Crítica


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Sinopse

Camille e o detetive Richard finalmente começam a se entender. O chefe Vickery procura Adora preocupado com o clima dos cidadãos de Wind Gap. Camille e Adora tem uma conversa honesta demais, que aumenta ainda mais a distância entre as duas.

Crítica

Ripe, quarto episódio da minissérie Sharp Objects, é aquele em que chegamos ao meio da trama – quatro já foram, apenas mais quatro restam. O título, que pode ser traduzido como “maduro”, representa bem esse sentimento de que as brincadeiras ingênuas não mais possuem espaço, e o momento agora é de encarar as coisas de frente, doa o quanto doer. Camilla Preaker, a protagonista, sabe bem disso – tanto que deixa marcado na pele a expressão desse sofrimento, registrando as palavras que lhe atormentam – rejeição, carência, sexo, morte, amor, família – uma vez que simplesmente não é capaz de projetá-las para fora do seu corpo. E como já ficou claro, seus maiores desafios são justamente as principais mulheres de sua vida: a mãe e a meia-irmã. Assim, está no aprofundamento dessas relações o maior mérito deste capítulo.

Você nunca me amou”, reclama a mãe, Adora (Patricia Clarkson, deixando brevemente as frases de efeito – ainda que nunca consiga abandoná-las por completo – para mostrar a boa atriz que se esconde por trás dessa armadura). “Você sempre foi difícil, nunca me atendeu, como se quisesse me culpar por ter nascido. Você deveria ter me salvado, me dado o amor que nunca tive da minha mãe”. Nestas frases, Adora parece quase transparente, mais real do que nunca. É justamente por isso que choca quando, finalmente, se aproxima da filha e declara: “vê-la novamente aqui, só me faz pensar em uma coisa: você cheira à ranço”. O turbilhão de emoções, rancores e frustrações que existem entre as duas é muito mais profundo do que qualquer leitura apressada poderia suspeitar.

Preciso falar com você sobre suas filhas”, diz o chefe de polícia Vickery (Matt Craven, de O Ataque, 2013), à Adora. E ele continua: “uma delas é perigosa, e a outra está em perigo”. O que ele mal sabe é o quanto está certo, ao mesmo tempo em que não poderia estar mais equivocado – justamente, é claro, por estar se referindo às garotas de modo trocado. Camille (Amy Adams, finalmente encontrando a personagem e mergulhando na sua sofrida realidade) é a estrangeira, a que fugiu por não resistir, e que retorna como um abutre em busca dos destroços daquilo que ficou para trás – ao menos, é claro, o que os outros parecem acreditar a seu respeito. Amma (Eliza Scanlen), por sua vez, é da mesma idade das duas outras meninas assassinadas – isso faria dela uma vítima em potencial? Por outro lado, já percebemos que a jovem possui mais de uma faceta, e se em frente à mãe vende um sorriso angelical e uma postura inocente, assim que se afasta de suas asas prefere vestir uma postura muito mais rebelde e agressiva. Qual das duas, portanto, tem mais a temer – e a gerar medo?

Jean-Marc Vallée deixou de lado a segunda temporada da aclamada Big Little Lies (2017) – série que lhe valeu dois Emmys – para assumir a direção de todos os oito capítulos de Sharp Objects. Conhecendo sua filmografia, é fácil perceber que não faria isso para entregar apenas mais uma história de assassinatos em série. Além dos crimes que envolvem estes personagens, são justamente estas figuras que orbitam ao redor destes acontecimentos que, de fato, lhe interessam. Camille Preaker está longe de ser uma figura simples, e até mesmo a empatia do público com ela está sendo construída aos poucos. Por isso, é mais fácil se colocar no lugar do detetive Richard Willis (Chris Messina), que até tentou se afastar dela, mas não resistiu e agora está, literalmente, em suas mãos. Levarão essas à verdade ou apenas causarão mais danos? Esta parece, mais do que nunca, ser a grande questão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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