Crítica


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Sinopse

Elena Greco e Raffaella Cerullo são duas melhores amigas, além das melhores alunas da escola. Porém, enfrentam a resistência dos pais: a mãe de Elena quer que ela pare de estudar para ajudar em casa, assim como o pai de Raffaella, que não dispõe de dinheiro para bancar os estudos da filha.

Crítica

O sexto episódio da primeira temporada de My Brilliant Friend é, apropriadamente, batizado de A Ilha. Pois, tal qual um pedaço de terra que se desliga do continente, este também é um momento à parte na trama a qual vínhamos acompanhando desde o início. Afinal, ainda que seja baseado em um romance chamado A Amiga Genial, essa, felizmente, se faz pouco presente dessa vez, oferecendo uma rara oportunidade aos espectadores para que possam se concentrar, enfim, na protagonista da história: Elena, vivida num acertado misto de constrangimento e relutância por Margherita Mazzucco. E assim não só é permitido um mergulho maior no âmago da personagem, mas também será possível acompanhá-la de perto em algumas das passagens mais importantes de sua trajetória: a inocência do primeiro amor e a selvageria de uma violência inesperada.

Aquela que, apesar de morar em Nápoles, sequer tinha lembranças de algum dia ter visto o mar, agora está pronta para desbravar águas distantes. Elena é enviada, como reconhecimento por seus esforços na escola – e graças a uma recomendação de sua antiga maestra – à casa de uma parente dessa, que irá recebê-la durante as férias de verão. O trato é simples: ela deverá ajudar a velha senhora nos fazeres básicos da pequena pensão que comanda, como preparar o café da manhã e arrumar os quartos. Atividades simples que lhe tomam pouco tempo, e em contrapartida terá muito tempo livre, com direito à praia e passeios noturnos pela cidade. A surpresa se dá quando, no meio da temporada, quem aparece é a família Sarratore. As presenças deles irão abalá-la para sempre. A filha mais velha, por reconhecê-la de imediato e se tornar sua companhia constante durante aqueles dias. A mãe, por ver nela algo que nem mesmo ela sabe possuir. O filho mais velho, Nino (Francesco Serpico), por representar a concretização de um amor platônico e, até então, apenas sonhado. E o pai, a figura mais enigmática, aquele que o bairro inteiro comentava a respeito de uma amante abandonada que teria enlouquecido, ao mesmo tempo em que conquista a todos com seu charme e inteligência. Seria ele, de fato, tudo aquilo que comentam?

Pois descobrir a verdade por trás de cada um deles se tornará a tarefa a qual Elena se dedicará com mais afinco, principalmente após se sentir rejeitada por Lila, a quem escreve todos os dias – e que se recusa a respondê-la. Mesmo sem a presença física da amiga, essa continua ditando os atos e pensamentos da protagonista. A partir do segundo em que percebe que o objeto do seu afeto a vê como parte indistinta de uma dupla, com se não existisse por si só, a revolta e o ciúmes voltam a se manifestar. Lenu precisa mostrar seu valor individual. E será ali, entre leituras de clássicos, banhos de mar e sorvetes à luz da lua, que finalmente dará o primeiro beijo. Porém o presente do aniversário de 15 anos irá cobrar um preço, uma marca que ficará registrada no seu íntimo mais profundo e que até hoje, décadas depois, ela ainda encontra dificuldades em lidar. My Brilliant Friend pode parecer apontar para a amiga, mas, de fato, o tempo todo fala de quem a considera brilhante, e não daquela que assim se sente.

De Lila, a vemos apenas rapidamente. O cortejo de Marcello Solara – os temidos Solara – se torna cada vez mais intenso. De chocolates no final da janta, logo os presentes adquirem a forma de aparelhos televisores e anéis de família. Lila se mantém firme à decisão de rejeitá-lo, talvez mais para desagrado dos pais do que por qualquer outra coisa. E enquanto esse impasse continua, Lenu decide abruptamente fazer as malas e dar adeus ao paraíso perdido que tanto lhe abriu como fechou portas. A amiga dela precisa. E, por isso, é chegada a hora de dizer adeus. Talvez não a ninguém em particular, além dela mesma. Uma Elena que não mais existe, que precisa aprender a deixar seus medos para trás e enfrentar o mundo de frente. E assim será. Não apenas hoje, mas amanhã também.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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