Crítica


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Sinopse

Lena e Lila estão, pela primeira vez em suas vidas, separadas. A segunda se casou e partiu em lua-de-mel, enquanto que a outra precisa aprender a lidar sozinha com o namorado e com as pressões familiares.

Crítica

Apesar de estar sendo exibida no Brasil – finalmente – com o título em português, é bom não se enganar: essa A Amiga Genial: A História do Novo Sobrenome nada mais é do que a segunda temporada de My Brilliant Friend (nome sob o qual a série foi transmitida por aqui dois anos atrás). Essa esquizofrenia causa maior estranheza por se tratar de uma produção italiana – ou seja, o batismo original é L’Amica Geniale, portanto. Afinal, além do elenco e da equipe permanecerem os mesmos, a própria história recomeça exatamente no mesmo instante em que o ano anterior se encerrou, sem pulos temporais e nem qualquer outro tipo de mudança mais drástica. E se restava alguma dúvida, basta ficar atento ao crédito inicial, que considera Il Nuovo Cognome (O Novo Sobrenome, em tradução direta) ser o ‘capítulo nove’ de uma mesma história. A origem, no entanto, é distinta, e se baseia no segundo livro da série escrita por Elena Ferrante. A despeito de todo esse imbróglio e qualquer confusão, o tom é assumido de imediato, e o espectador se sentirá imediatamente conduzido ao mesmo universo que tão bem frequentou nos episódios de estreia.

E qual seria, portanto, esse ‘novo sobrenome’? Bom, basta um mínimo esforço de memória para recordar que o grande acontecimento que marcou o fim do primeiro ano foi o casamento de Lila (Gaia Girace) e Stefano (Giovanni Amura). A festa, no entanto, não acabou bem, e o novo casal partiu para a lua-de-mel em clima de atritos. Estamos, no entanto, em uma Itália do pós-guerra e, para piorar a situação, em uma região pobre e de poucas perspectivas no sul do país. Os homens respeitam suas esposas, mas também consideram algo natural caso se vejam obrigados a... ‘educá-las’, por assim dizer. A resistência da noiva em se entregar ao marido renderá fortes discussões entre os dois. Nada, no entanto, tão impactante quanto a sequência que mostra a primeira noite deles. Assim que o espectador é colocado diante da sempre forte Lila, agora sendo subjugada pelo esposo em uma sequência de estupro bastante perturbadora, o diretor Saverio Costanzo (Corações Famintos, 2014) deixa claro estar disposto a colocar em evidência a decisão em elevar a maturidade do que será discutido a partir de agora.

É importante ter em mente, no entanto, que a protagonista de A Amiga Genial continua sendo Lenu (Margherita Mazzucco). É sob o ponto de vista dela que a narrativa se desenvolve, e Lila só possui tamanha relevância por ser considerada, pela outra, justamente a sua... “amiga genial”. Lenu diz, lá nos primeiros episódios de My Brilliant Friend: “sou capaz de fazer qualquer coisa que Lila faça”. Pois bem, essa verdade continua a guiá-la, mesmo que cegamente por algumas passagens. Como a atitude impensada que a leva a se entregar – ou ao menos tentar – a Antonio (Christian Giroso), o namorado que não ama. Afinal, seu coração segue batendo mais forte por Nino Sarratore (Francesco Serpico). Porém, entre decepções escolares, profissionais e amorosas, será no reencontro com a companheira de toda uma vida que ela, finalmente, voltará ao seu rumo original: filha e estudante exemplar, mesmo que as condições – tanto em casa quanto na escola – nem sempre (ou na maioria das vezes) não sejam as melhores.

Lenu e Lila estão diferentes. Transformadas, se apresentam agora ao espectador, muitos já íntimos das personagens graças à vivência dividida pelas páginas de Elena Ferrante, como novas mulheres. A primeira, mesmo com um mundo inteiro a se desdobrar diante de si, segue, no entanto, no aguardo constante pela aprovação da amiga. Já a segunda também espera por algo similar, mas é o medo que a conduz: receia um julgamento que poderá ser fatal para a relação das duas. Aquela que sempre foi cabisbaixa e tímida, está finalmente assumindo o controle das suas escolhas, enquanto que a que a mais espevitada e decidida está tendo que aprender a se controlar. A Amiga Genial: A História do Novo Sobrenome começa sem fazer escalas ou perder tempo com assuntos paralelos. Basta ver o desconforto – e as desculpas – que surgem quando uma das duas entra na sala com um olho roxo, após ter apanhado do marido. A dissimulação pode ser uma arma de sobrevivência, mas aqui, tudo indica que servirá como força-motriz para eventos que terão um impacto muito mais determinantes nas vidas dessas duas garotas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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