Crítica


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Sinopse

Os bastidores da primeira sex tape viralizada. Protagonizado pela atriz e modelo Pamela Anderson e pelo músico Tommy Lee, o vídeo foi roubado do lar do casal por um eletricista insatisfeito e passou da curiosidade clandestina do VHS a uma sensação mundial quando chegou à Internet, em 1997.

Crítica

Pamela Anderson foi, e ainda é, um ícone de sexualidade. Não fossem as capas de revistas masculinas, as roupas vulgares ou as propagandas de cerveja que a tornaram popular no final dos anos 1980, ainda lhe restaria seu maior sucesso: S.O.S. Malibu, série exibida entre 1992 e 1997 que não lhe exigia mais do que poucas falas e cenas voluptuosas de biquíni vermelho. Pamela se viu refém do estereótipo da “loira gostosa e sem muita inteligência”, tinha conhecimento disso e, pelo que o showrunner de Pam e Tommy tentou expressar, esperava que os grandes estúdios valorizassem seu talento como atriz. Entretanto, o destino foi mais cruel do que se esperava. Mesmo sendo constantemente desvalorizada, teve seu íntimo desnudado por uma sex tape ao lado do ex-marido, o rockstar Tommy Lee, que acabou vazando na internet.

Antes de tudo, vale lembrar que Pamela não participou como consultora da produção. A série se compromete a revelar os bastidores desse escândalo dos primórdios da web a partir de um artigo investigativo de Amanda Chicago Lewis. Só por isso, seria um tema possível de ser problematizado, não fossem as importantes inserções de tópicos feministas, como desigualdade salarial e violência. Apesar das imprecisões temporais, a minissérie traça um bom comparativo entre uma mesma polêmica vista por duas óticas. Se por um lado Pamela virou objeto de desejo com as cenas secretas, pelo outro Tommy é classificado como “fodão” pela opinião pública. Note que estamos falando de 1995, praticamente ontem na história moderna. O que mudou de lá pra cá? Hoje seria diferente? Essas e outras perguntas geram boas discussões propostas pela trama.

A responsável por interpretar a festeira e, depois, aflita Pamela, é Lily James, que se entrega ao papel e está pronta para os louros desta empreitada. Sobra maquiagem em seu corpo para emular as fortes curvas da protagonista e, sobretudo, seu bronzeado característico. Mesmo assim, nada soa artificial. Algo que vai reverberar na mente do espectador é que Lily, inclusive, é mais talentosa que Anderson. O que acarreta outra questão: Pamela merecia ter tido mais oportunidades como atriz? Ou a intérprete que agora a recria é tão boa que estamos confundindo as atrizes? Já seu parceiro é interpretado por Sebastian Stan que, mais uma vez, faz um trabalho não mais do que bom. O cabelo, as tatuagens e as falas agressivas ajudam a construir a sua versão do baterista do Mötley Crüe que, de fato, não lhe pede mais que algumas atitudes típicas de um troublemaker do rock e variações de humor.

Mas vamos ao motriz desse contratempo: Rand Gauthier, papel do irregular Seth Rogen. Um empreiteiro que rouba uma caixa forte do casal por vingança, já que Tommy não lhe pagou um valor que lhe devia. Em seguida, descobre a fita sexual que estava guardada no cofre e, sabendo do potencial do conteúdo, o pôs à venda na internet e faturou pouco mais do que o pagamento que nunca chegou. Até aí, tudo aconteceu realmente e é de conhecimento popular. O problema é que os roteiristas da série lhe conferiram uma burrice maior do que plausível para o espectador, mergulhando em licenças poéticas demasiadas e sem conexão com a realidade. Se não, vejamos, Rand tem capacidade de invadir uma mansão e furtar um cofre de alta segurança, mas tenta vender o que levou consigo para estúdios sem a licença de seus verdadeiros donos, obviamente; em seguida, quando o conteúdo começa a ser copiada e terceirizada, ele se considera dono do das imagens e reclama direitos; por fim, distribui as reproduções que lhe sobraram sob o título de “originais”. Ninguém sabe se isso aconteceu.

Esses e outros ensejos arrastam a série a ponto de deixá-la desconfortável. Pelo menos, três ou quatro episódios são focados nos infortúnios do personagem de Rogen, espaço que poderia ter sido aproveitado com a saga de Pam. Neste mesmo período, ela estava perdendo contratos, vendo sua imagem se esvair em escândalos e enfrentando uma tragédia: o aborto espontâneo de um bebê por stress. Este último e sério assunto, inclusive, não ocupa mais do que poucos minutos de tela em uma montagem rápida de acontecimentos sob uma trilha sonora propositalmente triste.

Aliás, não são só as infelicidades de Rand que podem perturbar o espectador. Em um instante, há uma explicação alongada das benesses e desgraças da internet. Em outro, um personagem sem muita relevância pergunta "que café você está tomando?" Outro responde: "Starbucks, vem de Seattle". Além desses, outros instantes servem para lembrar que estamos falando dos anos 1990. Ora, já sabemos disso. E, mais uma vez, é de se pensar, se não há desejo em dedicar mais do que meio episódio na adolescência/infância de Pam, por que oito episódios ao total? Não seriam melhor cinco? Ou até quatro? A trama completa parece preencher uma cota preestabelecida de capítulos desnecessários com assuntos triviais.

Mesmo com falhas narrativas, no final das contas, Pam e Tommy se apresenta como uma defesa do corpo feminino, reforçando que as lutas por direitos iguais na indústria do entretenimento ainda não são suficientes. Pois essa mesma celeuma teria os mesmos resultados hoje em dia: a mulher perderia e o homem ganharia. Em diversas ocasiões da trama, Pam diz querer ser igual a Jane Fonda, um símbolo sexual que chegou a vencer dois Oscars, não apenas uma galinha dos ovos de ouro de sujeitos como Hugh Hefner, por exemplo. Entretanto, pergunta para sua agente “porque homens podem ser símbolos sexuais e atores respeitados?”. Mas o que sobrou para a artista foi estrelar filmes como Barb Wire: A Justiceira (1996) e a saga Todo Mundo em Pânico. Pamela poderia ter ido mais longe não fosse toda essa polêmica? Por ora, podemos ficar com sua última participação em um filme. Foi no revival Baywatch: S.O.S. Malibu (2017) no qual pasmem, ela surge em não mais do que dois minutos para desfilar com um pomposo decote, enquanto os personagens de apoio debocham de seus movimentos sexy em câmera lenta.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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