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Sinopse

Sandy Kominsky é um homem de sorte, e talento. Em poucos anos de carreira, ele logo se consagra como um ator de sucesso de Hollywood. Por outro lado, seu agente e melhor amigo Norman até acompanha o glamour do colega, mas não esquece dos problemas de sua própria vida.

Crítica

A presença de Chuck Lorre como produtor não é das mais auspiciosas. Afinal, o cara foi responsável por estender por doze anos a série Two and a Half Men (2003-2015) e por outros treze The Big Bang Theory (2006-2019, e contando), entre outras. Como se percebe, ele até começa bem, mas é conhecido por esgotar todas as possibilidades de bons programas graças a repetição excessiva. Essa característica, ao menos de acordo com essa primeira temporada, não deve se repetir em O Método Kominsky. Afinal, este ano de estreia foi composto por apenas oito episódios, nenhum com mais de 30 minutos de duração (a maioria tem entre 20 e 25 min, para sermos mais exatos). E tudo isso para que o show seja palco quase que único e exclusivo de seus dois protagonistas: Michael Douglas e Alan Arkin. E por eles, mais do que qualquer outra coisa, esse programa já vale muito à pena.

Em O Método Kominsky, Michael Douglas é Sandy Kominsky, um ator que já foi bastante celebrado – “quando você me conheceu eu recém havia ganho o Tony” – mas que agora, passado tantos anos, encontra-se em pleno ostracismo. Ele passa seus dias ensinando o tal ‘método Kominsky’ de atuação em aulas de interpretação, enquanto não é chamado por seu agente, Norman (Alan Arkin), para um novo trabalho. Esse, no entanto, tem seus próprios problemas, tanto que há uns dois anos não aparece no próprio escritório. Ele está lidando com a doença da esposa, Eileen (Susan Sullivan, de O Casamento do Meu Melhor Amigo, 1997), que vem a falecer de câncer logo no final do primeiro capítulo. Mas nada de desespero: essa é uma comédia – muitas vezes dramática, outras tanto um pouco amarga, mas que faz rir, sim, da vida, das nossas debilidades e das ironias que o tempo costuma nos pregar.

Isso porque O Método Kominsky nada mais é do que uma desculpa para unir dois amigos e deixá-los soltos em cena mostrando o que sabem fazer melhor. E rindo de si mesmos, o que é ainda mais divertido, pois é como se convidassem a audiência a compartilhar destes mesmos motivos de riso. Assim como Douglas fez em Última Viagem a Vegas (2013) – quando se uniu a Robert De Niro, Morgan Freeman e Kevin Kline – ou Arkin em Despedida em Grande Estilo (2017) – em que apareceu ao lado de Michael Caine e do mesmo Morgan Freeman – ou Amigos Inseparáveis (2012) – junto com Al Pacino e Christopher Walken – o que vemos aqui é um conjunto que vale mais por esses elementos individuais do que pelo todo que apresenta. É claro que há passagens impagáveis – como a cena dos dois, dentro do carro, discutindo os sons dos exames de próstata – e outros argumentos interessantes, como quando um decide salvar o outro com seus problemas com o imposto de renda, tendo como única condição que o empréstimo nunca seja pago – o que deixa o que precisa de ajuda tão irritado a ponto de recusar o auxílio. São esquetes, pegadinhas entre amigos, mas que ao serem apresentadas num formato tão leve e atraente, se tornam praticamente irresistíveis.

Mas nem tudo são flores por aqui, é claro. E que fique claro: mesmo com pouco mais de três horas de acontecimentos para uma temporada inteira, ainda há exageros que poderiam ter sido evitados. Um bastante perceptível são as filhas dos dois amigos, interpretadas por Lisa Edelstein (House, 2004-2011) e Sarah Baker (Big Little Lies, 2017). A primeira é Phoebe, a garota-problema que volta e meia precisa recorrer a uma clínica de reabilitação, apenas para dar mais dores de cabeça ao pai recém viúvo. A segunda, por sua vez, é Mindy, aquela que é o braço direito do pai, assumindo a responsabilidade que muitas vezes a este lhe falta. São presenças apagadas, que até ameaçam um certo protagonismo vez que outra, mas nada que chegue perto de se concretizar. A impressão é que se investiu nelas com medo de que os dois veteranos não fossem dar conta sozinhos do programa. Ledo engano.

Por outro lado, o interesse romântico de Sandy, aqui na pele de uma sumida Nancy Travis – tão charmosa quanto na época de Três Solteirões e um Bebê (1987) ou Lembranças de Outra Vida (1995) – funciona bem ao lado de Douglas, revelando uma química preciosa entre os dois. A relação deles é algo a ser desenvolvido com mais cuidado numa eventual segunda temporada, mas há uma chama aqui que não pode ser ignorada. Assim como as participações especiais de nomes como Ann-Margret, Elliott Gould e, principalmente, Danny DeVito – vê-lo novamente ao lado do antigo parceiro de sucessos como A Guerra dos Roses (1989) e Tudo Por Uma Esmeralda (1984), tem um sabor todo especial – que elevam o conjunto a um outro patamar. Em resumo, O Método Kominsky é assumidamente uma produção saudosista, feita por e para aqueles que não tem medo de lidar com a velhice – e, por consequência, a morte – de braços abertos. Afinal, para que temê-la, se podemos rir dela?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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