Crítica


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Sinopse

Se aventurando além do Vazio, Loki e Sylvie acabam encontrando o responsável pela AVT e descobrindo o que está por trás da repartição, bem como da necessidade de controlar a linha do tempo.

Loki


Loki :: T02


Loki :: T01

Episódio Data de exibição
Loki :: T01 :: E06 14/07/2021
Loki :: T01 :: E05 7/07/2021
Loki :: T01 :: E04 30/06/2021
Loki :: T01 :: E03 23/06/2021
Loki :: T01 :: E02 16/06/2021
Loki :: T01 :: E01 9/06/2021

Crítica

Pode não ser exatamente bom, mas o episódio final de Loki é ao menos coerente. Até aqui o que tínhamos visto no programa protagonizado pelo Deus da Mentira (ou da Trapaça, como queiram) foi a construção de algo que serve à introdução do Multiverso, conceito caro à continuidade do Universo Audiovisual Marvel. Portanto, uma pecinha estratégica num cenário maior. Tendo isso em vista, até faz sentido que For All Time. Always. prossiga essa noção estritamente elucidativa, passando 90% esclarecendo tudo como se os personagens (e nós) estivessem numa sala de aula. Loki (Tom Hiddleston) e Sylvie (Sophia Di Martino) finalmente conseguiram acessar o lugar perdido no fim dos tempos em que se encontra o responsável por criar a AVT e mentir sobre a origem dos servidores da repartição burocrática. E eles se deparam com o personagem vivido por Jonathan Majors, um ser de importância enorme que quebra a expectativa de pompa com sua atitude sarcástica. E esse talvez seja o grande (único?) acerto dessa parte derradeira da primeira temporada. Sim, pois a até então “minissérie” teve confirmada a produção de um segundo ano, assim se tornando uma série a ser prosseguida.

O que vemos em For All Time. Always. é Aquele que Permanece (Jonathan Majors) – nada menos que Kang, o Conquistador, personagem manjado pelos fãs dos quadrinhos – explicando de modo detalhado como as coisas acontecem, ou seja, repetindo o que Loki vinha fazendo desde que o protagonista pisou na AVT. Por sua vez, o casal disposto a literalmente mover linhas temporais para "consertar" a realidade permanece predominantemente sentado ouvindo: sobre a necessidade de alguém controlar aquilo tudo e a respeito de Guerras Multiversais. Muito de vez em quando os dois expressam contrariedade, quebrando o fluxo do aulão também dado ao espectador. Certamente poderia haver tensão mesmo numa dinâmica aparentemente estática, como a que se desenha nessa sala apartada da existência. Filmes como 12 Homens e uma Sentença (1957) existem e resistem para colocar por terra a tese de que é preciso agitação física em cena para haver movimento. Só que para esse falatório todo ser intenso é preciso, no mínimo, um texto denso e uma montagem afiada. E não é isso que acontece por aqui, vide os diálogos meramente expositivos e a edição apenas funcional.

A diretora Kate Herron não se esforça para transcender as limitações do panorama feito basicamente de um personagem falando e outros dois assimilando informações cruciais. A predominância do plano/contraplano é em parte responsável por tornar tudo estritamente ilustrativo. A outra parcela dessa sensação, que, aliás, atravessa toda a série, fica por conta do desperdício de instantes que poderiam ser fartos de tensão. Aquele que Permanece (Kang) conhece tudo, sabe exatamente o que vai acontecer. E isso poderia anular o grande trunfo dos Loki: a capacidade de ludibriar. Nesse sentido, o episódio derradeiro da primeira temporada é uma confirmação do que vinha sendo cozinhado nas parcelas anteriores, ou seja, que há prejuízos severos quando as características básicas de um personagem conhecido são relativizadas ao ponto de quase inexistirem. Loki não impõe aos cenários qualquer dúvida motivada por sua condição de mentiroso. Ele é transformado em alguém que testemunha, reage e ouve atentamente para que o espectador tenha com quem se identificar.

For All Time. Always. traz um dilema fortíssimo para Loki e Sylvie. Acreditar nas palavras do sujeito desconhecido e conformar-se com a verdade asfixiante ou arriscar tudo numa demonstração de ceticismo? A reflexão sobre a manutenção da ditadura em função das alternativas supostamente mais terríveis é provocada diretamente por Aquele que Permanece, mas rapidamente enfraquecida pelas outras constatações que vão a atropelando. Em Loki poucas questões são deslocadas ao subtexto, tudo aparentemente precisa ser esmiuçado, talvez porque os criadores não acreditem na capacidade do público de entender provocações colocadas nas entrelinhas. Aos que esperam um final apoteótico, sobra a frustração. A série termina impondo novas perguntas, certamente como convém a um programa que terá continuação. No entanto, o saldo da temporada inaugural é mesmo decepcionante. Para introduzir o conceito de Multiverso no Universo Marvel os criadores utilizaram um personagem dos mais ambíguos da editora e o transformaram num sujeito convencional. Aqui, Loki é um curioso que precisa ser ensinado sobre tudo e que, ao contrário do que poderíamos imaginar, faz questão de expressar o que sente, pontuando quando e como as sensações acontecem. É pouco, muito pouco.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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