Crítica


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Sinopse

O dia do casamento de Shiv e Tom chegou, e os ânimos entre todos os presentes não poderia estar mais acirrado. Qual será o presente que Kendall irá entregar para sua família? E como Logan irá reagir? Terá ele uma última carta na manga, ou haverá chegado, enfim, o momento de entregar os pontos?

Crítica

O décimo – e ultimo – episódio da primeira temporada de Succession preocupou-se de atar os laços soltos que ficaram expostos durante este ano, dando a impressão de um final antecipado. Parece a concretização de uma minissérie, um plano fechado traçado – e percorrido – por cada um destes capítulos. No entanto, com a renovação para uma segunda incursão dos personagens já confirmada, é de se perguntar o que poderão tramar, uma vez que suas histórias parecem ter se encerrado. O que mais Logan Roy (Brian Cox) poderá armar para impedir os avanços dos filhos? Kendall (Jeremy Strong) já revelou todas as suas fraquezas, assim como Roman (Kieran Culkin) e Connor (Alan Ruck) deixaram claras as suas inaptidões para postos mais elevados. Seria Shiv (Sarah Snook) o caminho mais viável a ser seguido daqui em diante? Apenas o tempo dirá. Ainda assim, é interessante o surgimento desta dúvida após tantas – e algumas não muito emocionantes – reviravoltas.

É chegado o dia do casamento, e estão todos reunidos para acompanhar a troca de votos entre Shiv e Tom (Matthew Macfadyen). Esse, talvez o mais insuportável de uma galeria de seres desprezíveis, viu sua importância ser gradualmente reduzida durante o avanço da série. Nada tão grave, no entanto, quanto o que aconteceu com o primo Greg (Nicholas Braun), que chegou a ameaçar um protagonismo, mas não passou disso: uma mera sombra que não incomodou ninguém. Ele, ao menos, guarda algumas cartas na manga, que também poderão ser melhor exploradas no futuro. Seria apenas o começo de uma nova liderança? Tom, enquanto noivo, é o célebre último a saber, e o que acaba tomando conhecimento pouca diferença irá fazer: a mulher seguirá dando as cartas no relacionamento dos dois, com aliança no dedo ou não, e a ele caberá expulsar convidados indesejados – mais por ser uma vontade repentina dela, do que atendendo a uma ânsia pessoal dele. É preciso permissão e concordância, afinal. E, em ambos os casos, tais decisões só poderão ser dadas pela mulher.

Se a nova aspiração de Connor em ser presidente da república acaba soando como uma piada requentada (a vida real é sempre mais ousada do que a ficção) e a missão de Roman em liderar o lançamento de um satélite era uma tragédia anunciada que não surpreendeu ninguém ao confirmar as expectativas, é preciso reconhecer que a ausência de um embate maior entre as duas esposas de Logan – Marcia (Hiam Abbass, apagada), a atual, e Lady Caroline (Harriet Walter, reduzida a poucas frases de efeito), ácida sem causar diferença – deixou muita gente se perguntando qual seria a real função delas no enredo. Outro conflito, este entre o velho magnata e o candidato interpretado por Eric Bogosian, também ficou a ver navios. O diretor Mark Mylod e o roteirista Jesse Armstrong (também criador do programa) tinham essas distrações ao alcance, mas seus interesses estavam em outro lugar.

E onde era isso? Na figura do filho trágico, que ensaia uma revolução, mas acaba tragado pelos próprios pecados. Kendall é aquele com quem simpatizamos, ainda que suas falhas sejam tão desprezíveis quanto as dos demais. No entanto, ele é humano, é o que beija a sarjeta e não desiste de recomeçar, mesmo quando não há mais caminho possível a ser seguido. Das estratégias empresariais ao mergulho no mundo das drogas, tudo acaba soando, quando em suas mãos, como meras distrações de um menino rico legitimamente interessado em fazer algo de bom, ainda que o seu destino inexorável seja proporcionar o surgimento do mal. O abraço paterno, que o acolhe e protege, também serve para cortar suas asas, determinando um rumo sem volta. E se muito havia sido planejado em um sentido inverno, a reviravolta termina por ser óbvia e simplista ao extremo, ao ponto de evitar temperaturas mais elevadas. Ao invés de discussões bombásticas, o espectador se vê obrigado e se contentar com lágrimas fugidias, de estafa e resignação.

Succession, no entanto, foi uma empreitada bem-sucedida, e disso ninguém pode questionar. Uma história que se passa em grande parte nos bastidores, com seres envoltos por um ar tão rarefeito que parece alienígena, e mesmo assim capazes de seduzir audiências diversas, tanto pelas conspirações possíveis, traições inegáveis e atestados de inconformidade que, por fim, acabam levantando mais poeira do que levando a consequências irreversíveis. Este elemento, a impossibilidade de retorno, é aquele que mais se combate e, no fim das contas, ao qual tudo acaba se reduzindo. E assim, encerra-se como tudo começou, com relações talvez um pouco mais acirradas, mas com as mesmas dinâmicas de antes. Foi interessante acompanhá-los até aqui. Mas nada garante que o próximo passo seja digno da mesma atenção depreendida até agora.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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