Crítica


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Sinopse

Logan Roy acabou de sofrer um aneurisma, e sua vida está sob risco, enquanto permanece internado num hospital. Ao mesmo tempo, seus quatro filhos - Kendall, Roman, Shiv e Connor - precisam decidir entre eles quem irá assumir o controle dos negócios durante a ausência paterna.

Crítica

Rei morto, rei posto”, diz o ditado. Mas não é bem assim no caso de Succession. Como foi visto no final de Celebration, o primeiro capítulo da temporada de estreia, Logan Roy (Brian Cox) acabou de sofrer uma hemorragia cerebral e foi imediatamente hospitalizado. Pois é exatamente neste ponto em que começa Shit Show at the Fuck Factory– que poderia ser traduzido como Show de Merda na Fábrica Fodida– o segundo episódio. Como se percebe, as coisas não vão nada bem para nenhum dos membros da família Roy. Com o patriarca correndo risco de vida em um coma induzido, resta aos quatro filhos terem que decidir entre si quem irá substituí-lo no controle dos negócios da família. Um acerto que, obviamente, não será fácil de ser alcançado. Felizmente, já ficou claro ser uma marca da série os fortes diálogos e as reviravoltas no último minuto. E aqui ambos elementos se manifestam com folga.

Por ter sido o primeiro a se ausentar do jogo comemorativo do aniversário do pai, Kendall (Jeremy Strong) é também o último a chegar ao hospital. Rapidamente, no entanto, é colocado pelos irmãos a par da situação: ninguém sabe de nada ao certo. Entre consecutivas demonstrações de arrogância e de desespero, ele e Roman (Kieran Culkin), Shiv (Sarah Snook) e Connor (Alan Ruck) dão fugazes demonstrações de estarem preocupados com a saúde paterna. Quase como se fossem... humanos. Há, portanto, uma preocupação legítima do diretor Mark Mylod (indicado ao Emmy por Entourage, 2009) em fazer dos quatro figuras críveis, e não meramente hienas desesperadas numa luta pela cadeira recém vaga. Não que a situação, por outro lado, os impeçam de por em movimento negociatas e artimanhas. É o futuro da fortuna que os sustenta que está em jogo, afinal.

Kendall acredita ser o mais apto para assumir esse papel, e fará tudo para que isso se concretize. Shiv carrega a culpa por ter sido ela a dar a má notícia – a recusa em assinar os documentos solicitados pelo pai para que sua nova esposa, Marcia (Hiam Abbass), tenha uma presença mais efetiva na gestão da empresa – o que diretamente desencadeou sua atual condição. Roman está pendendo entre a irmã e o irmão. Enquanto que Connor, o primogênito, continua como o mais irrelevante, um bobo que confortavelmente balança de um lado ao outro, de acordo com o quadro que mais lhe parecer confortável. Se ele continuará assim por muito tempo, é algo difícil de prever. Por fim, há ainda o primo distante, Greg (Nicholas Braun), que segue mais como um incômodo do que desempenhando uma participação efetiva. As apostas em relação a ele são mais altas, no entanto. Estaria nas mãos dele o futuro da companhia? Quem sabe?

Talvez só o próprio Logan, afinal. Como já foi dado o indício no capítulo de estreia, sua intenção em aumentar o poder de Marcia tem fundamento – ela possui um único momento de destaque neste episódio, quando contraria a enteada, assegurando que o marido irá permanecer sob os cuidados de onde estão, deixando claro que, quando for necessário, ela fará valer suas vontades. Cercado por um ninho de cobras que ele mesmo criou, é provável que esta seja a única pessoa na qual possa, de fato, confiar. Um cabo de força está em jogo, e há de se imaginar qual lado permanecerá em pé ao final. A aparente vitória de Kendall não significa um cenário mais acolhedor – muito pelo contrário, aliás. Shiv não só garantiu o apoio do primo, como também tem no futuro marido – um irritante Matthew Macfadyen (Orgulho & Preconceito, 2005) – um apoio garantido. E, no final, há apenas um conselho possível: “não pule”. Ainda que a realidade possa ser mais dura do que o chão das calçadas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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