Crítica


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Sinopse

Loki e Sylvie são levados de volta à AVT (Autoridade da Variação do Tempo). Lá, ambos começam a tentar desesperadamente revelar aos servidores que há algo de muito errado na narrativa que supostamente os explica.

Loki


Loki :: T02


Loki :: T01

Episódio Data de exibição
Loki :: T01 :: E06 14/07/2021
Loki :: T01 :: E05 7/07/2021
Loki :: T01 :: E04 30/06/2021
Loki :: T01 :: E03 23/06/2021
Loki :: T01 :: E02 16/06/2021
Loki :: T01 :: E01 9/06/2021

Crítica

Há uma inversão crucial quanto a mocinhos e bandidos em The Nexus Event, o quarto episódio da minissérie Loki. Depois de serem largados à própria sorte num apocalipse iminente, Loki (Tom Hiddleston) e Sylvie (Sophia Di Martino) são levados de volta à AVT (Autoridade da Variação do Tempo) – alguém chegou a achar que eles iriam morrer literalmente num fim de mundo? E os prisioneiros começam a plantar as sementes da verdade. Sim, as variações do Deus da Mentira estão aparentemente do lado certo da História. Tentando abrir os olhos dos demais para o fato da organização chefiada pelos Guardiões do Tempo não ser o que parece, eles deixam de ser o perigo e se tornam os injustiçados capazes de recolocar as coisas nos eixos. Quem diria? A subversão do lado "correto" também ressignifica o espaço e as pessoas antes vistas como diligentes cumpridoras da lei. De uma hora para outra, o aparato marcado por uma lógica militarista passa a ser tido como próximo do fascismo. Isso, mesmo que a cineasta Kate Herron não faça muita força, apenas deixando a dúvida elaborar a troca de sentido, não sublinhando a rigidez, os protocolos e a inflexibilidade ali vigentes.

Mesmo que haja evolução em The Nexus Event, Loki continua exibindo uma narrativa cheia de explicações e viradas repentinas, ao ponto destas se tornarem levianas. Senão vejamos bem. Mobius (Owen Wilson) fica intrigado com a morte da colega. Passa a desconfiar seriamente das regras da AVT depois da fala de Loki num instante de desespero. Em vez de demorar-se nesse sujeito profundamente incomodado, remoendo-se em questionamentos, a minissérie resolve as coisas brevemente. Desse modo, deixa de acentuar o quão violento pode ser o processo de colocar em xeque seus pilares como indivíduo. Em função da ação, o dilema vira algo pontual. O agente acaba sendo uma peça simplória para chegarmos rapidamente à verdade e à instauração da nova ordem do conflito. A forma como esse personagem tem a confirmação de ser enganado é um exemplo crasso da prevalência do didatismo. Talvez para poupar tempo em prol da aventura, o roteiro pega um caminho fácil, oferecendo respostas exatas num equipamento que garante o esclarecimento de mão beijada. Os criadores passam por cima das tensões rumo à revelação, mirando somente nas força das tantas surpresas.

Por enquanto, Loki continua anêmico do ponto de vista da ação – poucos momentos são dignos de nota nesse sentido – e não muito mais consistente quanto ao aspecto humano. Isso acontece porque o roteiro não presta atenção às nuances e sequer dá tempo ao espectador perceber as coisas por si mesmo. Haja vista o vínculo entre Loki e Sylvie, que não tem espaço para evoluir e ser absorvido. Logo aparece alguém para traduzir os sentimentos do asgardiano para ele próprio. É mole? The Nexus Event apresenta vários conceitos que poderiam dar um gás à minissérie, mas o que pesa até contra a intensidade das guinadas é o apego excessivo ao modo “explicando para ninguém ter dúvida”. Outro desperdício é a não utilização de dois personagens essencialmente loroteiros para brincar com a validade do que dizem. Kate Herron desenha um cenário em que a dupla de variações do Deus da Mentira basicamente desmente a sua natureza. E essa contradição poderia ser bem mais interessante se fosse ressaltada ou se ambos deixassem para trás migalhas estratégicas de dúvidas.

Loki caminha a passos largos para ser somente uma peça elucidativa do Universo Marvel. Aparentemente, para os idealizadores, não há tempo a perder com a densidade emocional de Loki e Sylvie. Tampouco vale mergulhar no drama dos funcionários atravessados pela fraude que todos ali defendem como lei inquestionável. Mesmo quando, como em The Nexus Event, o conjunto evidentemente avança, é por meio de um esquemático acúmulo de novas informações. A revelação de que há podridão no reino engatilha mais correria, enquanto os efeitos sentimentais/psicológicos ficam em terceiro plano. A tão aguardada relação direta com os Guardiões do Tempo não tem a pompa imaginada. E isso funciona para involuntariamente antecipar outra descoberta anticlimática, cuja função é criar o gancho para o próximo episódio e mostrar que o buraco deve ser bem mais embaixo. Toda essa coleção de desperdícios faz com que desconfiemos até mesmo das mortes que pretensamente adicionariam tempero a esse molho sem sal e pimenta (na cena pós-créditos isso já se resolve). Claro que a pergunta “quem, diabos, está por trás disso?” cria curiosidade. Mas é pouco.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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