Crítica
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Sinopse
Os Estados Unidos é palco de uma uma caçada aos nazistas nos anos 1970. Buscando justiça, ou mesmo pura vingança, um grupo de pessoas assumem como missão dar fim aos seus algozes sobreviventes da Segunda Guerra Mundial, que agora estão na América escondidos sob novas identidades.
Crítica
Uma das principais apostas do serviço de streaming Amazon Prime Video para fazer frente ao acapachante sucesso de sua principal concorrente, a Netflix, conta com credenciais de peso ao seu lado. Afinal, a série Hunters é produzida por Jordan Peele (vencedor do Oscar pelo roteiro de Corra!, 2017, e que já havia feito para a plataforma a nova versão de The Twilight Zone, 2019) e conta no elenco com ninguém menos que Al Pacino, em sua primeira aparição em um seriado desde sua estreia em N.Y.P.D., em 1968. É certo, por outro lado, que o namoro do astro oscarizado por Perfume de Mulher (1992) com a telinha não é de hoje – já ganhou dois Emmys, um pela minissérie Angels in America (2003) e outro pelo telefilme Você Não Conhece o Jack (2010) – mas isso em nada minimiza o impacto de vê-lo à frente de uma produção tão corajosa quanto essa. Afinal, trata-se de um programa que tem como foco o outro lado de uma história há muito conhecida: se foram os judeus as maiores vítimas do nazismo, agora é a vez de darem o troco. E pelo que se percebe nesse episódio de estreia, não falta coragem aos realizadores para que a resposta seja à altura.
Tanto é verdade que o primeiro capítulo – de um total de dez na temporada inaugural – batizado de In The Belly of the Whale (Na Barriga da Baleia, em tradução direta), conta com uma cena em particular que já vem causando polêmica (como descrito aqui): um jogo de xadrez humano, em que cada derrota era punida com a morte, em uma sequência de sadismo liderada por um oficial durante a Segunda Guerra Mundial. O impacto dessa passagem, no entanto, não é em vão: em um momento histórico como o atual, em que a extrema-direita dá fortes sinais de crescimento em todo o mundo (inclusive no Brasil, como é bem sabido), nada mais importante do que mostrar o impacto desse tipo de pensamento que privilegia apenas uns, enquanto destrói tantos outros. Aqui recorre-se a extremos, é claro, mas estamos diante de uma obra de ficção, e como tal essa possui suas próprias diretrizes: o compromisso da criatividade é com a verossimilhança dos acontecimentos, se tais situações seriam possíveis ou não – e bem sabemos o quão próximo da realidade elas foram – e não apenas com a veracidade dos fatos.
Dito isso, Hunters já começa com uma sequência de também deixa as meias palavras de lado e expõe com precisão a que se pretende: ao chegarem a um churrasco entre amigos, a esposa de um casal de visitantes reconhece no anfitrião o algoz que teria dizimado sua família durante a grande guerra. Veja bem, estamos em 1977, e as consequências do Holocausto ainda estão vivas nas mentes dos sobreviventes. O homem, ao ser acusado, não hesita e parte para uma atitude drástica, mas que não lhe causa arrependimentos: puxa uma arma e elimina todos ao seu redor, inclusive a esposa e os filhos pequenos. Afinal, tudo o que lhe importa é ‘preservar a falsa identidade que por tantos anos lhe permitiu agir escondido nos Estados Unidos. E esta é a verdade proposta pelo programa criado por David Weil, em seu primeiro projeto para a televisão: os nazistas que conseguiram fugir da Alemanha após o término do conflito se refugiaram, disfarçados, na América, mas seguem com os mesmos propósitos: acabar com a ameaça judaica.
Mas estes sabem bem o que lhes aconteceu, e dessa vez estão dispostos a revidar. Quando a avó (Jeanni Berlin, de Café Society, 2016) do jovem Jonah (Logan Lerman) é morta dentro de sua própria casa, o rapaz fica desorientado, sem saber o que fazer. O que não imaginava, ao menos não até aquele momento, é que a velha senhora fazia parte de um grupo de judeus muito bem organizados que, unidos, estavam à caça daqueles que tentaram destruir suas vidas tantos anos antes. Ou seja, sua morte não foi fruto de um assalto qualquer. Muito pelo contrário, ela estava perto de revelar o esconderijo de mais um assassino nazista. É quando entra em cena o milionário Meyer Offerman (Pacino, muito à vontade) e alguns dos seus comparsas nessa empreitada – é possível verificar a presença de figuras como Carol Kane (Unbreakable Kimmy Schmidt, 2015-2019) e Josh Radnor (How I Met Your Mother, 2005-2014), entre outros. Tomado pela angústia e por um sentimento de vingança, o garoto que até então se preocupava apenas em assistir ao novo Star Wars nos cinemas e em vender drogas leves para completar o orçamento familiar se vê tomado por uma missão muito maior. E, aparentemente, com as pessoas certas ao seu redor.
Ainda que esse primeiro episódio tenha 90 minutos de duração – ou seja, é praticamente um longa-metragem – ele funciona, basicamente, como um prólogo. Tanto é que o título só aparece quase no final, após todos os acontecimentos descritos acima – e o que vem depois, com o surgimento de uma sempre ótima – e muito bem-vinda – Lena Olin (Trem Noturno para Lisboa, 2013), serve como aperitivo para os próximos capítulos. O diretor Alfonso Gomez-Rejon alcança na televisão um resultado mais eficiente do que o verificado em sua última incursão pelo cinema (A Batalha das Correntes, 2017/19), traçando com cuidado – e coragem – as diretrizes básicas de um jogo muito mais sério a ser jogado a seguir. Poderia estar centrado apenas nos personagens adultos? Com certeza, mas como sabemos que a maior parte da audiência atual é formada por jovens, Lerman está aí justamente para criar essa identificação – e ele não se sai mal, muito pelo contrário. Agora resta aguardar para ver se conseguirá manter esse nível de comprometimento e de entrega, ainda mais diante de colegas com muito mais experiência. As expectativas, como dito lá no começo, são altas, e se parecem possuir os elementos certos para atingir seus objetivos, também podem resultar num tombo espetacular. Por enquanto, no entanto, a aposta parece segura.
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