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Sinopse

Os sobreviventes do roubo à Casa da Moeda vivem escondidos em diferentes países, sem saber a localização dos demais. Inquieta pelo longo período vivendo em uma ilha isolada no Caribe, Tóquio avisa Rio que precisa mudar de ares e, com isso, resolve ir ao Panamá. Dias depois, eles são localizados após se falarem ao celular e Rio acaba sendo preso. Tóquio então usa o código de emergência para reencontrar o Professor, que vive no sudeste asiático com a inspetora Murillo e família. Logo toda a trupe é reunida, com o objetivo de resgatar Rio. Para tanto, eles decidem realizar um assalto ainda mais ousado, ao Banco de Espanha.

Crítica

Ao criar a então minissérie La Casa de Papel, Álex Pina não imaginava seu desmembramento em continuações. Tratava-se de uma história fechada, uma brincadeira escapista com o subgênero dos filmes de assalto aliado a um forte tom novelesco e personagens pra lá de carismáticos. Foi ao ser lançada pela Netflix que ganhou popularidade mundial, ao ponto da própria empresa bancar as até então inesperadas terceira e quarta temporadas. Para seguir em frente, o showrunner seguiu a fórmula básica das sequências: maior, mais audacioso e com mais dinheiro disponível.

Este último item salta aos olhos já no primeiro episódio desta temporada, com locações em ambientes tão paradisíacos quanto distantes, como o Caribe e o sudeste asiático. Mais adiante, o gigantismo (e absurdo) desta nova história é também impulsionado pelo orçamento robusto, ao incluir sequências envolvendo dirigíveis e a explosão de um camburão blindado. E, é claro, era necessário um assalto ainda mais arriscado para superar o feito anterior.

Seguir tal fórmula não é necessariamente um problema, caso a continuação tenha por proposta não apenas trazer mais do mesmo. Conhecedor de seus elementos mais populares, Pina se dedica especialmente a reposicioná-los nesta nova aventura, em alguns momentos até forçando a barra para capturar a nostalgia do espectador - a citação ao possível uso de uma metralhadora, por exemplo -, mas sempre de forma a repetir algo que você já viu. Desta forma, no lugar de Berlim (Pedro Alonso) surge outro personagem misógino, Palermo (Rodrigo de la Serna), que também instiga conflitos na equipe. O teor feminista volta e meia é trazido à tona com a participação de Nairobi (Alba Flores), mas a série segue sendo machista na forma como trata homens e mulheres dentro da polícia - ele tem liberdade para gritar com os demais, ela é por culpa dos hormônios. Mais uma vez, relacionamentos amorosos despertam entre os reféns do assalto. E há Arturito (Enrique Arce), claro, de novo (e desnecessariamente) reinserido no olho do furacão.

O objetivo, claro, é trazer uma sensação de conforto ao espectador. Já conhecedor dos personagens e suas subtramas, não é mais necessário esmiuçar o passado de cada um deles, iniciativa esta desprezada até mesmo em relação aos novatos. O clima de família e camaradagem está mais do que nunca instaurado, e serve também como gatilho para esta nova reunião. Entretanto, mais do que resgatar Rio, o objetivo principal é escancarado pela sincera Nairobi: "precisávamos de adrenalina". Diante de tal resposta, como exigir de La Casa de Papel alguma realidade? Impossível! Se ainda duvida, repare que uma das principais vilãs desta temporada é uma detetive grávida de OITO (!!!) meses.

Álex Pina sabe bem disto e mais uma vez capricha nos imprevistos rocambolescos que Professor (Álvaro Morte) & sua trupe precisam lidar (e desembaraçar) em meio a mais um assalto grandioso, de novo auxiliado por uma edição ágil e tensa. Há, entretanto, algumas (poucas) novidades: o uso constante do flashback, até como justificativa para trazer de volta Berlim, a insegurança de Professor na condução deste novo plano - o que também instiga o risco iminente -, e a consciência da repercussão do assalto anterior. Este último é o aspecto mais interessante desta terceira temporada, por incluir como elemento narrativo o reconhecimento destes ladrões como anti-herois, em uma sociedade disposta a contestar o status quo de tão farta em ser por ele explorada. Não foi por acaso que La Casa de Papel fez tanto sucesso mundo afora.

Preso à fórmula que criou, o showrunner (e roteirista) entrega a menos criativa das três temporadas já lançadas, seja pelas reviravoltas apresentadas ou mesmo pelos novos personagens, opacos e de pouca participação. Ainda assim, La Casa de Papel segue bem competente quando precisa criar tensão em suas sequências de ação; o episódio final é um bom exemplo.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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