980, em Nova Iorque.

Crítica

Ao ser apontado como “celebridade das celebridades”, é possível que a percepção gerada seja equivocada. Veja bem, Roy Halston Frowick, que ficou conhecido apenas pelo nome do meio, era um tipo único, e se não chegava a ser reconhecido do feirante ao presidente, conseguiu cavar um espaço próprio na cultura popular. Sua fama girava, principalmente durante o seu auge, nos círculos mais fechados do universo pop – algo que foi perdendo ao longo dos anos, ao mesmo tempo em que trocava esse status por um mais corriqueiro. Ou seja, era célebre entre os famosos, mas também se aproximou da dona de casa. Por isso, contar sua história e revelar seus altos e baixos não era um aposta das mais óbvias. Por mais que sua biografia tenha sido tema de um documentário (Halston, 2019), para que uma versão ficcional fosse viável, com nomes de destaque e uma plataforma que oferecesse a notoriedade necessária, era preciso um nome de peso no projeto. Quis a sorte – ou o azar – que este fosse o do produtor Ryan Murphy, que por mais distintas que sejam as obras que, de uma forma ou de outra, contam com a sua participação, todas acabam recebendo a mesma assinatura. Ou seja, se tornam iguais, para o bom e, principalmente, para o pior. O que é, mais uma vez, o que se verifica em Halston, a minissérie.

Realizada como parte de um pacote de atrações encomendadas a Murphy em seu contrato com a Netflix, Halston soa não muito diferente de títulos como Hollywood (2020) ou Ratched (2020), também inseridos no mesmo acordo. Seja pela jornada de início difícil, sucesso além do imaginado e declínio inesperado, ou pelo uso de elementos de fácil potencial expositivo, como sexo, drogas e glamour, o que se vê é um painel mal construído de um homem que saiu de uma origem humilde para se tornar referência dentro de um mundo de luxo e ostentação. Nesse sentido, o uso das cores, seja no figurino ou na escolha e decoração de cenários e interiores, é o que melhor alcança o efeito esperado. Mesmo assim, até esse se dá de forma impositiva, exagerada, como se sutileza fosse não mais do que uma expressão desconhecida: tudo é explícito, escancarado, repleto de tons chapados, sem nuances ou matizes. Exatamente como a abordagem sobre os acertos, ganhos e derrotas de uma personalidade tomada por conflitos.

O que não quer dizer, também, que os mesmos sejam investigados do modo como talvez merecessem, com cuidado e atenção. Pelo contrário, não só ganham o centro do quadro, pelas ações dos personagens, como também dominam os discursos, através de diálogos por vezes desnecessários, na maioria das vezes redundantes. Halston tem a sorte, ao menos, de estar sendo defendido por um ator comprovadamente talentoso – Ewan McGregor está visivelmente comprometido com a intenção de dotá-lo de alguma profundidade, mas o material que tem pela frente é por demais limitado para que consiga fazer diferença – por mais que, na soma dos fatores, esse seja um detalhe dentre tantos desacertos. Os flashbacks a respeito de sua infância, por exemplo, respondem por algumas das passagens mais constrangedores, seja pela busca por uma explicação simplista para conjecturas mais complexas, como também limitam o alcance destas experiências, reduzindo tais conjecturas a um esquema meramente reativo, alienando-se das demais consequências.

Baseado no livro Simply Halston, de Steven Gaines – autor que escreveu sobre outros ícones do mesmo período, como os Beach Boys e o Studio 54 (casa noturna que, aliás, tem relevância também nessa trama), a minissérie de apenas 5 episódios tem, em cada capítulo, uma estrutura bastante didática, como que organizados a serviço de uma narrativa que apela mais a um entretenimento instrutivo e menos a uma ideia de provocação e originalidade. Tornando-se Halston, Versailles, O Doce Cheiro do Sucesso, Fim da Festa e Críticos são títulos que, em sua maioria, poderiam servir a qualquer outra ascensão tão meteórica quanto fugaz – à exceção, talvez, do segundo, justamente aquele que tem, em seu enredo, os elementos necessários para nele conter os pormenores exigidos para que o biografado fosse visto sob diversos aspectos. Ou seja, caso a abordagem tivesse sido específica, direcionada e construída a partir de um momento em particular para oferecer um olhar sobre o todo, esta seria a situação ideal: quando Halston foi colocado à prova e seu talento precisou ficar acima de suas excentricidades e manias.

Sim, pois Halston era mais do que um mero estilista: seu nome se tornou sua própria marca. Do começo tropeçante à inspiração para chapéus que se tornaram ícones nas cabeças de nomes como Jackie Kennedy, da amizade com Liza Minnelli ao vício em drogas e sexo com prostitutos, cada um desses passos tem singular relevância em sua caminhada. O que o seriado conduzido com mão pesada por Daniel Minahan (vencedor do Emmy por sua parceria anterior com Murphy, American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace, 2018) se ocupa na maior parte do tempo, no entanto, é mais em seguir o be-a-bá de qualquer cartilha do gênero, com trechos supostamente polêmicos, desavenças que irão gerar repercussões mais adiante e ganhos ao acaso, mas suficientes para comprovar habilidades que acreditam estar acima do bem e do mal. Uma vida de excessos não chega a ser novidade, ainda mais inserida num contexto como o que aqui é retratado. E se a questão do protagonista ser assumidamente gay, tanto em sua postura diante o mundo como em seus relacionamentos pessoais, talvez servisse de combustível para outras ousadias e permissividades, é o oposto que se verifica: algo até comedido, que só deverá surpreender os mais ingênuos.

Mais uma vez, portanto, o que Ryan Murphy e sua equipe fazem é partir de um assunto que prometia e esvaziá-lo a ponto de torná-lo quase irreconhecível. McGregor e alguns poucos do resto do elenco, como a revelação Krysta Rodriguez (Daybreak, 2019), essa no papel de Minnelli, ou Bill Pullman, como o empresário que apostou nele até mesmo quando o próprio sabotava a si mesmo, são pontuais exceções de um conjunto que deixa claro estar se esforçando em criar distrações que consigam esmaecer o óbvio: uma total apatia por uma figura tão controversa quanto curiosa, pela qual não conseguem se aproximar, e nem criar distância bastante que lhes possibilite uma reflexão desprovida de julgamentos e encantos passageiros. Além, portanto, de não fazer jus às criações do artista – onde estão os desenhos e peças que fizeram sua fama? – Halston é também redutor em relação ao homem que estava por trás de tudo isso. Fogos de artifício, que até fazem barulho por um ou dois segundos, mas logo desaparecem, não deixando nem mesmo suas impressões.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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