Crítica


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Sinopse

Kendall Roy está prestes a dar o passo mais arriscado da sua carreira: armar uma conspiração para tirar seu pai, Logan, do controle das empresas da família. Para isso, no entanto, ele precisa ter certeza que conta com a quantidade de votos necessários a seu favor para que o tiro não acabe se voltando contra ele próprio.

Crítica

As apostas são altas e este, definitivamente, não é momento para hesitações. O grande duelo entre o patriarca Logan Roy (Brian Cox) e o filho mais preparado para assumir os negócios da família, Kendall (Jeremy Strong), está travado e, agora, mais às claras do que nunca. O primeiro afirma ter se recuperado do aneurisma que sofreu no episódio de estreia, Celebration E01. Já o segundo, legitimamente preocupado com o futuro da empresa, percebe que o pai não é mais o mesmo, e por isso decide por propor um voto de desconfiança na reunião dos acionistas. Se a maioria dos presentes ficar ao seu lado, o velho será deposto. E é justamente nesta dúvida em que reside a trama de Which Side Are You On? (em tradução direta, Em Que Lado Você Está?), sexto capítulo da primeira temporada de Succession.

Com direção de Andrij Parekh (diretor de fotografia de títulos como Namorados para Sempre, 2010) e roteiro de Susan Soon He Stanton (a mesma dos episódios Lifeboats E03 e Shit Show at the Fuck Factory E02), Which Side Are You On? é calcado nas artimanhas dos bastidores que Kendall e seus principais apoiadores, o irmão Roman (Kieran Culkin), o advogado Francis (Peter Friedman) e a diretora Gerri (J. Smith-Cameron), passam a traçar em busca de uma garantia de que terão o número necessário de votos e, com isso, seguros para darem tão arriscado passo. É curioso, no entanto, perceber que cada um possui sua própria agenda: ela está fazendo política, o antigo funcionário quer vingança, e o caçula é tão irresponsável quanto limitado em sua visão empresarial, se colocando mais como um agente de caos do que em busca de algum tipo de ordem. Kendall, por mais que seja ele o autor da ideia e aquele que se posiciona como o maior traidor, é, justamente, o oposto: o único que está, de fato, preocupado com o patrimônio dos Roy e em busca de uma solução que possibilite a continuidade dos empreendimentos familiares.

Enquanto o primogênito mal aparece (Alan Ruck tem uma única cena, sem contracenar com mais ninguém, como se apenas para justificar seu nome nos créditos), a filha (Sarah Snook) aos poucos vai se distanciando dos demais parentes, garantindo atenção própria. Assessora política, ela está em dúvidas quanto a sua candidata, uma mulher negra e democrata que parece ser o sonho de qualquer eleitor mais liberal, ao mesmo tempo em que não tem nenhuma marca pessoal de maior destaque pela qual valha lutar. O reencontro com um antigo namorado (Ashley Zukerman) sob pretexto profissional irá reacender chamas esquecidas, mas ela não é do tipo de resvala com tanta facilidade de gastos clichês. E se a série, como um todo, procura evitar este tipo de recurso, se torna ainda mais estranho o emprego de duas estruturas narrativas bastante óbvias: a conversa em que cada um fala sobre um evento diferente, mas ambos interpretando errado o que o interlocutor tem a dizer (como se dá no primeiro encontro entre Logan e Kendall) ou o fato de um atraso no trânsito adquirir uma relevância muito maior do que a esperada, praticamente colocando tudo a perder – a situação tinha um peso tão importante para a história que não poderia ter disso resolvida por meio de uma questão tão banal.

A resolução um tanto preguiçosa dada pela roteirista e pelo diretor a este momento crucial da temporada terminou por evitar um conflito direto entre os dois protagonistas. Tal escolha deve, no mínimo, ter arrefecido os ânimos dos espectadores mais esperançosos, que continuavam acreditando que encontrariam aqui algo mais do que ambientes luxuosos, belos figurinos e atores competentes no auge das suas formas. Um bom texto, afinal, é o que mais faz falta. Afinal, nem mesmo colocando o presidente da República na espera o vencedor da batalha poderá seguir cantando vitória por muito tempo. Pois, se restam quatro episódios até o final deste ano, muito ainda pode acontecer – e, certamente, acontecerá. E entre mortos e feridos, pelo jeito apenas os tolos seguirão brindando.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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