Crítica


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Sinopse

Elena Greco e Raffaella Cerullo são duas melhores amigas, além das melhores alunas da escola. Porém, enfrentam a resistência dos pais: a mãe de Elena quer que ela pare de estudar para ajudar em casa, assim como o pai de Raffaella, que não dispõe de dinheiro para bancar os estudos da filha.

Crítica

Elena (Elisa del Genio) e Lila (Ludovica Nasti) estão mais próximas do que nunca, e neste segundo episódio de My Brilliant Friend (ou A Amiga Genial, como o livro de Elena Ferrante, no qual a série se baseia, foi batizado no Brasil), essa união se dá sob a benção, ainda que involuntariamente, de Dom Achille (Antonio Pennarella, de A Vida em Família, 2017), o todo-poderoso da vila onde as meninas moram. I Soldi – ou O Dinheiro – nome deste capítulo, é o que elas recebem do mafioso quando decidem confrontá-lo a respeito do desaparecimento de suas bonecas, caídas no porão dele. Será por ele, também, que as duas meninas irão se reencontrar, ao final, quando é anunciada a misteriosa morte dele, colocando um ponto final a uma importante fase da vida das garotas.

Pelo que se percebe, este episódio 2 é o último a tratar da infância delas. Uma etapa marcada pela influência direta de três pessoas: a mãe de Elena, o pai de Lila e a professora de ambas. Tanto a mãe de uma, quanto o pai da outra, pensam parecido: as crianças precisam começar a colaborar em casa o mais cedo possível, trabalhando e ajudando nas tarefas diárias. E se isso significar interromper com os estudos, que assim seja. Afinal, são apenas meninas, e um dia serão mulheres, uma condição para sempre subalterna a do homem, sem grandes aspirações nem esperanças de um futuro diferente daquele que seus progenitores tiveram. A mestra, no entanto, discorda. Afinal, ela mesma construiu para si uma vida diferente dessa que, aparentemente, é ditada a todas as crianças do sexo feminino. E ela vê, em ambas, um enorme potencial a ser explorado. Elas são mais inteligentes do que a média. Porém, apenas uma deverá seguir com sua educação, enquanto que a outra terá que lidar com essa adversidade da melhor forma possível.

A grande questão, cerne de todos os conflitos de My Brilliant Friend, é a falta de comunicação, como já ficou bastante claro. A mãe de Lila vai conversar com a professora, mas ambas falam, sem que nenhuma escute, de fato, a outra. O pai e a mãe de Lena debatem o futuro da filha, mas não há um verdadeiro convencimento. O que acontece é que um acaba impondo sua vontade sobre a outra, e como resultado o que temos é mais amargura e ressentimento. As crianças, em última análise, é que acabam por pagar a conta. Nesse ponto, a série tem sido feliz aos olhos mais atentos. No entanto, outras passagens marcantes do livro, como a tentativa de ambas de irem conhecer o mar pela primeira vez, acaba se perdendo em uma série de desencontros que não veem respaldo nas imagens, dependendo quase que exageradamente da narração que as acompanha para fazer algum sentido.

Lena e Lila estão começando a descobrir juntas o mundo. E, principalmente, a se darem conta de que ele é muito maior do que aqueles prédios velhos e pessoas invejosas que as cercam. Uma boneca perdida, um ramo de legumes entregue furtivamente, um livro compartilhado, uma morte que ninguém consegue explicar: os eventos vão se sucedendo, e as justificativas e motivações para eles vão muito além dos significados imediatos que elas tinham acumulado até aquele momento. No entanto, está chegando o momento da ruptura. A inocência está, definitivamente, ficando para trás. As escolhas não serão mais motivadas apenas pelo instinto. Há de se refletir muito a respeito antes de qualquer decisão. E é justamente a dor destes momentos que My Brilliant Friend tão bem começa a retratar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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