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Sinopse

O crime não dura quando Frank Castle está por perto. O veterano de guerra é impiedoso na sua guerra contra malfeitores, alimentada pelo ódio gerado quando sua família foi pega no fogo cruzado durante um tiroteio entre mafiosos.

Crítica

Quando Jon Bernthal fez sua estreia como Frank Castle na segunda temporada de Demolidor, os aplausos foram praticamente unânimes. Não à toa. O anti-herói já foi levado para as telas várias vezes antes em tentativas frustradas que nunca fizeram jus à mitologia do personagem, seu desejo de vingança e a quase noção doentia de acreditar que "bandido bom, é bandido morto". Outros outros três atores foram responsáveis por dar vida à Castle, anteriormente: Dolph Lundgren em O Justiceiro (1989), Thomas Jane em... O Justiceiro (2004) e Ray Stevenson em O Justiceiro: Em Zona de Guerra (2008). Vale destacar que o fracasso destes títulos nunca foi culpa dos intérpretes – Jane, inclusive, fez um curta-metragem anos depois em que resgata o personagem em sua total essência, bem ao contrário do foi impelido a fazer no filme que estrelou. Porém, se Bernthal se mostrou a escolha perfeita numa bela trama secundária da série do Homem Sem Medo, a dúvida volta a atingir o espectador nesta irregular primeira temporada de O Justiceiro para a Netflix.

Um dos culpados é a própria gigante do streaming e sua (falta de) noção em ser quase categórica ao dividir as séries dos heróis urbanos da Marvel em temporadas de 13 episódios. Quase porque Os Defensores (2017) teve apenas oito episódios (não tão satisfatórios no total, mas que, ao menos, entretinham pela dinâmica da equipe). Porém, aqui, mais do que até na série do Punho de Ferro (2017) – a mais execrada até agora – a sensação de "encheção de linguiça" é notória. Mesmo que haja tentativas de tornar o produto substancial, fica mais do que claro que oito episódios seriam suficientes (e no limite) para contar uma boa história sem gorduras extras e inúteis.

Esta primeira temporada começa interessante. Temos Frank fazendo seus últimos acertos de vingança com quem matou sua família, com a participação especial de Karen Page (Deborah Ann Woll), uma das melhores personagens de Demolidor. Porém, assim que esta questão é resolvida, Castle quer uma nova vida. E eis que os problemas começam. Entre o quinto e o sexto episódio, o roteiro fica morno, até dar um novo up próximo ao fim, pelo décimo capítulo. Ainda que seja interessante o modo como os criadores tenham tentado levantar o passado de ex-fuzileiro naval do protagonista, sua culpa do sobrevivente, e ainda inserido o governo do EUA como um dos grandes vilões por trás de tudo que está para ocorrer, é extremamente fácil para o espectador pular metade da temporada sem perder grandes coisas da trama.

Isto que, neste ínterim, temos a adição de outro personagem importante: o ex-analista da NSA David "Micro" Lieberman (Ebon Moss-Bachrach), figura clássica das HQs que mantém uma relação de trabalho e amizade com o protagonista. É notável a química entre Moss-Bachrach e Bernthal, mas os episódios que se centram na relação dos dois acabam servindo apenas como filler, nunca parte integral da história principal. É Micro quem tem acesso a arquivos que denunciam abusos militares na época em que Frank atuava no Afeganistão. Por si, esta informação já leva o hacker a ser peça central de tudo que ocorre, não precisaria ser tão minuciosamente descrito para forjar diversas camadas de profundidade que, ao fim, não se mostram tão relevantes.

Soma-se a isso a quantidade de outros personagens secundários que, no todo, não agregam, como os agentes da Homeland Security (Amber-Rose Nevah e Michael Nathanson) e o militar veterano(Jason R. Moore). Ainda que este segundo seja responsável por trazer mais dramaticidade aos acontecimentos que se desenrolam, ele também carrega aquela sensação de que não faria diferença se não estivesse ali. Talvez o grande vilão seja o melhor aqui, porém, quem faz o show ser assistido mesmo é Bernthal com seu talento para incorporar tão bem um personagem rico em fúria. Seu Frank Castle, mesmo quando tenta levar uma vida pacata, é cheio de ódio e rancor dentro de si, numa mistura que varia da raiva à tristeza apenas pelo olhar duro do intérprete e seus conflitos internos que ultrapassam a barreira psicológica para o físico.

Uma segunda temporada já está confirmada. Resta saber se os erros da primeira serão consertados, assim como o que deu certo deve permanecer. É claro que Castle precisa desenvolver sua história e não ser apenas uma máquina de matar que não pensa. Pelo contrário. O personagem é conhecido justamente por sua inteligência em se organizar, mesmo que possa levar alguns tiros no meio do caminho. O anti-herói caberia perfeitamente para combater crimes de ódio, tráfico de drogas e de crianças, entre outros crimes que não estão presentes em outras séries do Universo Marvel da Netflix. Há Jessica Jones com o papel da mulher na sociedade contemporânea, Luke Cage batendo de frente com o racismo, Punho de Ferro envolvido com grandes corporações e artes marciais e, claro, o Demolidor (sem eufemismos) contra a cegueira da justiça. Falta apenas definir se o Justiceiro vai sambar entre estes temas, permanecer no foco militar ou ir além. A torcida é que se tenha mais claro seu objetivo. Afinal, material para isso é o que não falta. Ou, mais uma vez, o personagem pode cair ostracismo das grandes produções audiovisuais.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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