Crítica


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Sinopse

Camille Parker, repórter do St. Louis Chronicle, é enviada para sua cidade natal para investigar a história de duas garotas que estão desaparecidas e, supostamente, foram assassinadas. O caso, mais o fato de se reunir com sua prepotente mãe, desperta recordações traumáticas de sua infância, incluindo a morte de sua irmã mais nova, Marian.

Crítica

Apesar da esnobada fenomenal que Amy Adams sofreu no Oscar 2017, quando não foi indicada para concorrer à Melhor Atriz por A Chegada (2016) – ainda que o filme tenha recebido oito indicações, inclusive a Melhor Filme, e dela ter concorrido ao Globo de Ouro, ao Bafta, ao Screen Actors Guild Award e ao Critics Choice, além de ter ganho o National Board of Review – não se pode afirmar que ela tenha perdido prestígio em Hollywood. Afinal, em quase vinte anos de carreira já soma cinco indicações ao Oscar, sucessos de bilheteria e personagens icônicos no currículo, como a pintora Margaret Keane, a aviadora Amelia Earhart e até Lois Lane – a namorada do Superman! A essas, junta-se agora Camille Preaker, uma jornalista de segunda linha que se torna protagonista de Sharp Objects, nova série de Marti Noxon (indicada ao Emmy por UnREAL, 2015), por sua vez baseada no romance homônimo de Gillian Flynn (Garota Exemplar, 2014).

O DNA feminino do projeto, como se percebe, não é por acaso, e Adams se encaixa com bastante propriedade à proposta narrativa. Há muitos anos afastada de sua cidade natal, a pequena e abandonada Wind Gap, ela é obrigada a voltar para lá ao ser designada pelo seu editor para investigar o que está acontecendo com as meninas da região. Uma foi assassinada meses atrás, e uma segunda encontra-se desaparecida. Seria obra de um serial killer? Descobrir a verdade por trás destes fatos é a missão da repórter. No entanto, mais do que a tarefa profissional, ela terá que enfrentar traumas e dilemas do passado, como a relação conflituosa com a mãe (a excelente Patricia Clarkson) ou as lembranças da morte prematura da irmã mais nova, além de ter que lidar com sua nova família – o padrasto (Henry Czerny) e a meia-irmã adolescente (Eliza Scanlen, da série Home and Away, 2016), a quem ainda não conhecia.

Se há muitas mulheres em cena, interessante perceber o contraponto masculino. O mais evidente é o detetive que está na condução do caso, vivido por Chris Messina. Ele e Adams reprisam a parceria vista em Julie & Julia (2009). E se antes eram um casal começando uma vida juntos, aqui as faíscas se tornam evidentes desde o contato inicial entre os dois. Estão em lados opostos – ela tentando descobrir algo além do óbvio, ele buscando preservar sua integridade policial – mas, em comum, ambos tem uma verdade: estão desesperados para resolver o que os levou até lá e, com isso, poder voltar para suas casas. E se no meio desse caminho um acabar encontrando conforto nos braços do outro, isso parece ser tão previsível quanto esperado.

Mas a atenção maior, ao menos em Vanish, a estreia desta temporada, está mesmo na relação entre Adams e Clarkson. Mãe e filha não possuem uma relação amistosa, e as rusgas deste relacionamento certamente serão aprofundadas nos capítulos seguintes. Jean-Marc Vallée, que tão bem se aventurou pelo universo feminino em seu trabalho anterior na televisão – a multipremiada Big Little Lies (2017) – agora terá que ajustar seu foco, deixando de lado tantas tramas paralelas para se concentrar nestas duas almas atormentadas que podem ou não ter algo a ver com os crimes que estão acontecendo ao seu redor. Nada que seja tão surpreendente, pois esta parece ser mais uma história em que os personagens são mais importantes do que os acontecimentos que os unem. E se ao longo dos próximos sete episódios isso se confirmar, ao menos a aposta foi segura. A expectativa segue em alta, mesmo que esse começo não tenha estado à altura do que poderia ter sido entregue, apenas vislumbrando possibilidades, sem oferecer absolutamente nada de concreto até o momento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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