Crítica
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Sinopse
Prestes a ir para a aula de ioga, Ruby Dixie recebe uma mensagem no celular que apenas diz "run". Ela então parte rumo a Nova York para encontrar Billy Johnson, um antigo namorado, em um trem para Chicago. Repleta de dúvidas acerca de tal ato, ela equilibra a angústia por ter deixado a família para trás com a necessidade que sente em seguir adiante com a vida.
Crítica
Tão dinâmica quanto seu título indica, Run inicia explorando a forma como trunfo de narrativa. Com apenas 30 minutos de duração, seu episódio inicial é extremamente hábil ao apresentar um panorama geral sem muito revelar, dando informações a conta-gotas de forma a plantar dúvidas e anseios que serão, apenas, revelados (em parte) daqui a uma semana. Ponto para a produção, pelo esperto mix em torno do conteúdo e a maneira como é apresentado.
A história dispara a partir de um SMS enviado com a mensagem que dá título a série, dando início à partida desenfreada, mas não sem um punhado de dúvidas, de uma mulher casada. Ao menos este episódio piloto traz consigo um forte sentido de urgência, seja na decisão de ir ou mesmo no encontro esperado, dosado também no ritmo que a narrativa assume, por vezes mais frenético e em outros com algum respiro. Com isso, há uma saborosa habilidade em delinear necessidades sem, no entanto, retirá-las do subentendido. Como equilibrar razão e emoção em momentos de absoluta frustração é o tema onipresente, revelado a partir de hesitações momentâneas ou mesmo angústias que se tenta jogar para debaixo do tapete... por enquanto.
Ao menos neste primeiro episódio, o domínio absoluto da narrativa está a cargo de Merritt Wever, muito bem ao transmitir a dualidade interna existente em sua personagem e a necessidade em fazer algo para deixar o marasmo. É importante também observar que o olhar de Run é feminino, dando bem mais enfoque ao lado dela que ao dele - em parte, por ser ele quem propõe a desventura e ela quem precisa largar tudo, de uma hora para outra. Por mais que seja natural desenvolver também o lado dele nos próximos episódios, será interessante observar como a série buscará um equilíbrio entre as necessidades, emocionais e também físicas, de ambos os personagens.
Neste sentido, é de uma satisfação imensa notar que Run não omite, ou esconde, a tensão sexual existente em torno de tal situação. Ouso dizer que esta seja uma influência direta de Phoebe Waller-Bridge, a mente por trás do excelente Fleabag (2016 - 2019), que é uma das produtoras executivas de Run e também integra o elenco, em papel secundário - ela não aparece neste episódio. Mostrar a mulher também com seus desejos sexuais não só é de uma contemporaneidade indiscutível como, também, traz à narrativa uma tensão extra que tanto auxilia a história, por ancorá-la ainda mais na realidade.
Foram apenas 30 minutos e eles foram mais que suficiente para criar uma boa expectativa pelo que vem a seguir. Aliando forma e conteúdo, o episódio inicial de Run é ágil, intenso e instigante. Que continue assim.
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