Crítica
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Sinopse
Tudo se complica quando, durante uma reunião familiar para um tradicional solstício de verão sueco, segredos vêm à tona.
Crítica
Minissérie norueguesa de cinco episódios com cerca de 30 minutos cada, Noite de Verão é sobre uma crise que, semelhante a uma boneca russa, contém várias outras. Os protagonistas são Carina (Pernilla August) e Johannes (Dennis Storhøi). Casados há 30 anos, eles recebem amigos e familiares na sua belíssima casa à beira-mar num cenário paradisíaco da capital Oslo. Mas os dois têm algo a revelar, uma novidade que comprometerá a alegria das comemorações do solstício de verão: os dois estão na iminência de se separar. O programa é semelhante a uma novela, principalmente por conta da forma como o melodrama é elaborado, sem muito tempo para os assuntos amadurecerem. Há diversos (às vezes demais) aspectos dolorosos desdobrados a partir da revelação que certamente pega todo mundo de surpresa e desarmados numa ocasião festiva. Cada pessoa convidada à celebração marcada por brincadeiras e músicas divertidas vivencia o próprio inferno particular. E os responsáveis pela minissérie vão apresentando esses panoramas individuais para chegar a uma imagem ampla da felicidade frágil, da oscilação entre a euforia e a tristeza num curto espaço de tempo. Todos estão ali para relaxar, mas são convocados pela força da circunstância a se deparar com demônios feios e espelhos nem sempre bem-vindos. Dito assim pode parecer que o programa é pesado e denso, mas não é bem assim.
Há leveza contrapesando o drama em Noite de Verão, uma sensação persistente de que, no fim das contas, as coisas darão certo. O diretor e criador Per-Olav Sørensen poderia fazer dessa jornada uma inclemente ida ao purgatório, mas opta por uma perspectiva bem mais otimista pela promessa implícita de que os homens e mulheres sofredores têm condições de superar as barreiras e assimilar com certa eficiência os problemas como partes comuns do viver. Nessa imagem familiar temos o tiozão boa-praça que chega com mais uma de suas namoradas jovens; a filha prestes a se casar, mas diante do ex-namorado que aparece surpreendentemente; a caçula evidentemente apaixonada pelo cunhado (o que sugere uma bomba relógio prestes a explodir); a meia-irmã integrada parcialmente àquela família, mas que carrega o fardo de cuidar da sua mãe com problemas psiquiátricos; o noivo que luta contra as convenções para perdoar a infidelidade e ser feliz ao lado da mulher amada; o rapaz tímido que não consegue confessar seus sentimentos; o ex-namorado sofrendo por conta de um problema de saúde, etc. São muitos personagens e múltiplos problemas se cruzando de modo apressado, nem todos com equivalente importância. Alguns coadjuvantes, como os pais do noivo, são meros suportes, não ganhando espaço para remoer as suas angústias. O resultado é eficiente, mas também morno.
Do elenco, o nome de maior destaque é, sem dúvida, o de Pernilla August. Conhecida do grande público como a intérprete de Shmi Skywalker, simplesmente a mãe de Anakin Skywalker (futuro Darth Vader) em Star Wars: Episódio I - A Ameaça Fantasma (2001), ela venceu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes de 1992 por As Melhores Intenções (1991) – filme no qual interpretou a mãe do cineasta sueco Ingmar Bergman, artista com o qual havia feito a minissérie Fanny e Alexander (1981). A decisão insólita e corajosa de sua personagem é o gatilho para o surgimento de todos os demais problemas. Não que a decisão dela cause tudo, mas motiva a predominância da verdade sobre as dissimulações, os fingimentos e as acomodações. Uma pena que Per-Olav Sørensen não aproveite melhor o talento dessa grande atriz, a reduzindo em muitos momentos à matriarca hesitando em revelar a bomba do dia para evitar a desarmonia familiar. Aliás, ainda dentro dessa tendência otimista de Noite de Verão, as promessas de que tudo ficará bem na medida do possível são, em grande parte, garantidas pelo tratamento dado às mentiras. Hora ou outra as pessoas revelam tudo o que as angustia, dos itens mais simples às situações embaraçosas que podem colocar em risco relacionamentos e outros elos. Assim, o espectador não precisa temer pelo futuro dos personagens merecedores da felicidade por serem sinceros.
De um lado, Noite de Verão traz figuras humanas interessantes e as lança numa espiral de adversidades que rompe o clima festivo do solstício de verão num cenário lindíssimo à beira-mar. Do outro, a minissérie não valoriza por muito tempo os aspectos sombrios expostos gradativamente, sobretudo porque pretende ir o mais breve possível a um lugar em que as pessoas se sintam confortáveis, inclusive por terem confessado os seus pecados. O homem introspectivo se expressa com dificuldades diante do olhar admirado da plateia; o tio lida abertamente com as suas barreiras pessoais sobre a paternidade; o noivo desabafa e mostra a sua disposição por esquecer os problemas e seguir em diante; a mulher envergonhada se penitencia dos seus pecados os confessando ao futuro marido. Esses são alguns exemplos de problemas complexos supostamente superados depois de conversas reveladoras capazes de tampar feridas que, se espera, cicatrizem com o tempo. Os segredos mantidos não chegam a manter algo sombrio, principalmente porque Per-Olav Sørensen faz questão de enfatizar o quanto a capacidade de comunicar ao outro a própria angústia é terapêutica. Há um romantismo nessa ideia de que os contratempos podem ser superados de modo tão ligeiro e catártico, mas esse é outro dos indícios do ponto de vista positivo e otimista dessa novela norueguesa em cinco capítulos na qual a sua gente caminha rumo à felicidade depois de ejetar bagagens indesejadas.
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