Crítica


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Sinopse

Elena Greco e Raffaella Cerullo são duas melhores amigas, além das melhores alunas da escola. Porém, enfrentam a resistência dos pais: a mãe de Elena quer que ela pare de estudar para ajudar em casa, assim como o pai de Raffaella, que não dispõe de dinheiro para bancar os estudos da filha.

Crítica

Os pais das duas protagonistas de My Brilliant Friend, tão exaltados nos capítulos iniciais dessa temporada de estreia, mas depois deixados um tanto de lado, ressurgem nesse penúltimo episódio em participações discretas, porém pontuais. Tanto a mãe de Elena, vivida por uma impressionante Annarita Vitolo, como o pai de Lila, papel de um Antonio Buonanno sempre prestes a entrar em ebulição, são determinantes para o futuro de suas filhas. A primeira, por sempre apresentar um comentário certeiro que irá afetar a autoestima da garota, a ponto de levá-la a procurar por exemplos e estímulos femininos fora de casa, enquanto que o segundo serve no sentido oposto: será sua obtusidade e relutância que acabará tendo efeito propulsor nas decisões da jovem, sempre determinada a contradizê-lo em toda situação possível.

Após o capítulo anterior, A Ilha, quando as atenções se voltaram aos acontecimentos ao redor de Elena, em Os Noivos – até pelo próprio título – o foco volta a ser Lila, enquanto que a desajeitada a insegura Lenu assume, mais uma vez, a condição de observadora na maior parte do tempo. Há tempos sendo cortejada por Marcello Solara (Elvis Esposito), o filho do mafioso local que parece não saber como reagir ao receber um “não” como resposta, Lila traça um elaborado plano para se ver livre dele: incita Stefano Carracci (Giovanni Amura), filho do falecido dom Achille – e inimigo confesso dos Solara – para não apenas vencer qualquer resistência e se fazer presente ao lado dela, como também – e ainda mais importante – vencer os argumentos contrários do pai associando-se a ele no projeto da nova sapataria. Com uma tacada, percebe-se, ela acredita ter matado dois coelhos.

São lições como essa que Lenu tenta levar para sua vida. Após sair às pressas de Ischia, onde passava um período de férias escolares trabalhando na casa de uma conhecida de sua antiga maestra, ela precisa agora descobrir como lidar com um novo fantasma: Donato Sarratore (Emanuele Valenti), o pai da sua primeira paixão – Nino – e amante da louca do bairro que, ao invés de se comportar como um homem de respeito, abusa da confiança dela no meio da noite. Ele agora está de volta, dizendo-se apaixonado, sem conseguir esquecê-la – ainda que ela nunca tenha dado motivo algum para tanto. Mas Lenu não é boba – como já ficou claro. E a inteligência que demonstra na escola aos poucos também será levada para os outros aspectos de sua vida. E se o surgimento de um novo namorado – já é o seu segundo – parece mais próximo do verdadeiro entendimento da palavra, ela também terá outros usos para essa presença masculina ao seu lado.

Se por um lado fica cada vez mais evidente que Lenu tanto admira quanto sente inveja da amiga, a outra, por sua vez, vem demonstrando a cada novo episódio da vida das duas uma compaixão sincera e desprovida de segundas intenções pela vizinha e companheira de tantas horas. A primeira seguiu com seus estudos, bem ou mal tem o respeito dos pais e a admiração dos professores. Mesmo assim, se sente feia, diminuída, desprezada. Já a segunda foi impedida de estudar formalmente, precisou trabalhar desde cedo na sapataria do pai e é mais criticada do que elogiada pelas amigas. Mesmo assim, Lenu largaria tudo o que tem e conquistou para ser como Lila. Não seria de se espantar que a segunda também fizesse o mesmo – ao contrário. É essa dualidade o centro das ações – e, principalmente, das emoções – de My Brilliant Friend, que se encaminha ao seu capítulo final como um dos grandes acontecimentos televisivos de 2018.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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