Succession :: T01 :: E03

Crítica

Chegando ao terceiro capítulo de Succession, há dois personagens que ainda permanecem no mais absoluto mistério para o público espectador: Greg (Nicholas Braun), o sobrinho que veio do interior em busca de um emprego, e Tom (Matthes Macfadyen), o noivo da filha herdeira. Há, evidentemente, outros que também despertam curiosidade na audiência, como Connor (Alan Ruck), o filho mais velho e aparentemente distante de qualquer confronto, e a própria Marcia (Hiam Abbass, a atual esposa do patriarca), cuja grande parte do seu passado permanece em segredo. Mas em um jogo em que cada participante parece se esforçar a todo instante para revelar uma nova carta tirada da manga, não estariam nestes dois ‘bobos úteis’ a chave da vitória? Lifeboats dá boas dicas de que pode ser esse o caminho, justificando a atenção dada até o momento aos dois citados.

Logan Roy (Brian Cox) está em pleno processo de recuperação, ainda que não esteja totalmente pronto para reassumir suas funções na companhia. Portanto, os negócios seguem sendo tocados pelos filhos Kendall (Jeremy Strong) e Roman (Kieran Culkin). Francis (Peter Friedman), o braço direito de Logan, o homem que mais conhecia a empresa após o presidente, foi substituído na última hora pelo caçula mimado, e por isso se recusa a ajudá-los nesse momento de crise. Sim, pois a situação é bastante dramática, ainda mais ao descobrirem que há uma dívida de mais de US$ 3 bilhões prestes a ser executada. Kendall não só não possui habilidade para conduzir um momento como esse, como também é incapaz de saber em quem confiar. Os concorrentes estão atentos, e deram o aviso: no menor sinal de fraqueza, partirão para o ataque. O que fazer a seguir, portanto?

Greg pode ser o elo que faltava. É ele que presencia um curioso encontro no parque, testemunha de algo que, se revelado no momento certo, poderá abalar com as estruturas familiares. No capítulo anterior, o garoto já deu uma demonstração de que, se tiver que escolher entre a filha autoritária e o filho rebelde, sabe bem qual caminho tomar. Agora, tem a chance de se aproximar daquele que, ao menos por enquanto, está no topo desta cadeia alimentar. Mas há uma pedra no seu caminho, e essa atende pelo nome de Tom. Homem de duas caras, Macfadyen está fazendo um ótimo trabalho ao compor talvez o tipo mais desprezível de uma galeria de figuras detestáveis. Quando Shiv, sua noiva, encontra um ex-namorado em um quarto de hotel, quem no lado de cá da tela não torceu para que ela estivesse engajada em um romance secreto? Bem, as coisas não são tão simples. E entre atender a namorada e procurar agradar a todos os demais membros da sua futura família, Tom também tem um olho direcionado ao primo recém-chegado – e tenham certeza, ele fará de tudo para transformar a vivência do garoto por ali em um verdadeiro inferno.

E entre os que começam a mostrar suas verdadeiras personalidades, talvez a mais forte seja, de fato, Marcia. O duelo iniciado com a filha do seu esposo no capítulo anterior ganhou novos rounds. Já de volta à casa, ela tenta proibir que os filhos vejam o pai, alegando estar ele muito debilitado e sem condições para recebê-los. Shiv encara aquilo mais do que como uma afronta: é um desafio, e armada pelo noivo e pelo irmão mais velho, decide enfrentá-la – apenas para logo perceber o quanto a madrasta estava certa. Num momento em que todos estão procurando por botes de salva-vidas que possam garantir que seus pescoços permaneçam intocados, é difícil reconhecer qual dos herdeiros está pior em jogo: o que tenta e não acerta, o irresponsável que leva tudo na brincadeira, a filhinha do papai revoltada ou o desinteressado alienado. Mas uma coisa está cada vez mais certa: a salvação virá de fora. E somente os mais atentos, que perceberem isso a tempo, é que deverão permanecer sobre o tabuleiro.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.

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Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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