Crítica


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Sinopse

É aniversário de 60 anos do professor de filosofia Greg. Ele está deprimido, mas sua esposa, Audrey, está apenas preocupada com a festa que irá dar à noite para comemorar a data. Seus quatro filhos estarão presentes - Ramon, um rapaz gay que nasceu na Colômbia, Duc, um psicólogo nascido no Vietnã que vive em celibato, Ashley, uma publicitária nascida na Líbia que trai o marido, e Kristen, a adolescente virgem que é a única filha natural do casal. Porém, quando um deles passa a ter estranhas visões, descobrir o que está acontecendo com ele passa a ser uma missão de todos.

Crítica

O nome de Alan Ball é mais conhecido ou pelos dramas familiares de Beleza Americana (1999) – que lhe valeu o Oscar de Melhor Roteiro Original – e da série A Sete Palmos (2001-2005) – pela qual ganhou o Emmy – ou pelas histórias sobrenaturais de outra série-fenômeno, True Blood (2008-2014) – que lhe rendeu indicações aos prêmios dos sindicatos dos roteiristas e dos produtores norte-americanos, entre outros. E são basicamente estes dois extremos – o mundano e a perigosa fantasia – que ele tenta combinar em Here and Now, sua mais recente incursão em um programa televisivo. E pelo que podemos perceber neste episódio de estreia, Eleven Eleven, essa mistura começa a se dar de modo forçado, aos trancos e barrancos, ainda que o caminho pareça ser propício para tal encontro.

A ação de Here and Now se desenvolve no centro da família Bayer-Boatwright. Estamos no dia do aniversário de 60 anos do patriarca, Greg (Tim Robbins, demonstrando uma falta de ânimo que vai além do perfil do personagem), um ilustre escritor e professor que chegou a este ponto de sua vida completamente desiludido. O mais curioso é que ninguém ao seu lado parece perceber isso, principalmente sua esposa, Audrey (Holly Hunter, no mesmo ritmo elétrico que a consagrou em filmes como Aos Treze, 2003, e Nos Bastidores da Notícia, 1987), uma psicóloga que até reconhece a depressão do marido, mas prefere encará-la como uma fase passageira, e não um problema que mereça ser enfrentado de frente. No embate entre essas duas figuras, quatro filhos são exemplos vivos de um espírito livre e libertador que pode ter funcionado muito bem na segunda metade do século XX, mas que luta para encontrar espaço nos dias de hoje.

Os três mais velhos foram adotados, cada um vindo de uma parte do mundo. O protagonista é Ramon (Daniel Zovatto, de O Homem nas Trevas, 2016), o garoto colombiano gay que passa a enxergar os números 11:11 (daí o título do episódio) em todos os lugares, de sonhos a anúncios publicitários, como se fossem um aviso de algo que vem por aí – se será uma coisa boa ou não, ele não parece disposto a esperar. O primogênito, Duc (Raymond Lee, visto em séries como Mozart in the Jungle, 2016-2018, e Scandal, 2016-2017) é do Vietnã e seguiu os passos da mãe, porém através de um método que prega uma nova ‘arquitetura emocional’ aos seus pacientes, ao mesmo tempo em que lida com um conflito interno que o mantém resignado a um celibato aparentemente intransponível. Depois temos Ashley (Jerrika Hinton, de Grey’s Anatomy, 2012-2017), uma publicitária que nasceu na Líbia e hoje é uma mulher feroz tanto nos negócios como na sua vida pessoal – o que ela quer, vai e pega. E se no caminho o marido – e até mesmo a filha pequena – ficarem pelo caminho, bom, isso é um problema mais deles do que dela.

Por fim há a caçula, a única filha de sangue de Greg e Audrey: Kristen (Sosie Bacon, de 13 Reasons Why, 2017-2018), que ainda está formando sua própria personalidade, ao mesmo tempo em que tenta descobrir o melhor momento de perder sua virgindade. Como se vê, a maioria dos dilemas enfrentados – descoberta da sexualidade, quebra-cabeças emocionais, traições, hiperatividade e crise da meia-idade (ou até um pouco mais do que isso) – parecem bastante triviais. No entanto, há o elemento estranho, aquele que surge do além – de um mundo onírico, imaginado, ou mesmo do qual ninguém suspeita – que, aos poucos, começará a se infiltrar nas vidas de cada um desses personagens. Resta descobrir, durante os próximos nove episódios que compõem essa temporada, o quão balanceado será esse equilíbrio. Afinal, pouco irá importar o que passou ou o que ainda está para acontecer. Em conta, deve-se levar apenas o aqui e o agora.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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