Crítica


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Sinopse

Elena Greco e Raffaella Cerullo são duas melhores amigas, além das melhores alunas da escola. Porém, enfrentam a resistência dos pais: a mãe de Elena quer que ela pare de estudar para ajudar em casa, assim como o pai de Raffaella, que não dispõe de dinheiro para bancar os estudos da filha.

Crítica

Se no episódio anterior, Le Smarginatura (T01 E04), os horizontes de Lenu começavam, finalmente, a se ampliar, dessa vez eles ganharam contornos ainda mais largos. Porém, como o próprio título do quinto episódio já adianta – Os Sapatos– este capítulo se concentra mais na ‘amiga genial’ do que na protagonista em si. Elena Ferrante construiu My Brilliant Friend em cima dessa dualidade: de um lado, a menina comum, que faz tudo certo, até consegue um destaque aqui e ali, mas da qual poucos se lembram ou prestam atenção, e a relação dessa com Lila, sua grande companheira, a menina que, movida pela determinação de não repetir o mesmo destino dos seus antepassados, faz de tudo a seu alcance para alcançar aquilo que ninguém ao seu redor sequer imaginava: estudo, desejo, respeito. E é por acreditar em si, mais do que em qualquer outra pessoa, que acaba servindo de exemplo para aquela que mais está próxima, fazendo dos anseios de uma o resultado das duas.

O pai de Lila é sapateiro, assim como Rino, o filho mais velho. Mas Lila não quer apenas reproduzir o que os homens já fazem: ela sonha em ir adiante. É por isso que, com a ajuda do irmão, irá criar o sapato mais elaborado que já viram. Todo de couro, refinado e resistente, é diferente de tudo que conhecem. E, por isso, não pode parar nos pés de qualquer um. Se atrair a pessoa certa, pode significar um futuro melhor para todos. E ao invés de levarem a vida consertando os calçados dos outros, poderão construir os seus próprios, dando início a uma pequena indústria que teria tudo para prosperar. Fartura, dinheiro e poder, esse é o caminho que esperam trilhar através do trabalho que tão bem conhecem.

Ao contrário de Lenu, que descarta o primeiro namorado – “ele nunca me fez rir” – Lila se torna cobiçada por dois inimigos jurados: Pasquale, o proletariado comunista, e Marcello, o filho dos Solara, bem-nascido em com influência na máfia local. Ela tem carinho pelo primeiro, mas algo fraternal. Em relação ao segundo, o que sente é desprezo e revolta. Mas como agir, quando é justamente ele que pode significar a salvação de sua família? Há uma lição nisso tudo, e Lila resiste em compreender o alcance dos seus atos. A guerra ameaçada no capítulo anterior agora parece ter ficado no passado. As preocupações são mais maduras, consistentes e de efeitos duradouros. E o que se passa com a amiga é o perfeito espelho para ilustrar os próximos passos da protagonista.

Elena Ferrante, autora dos livros da Série Napolitana – composta por quatro volumes, cujo primeiro, A Amiga Genial, inspirou essa temporada inicial – participa também do roteiro da adaptação televisiva. Isso garante uma maior fidelidade ao material literário. Mudanças são necessárias, é claro, mas são tão sutis e pontuais que pouco prejudicam o deleite dos admiradores da obra original, ao mesmo tempo em que funcionam com precisão para angariar novos apreciadores. Lenu e Lila são dois lados de uma mesma moeda, e a história das duas tem como pano de fundo um mundo em constante transformação. Agora, chegou a vez delas sentirem esses efeitos. E, com eles, uma inevitável separação. O diretor Saverio Costanzo é preciso na construção dessa jornada. E se viemos até aqui motivados pela ligação que existe entre essas duas meninas, a excitação se torna ainda maior para descobrir como elas lidarão longe uma da outra. E que venham os próximos capítulos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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