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Sinopse

Prestes a ir para a aula de ioga, Ruby Dixie recebe uma mensagem no celular que apenas diz "run". Ela então parte rumo a Nova York para encontrar Billy Johnson, um antigo namorado, em um trem para Chicago. Repleta de dúvidas acerca de tal ato, ela equilibra a angústia por ter deixado a família para trás com a necessidade que sente em seguir adiante com a vida.

Run


Run :: T01

Episódio Data de exibição
Run :: T01 :: E01 12/04/2020

Crítica

Run. Três letras que apontam o inconformismo em relação à apatia de momento. Na versão do primeiro episódio exibida no Brasil a tradução do SMS com o título da série aponta "corra", já em Portugal surge "foge". Mais que diferenças de comunicação na mesma língua portuguesa que os rege, ambas as versões são fiéis ao espírito imposto nesta nova série da HBO: as coisas não andam bem e é preciso dar uma chacoalhada, em busca de algum frescor. Mesmo que isto signifique romper os laços existentes até então.

Ao menos este é o íntimo de Ruby, que explode de vez ao receber o tal SMS salvador. A partida desenfreada em busca de um amor do passado, um ato movido pela nostalgia mas que também denota o desespero que carrega consigo, entrega um primeiro episódio excelente, onde a dinâmica da proposta casa de forma precisa com o timing do casal protagonista e o clima de sedução/empolgação decorrente deste reencontro. O segundo episódio mantém o pique, invertendo o jogo em relação a Billy mas mantendo a mesma sintonia entre os personagens, do quase lá sem realmente acontecer, pontuado por descobertas feitas aqui e ali sobre a vida pregressa de ambos. Até este momento, Run está em pleno jogo, seja com o espectador ao revelar informações a conta-gotas ou mesmo entre os personagens, ao lidar com ansiedades e necessidades muito bem fundamentadas, por mais que (ainda) não de todo justificadas.

No terceiro episódio, o jogo começa a mudar. A saída do trem representa também um mundo novo ao jovem velho casal, o que requer um reajuste na narrativa - aqui, mais contida - em meio às discussões sobre o possível relacionamento. Sexo ainda é algo desejado e não concretizado, uma espécie de trunfo na manga a ser usado diante das cartas apresentadas na mesa, algo conscientemente explorado pelo roteiro. O título do episódio escancara o que virá a acontecer.

Até então, Run cumpre muito bem sua proposta inicial, de não apenas discorrer sobre este (re)encontro mas, acima de tudo, abordar angústias que a vida traz e se tenta esconder embaixo do tapete, da forma que dá, sem esquecê-las no íntimo. Surpreendentemente, tal proposta é escanteada a partir do quarto episódio. A aparição de Fiona (Archie Panjabi, excessiva), a primeira coadjuvante realmente relevante, faz com que a narrativa enverede rumo a um embate de desenrolar tolo, mais interessado em provocar perseguições do que propriamente em debater algo. Toda a inteligência emocional presente até então se esvai, em nome de uma nova brincadeira em torno do título da série. Run, corra ou foge, para bem longe do que pretendia ser, em uma metamorfose intencional dentro da própria temporada.

Deste momento até o final, a série caminha ladeira abaixo. Por mais que a aparição de Phoebe Waller-Bridge até crie uma subtrama interessante, pelo flerte um tanto quanto envergonhado com a vice-xerife interpretada por Tamara Podemski, é pouco diante do que a série era até então. Com o ritmo acelerado, as lacunas de roteiro ficam cada vez mais nítidas e certos diálogos parecem saídos de uma trama escrita por Nicholas Sparks, de tão carregados que são. Fora o episódio final, tão mal desenvolvido quanto decepcionante, seja pela narrativa ou mesmo como gancho para uma possível segunda temporada.

Em meio aos problemas estruturais, cabe ao casal protagonista manter o interesse na série até o final. Se Merritt Wever brilha intensamente quando tem a oportunidade de expor o que sente, tanto revelando através de um simples olhar, Domhnall Gleeson entrega um personagem correto e adequado ao contexto apresentado. Os melhores momentos de Run são quando estão juntos em meio às descobertas deste novo encontro, sem saberem bem o que esperar do outro. Pena que, com bons personagens e argumentos em mãos para desenvolver este romance maduro, a série prefira trilhar o caminho fácil da ação. Desperdício.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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Grade crítica

CríticoNota
Francisco Russo
6
Sarah Lyra
6
MÉDIA
6