Crítica


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Sinopse

Eleanor, Chidi, Tahani e Jason estão finalmente juntos, mas Trevor, o demônio, se intrometeu no caminho deles, e fará de tudo para separá-los. A não ser que Michael e Janet consigam impedi-lo.

Crítica

Após duas temporadas em que os quatro humanos recém falecidos – Eleanor (Kristen Bell), Chidi (William Jackson Harper), Tahani (Jameela Jamil) e Jason (Manny Jacinto) – se viram no Lugar Ruim, pensando ser o Lugar Bom, e assim que descobriam a verdade lutavam bravamente para, enfim, escapar do Inferno e chegar ao Céu (ainda que estes termos religiosos, felizmente, não sejam empregados), The Good Place deu uma importante guinada em sua terceira temporada: a turma inteira foi enviada de volta à Terra, com o cancelamento das suas mortes, e assim ganharam uma segunda chance para se mostrarem merecedores de um espaço no Lugar Bom. Michael (Ted Danson) e Janet (D’Arcy Carden), o demônio e sua auxiliar, ambos responsáveis tanto pela desgraça como pela tentativa de redenção do grupo, deveriam apenas monitorar o comportamento deles. Mas é claro que não conseguem se conter por muito. E a interferência deles, assim como a intromissão de um outro diabo (Adam Scott), certamente colocará tudo a perder. Ou não?

A questão é a seguinte: Eleanor e Chidi se apaixonam, por mais inusitado que tal desfecho possa parecer. E mesmo que alguns possíveis cenários os coloquem apenas como amigos, há uma forte torcida para que fiquem juntos. No episódio de estreia dessa nova temporada, a adição de Simone (Kirby Howell-Baptiste) gerou uma tensão interessante – ainda que não plenamente desenvolvida até o momento – entre os três, com a concepção de um possível triângulo amoroso. Porém, bastou darem atenção para os rumos e atitudes de Tahani e Jason para esses, facilmente, roubarem as atenções para si. Queremos mais dos dois? Com certeza. Mas na série criada por Michael Schur (vencedor de dois Emmys, por Saturday Night Live, 2002, e por The Office, 2006), os protagonistas são, enfim, Eleanor e Chidi. E ao invés de investir no lado cômico da milionária e do sem noção, o que recebemos aqui é um olhar mais próximo do romance ainda não concretizado entre a mocinha e seu insuspeito cavaleiro.

E se o tom meloso parece fora do contexto adotado por The Good Place até aqui, não é motivo para desespero (ao menos ainda não). E isso porque temos Michael e Janet em ação. Os fracassos de ambos em atrapalharem os planos de Trevor (Scott) são não menos do que hilárias, seja pela inadequação de ambos em suas interações terráqueas, seja pela simples falta de tato deles em serem, enfim, bons – estamos falando de criaturas diabólicas, afinal. E como se os três não fossem suficientes, ainda temos o Porteiro (“torço por você, homem-sapo”) e, por fim, mas não por último, a Juíza (Maya Rudolph, literalmente roubando a cena a cada aparição). É por causa dela que descobrimos, por exemplo, que por não terem se contentado em suas condições de observadores, Michael e Janet acabaram gerando efeitos colaterais gravíssimos na Terra – como a Inglaterra ter abandonado a Europa (!) ou “aquele musical do Hugh Jackman sobre P. T. Barnum ter arrecadado mais de US$ 400 milhões nas bilheterias” (a citação de O Rei do Show, 2017, é impagável). No final, a decisão dos dois em contrariar a decisão da Juíza e seguirem ao lado dos amigos é garantia de que mais problemas como esse devem estar reservados para os próximos capítulos.

The Brainy Bunch – uma piada com a antiga série The Brady Bunch (1969-1974) – é uma referência aos quatro infelizes que, mesmo sem saberem, precisam se tornar pessoas melhores, e às tentativas tanto de Trevor em separá-los como as de Michael e Janet de ajudá-los a seguirem juntos. Com o primeiro, aparentemente, fora do cenário, conseguirão os demais serem bem-sucedidos? Não é uma aposta fácil de se fazer. Afinal, a Juíza é ninguém menos do que “A Juíza”, aquela que pode tudo, e não deverá se manter à parte por muito tempo. E é bom também não esquecer de Shawn (Marc Evan Jackson), o demônio-chefe que já está ciente de toda essa confusão. O Lugar Bom, pelo que se vê, pode estar cada vez mais longe. A não ser que decidam fazer da própria Terra, enfim, um lugar melhor.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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