Crítica


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Sinopse

Eleanor, Chidi, Tahani e Jason descobriram a realidade sobre suas mortes e a existência do Lugar Bom e do Lugar Ruim. Assim, cientes do que lhes irá acontecer no fim de suas vidas, eles simplesmente se deixam levar, e, com isso, acabam se tornando justamente aquilo pelo qual tanto se esforçaram: pessoas melhores!

Crítica

A Fracture Inheritance, ou algo como “Uma Herança Fraturada”, é o título do sexto episódio da terceira temporada de The Good Place, série que começou muito bem, teve um segundo ano excelente, mas segue patinando para encontrar seu rumo nesta third season. Para quem chegou somente agora, uma rápida recapitulação. Eleanor (Kristen Bell), Chidi (William Jackson Harper), Tahani (Jameela Jamil) e Jason (Manny Jacinto) morreram, e ao invés de irem direto para o Lugar Ruim (a ideia de Inferno é tão católica...), fazem uma parada antes de um ambiente experimental, parte da tortura planejada pelo demônio Michael (Ted Danson). Ou seja, eles pensam estar no Lugar Bom, ainda que nunca tenham feito por merecer. Acontece que o Anjo do Mal acaba se afeiçoando a eles, e decide lutar para dar-lhes uma nova chance. E, em poucas palavras, é onde nos encontramos agora: de volta à Terra, em suas vidas pré-existentes, motivados – agora em grupo – a se tornarem pessoas melhores e, assim merecerem, de fato, um melhor destino pós-morte.

Acontece que se o charme da primeira temporada era justamente eles não saberem o que estava lhes acontecendo, e o da segunda eram os esforços no além para se tornarem merecedores de todo tipo de apoio que servisse para evitar a danação eterna, o que vemos agora é a presença deles em ambientes controlados – e o pior, desprovidos de suas características mais interessantes. Michael e sua fiel assistente, Janet (D’Arcy Carden) se tornaram figuras apagadas, enquanto que Eleanor, Chidi, Tahani e Jason fazem apenas repetir seus velhos chavões. Falta interação entre eles, as surpresas, quando aparecem, logo se dissipam, e é até preocupante se questionar o que exatamente estão fazendo em cena. Precisam melhorar suas pontuações para se saírem melhor no Julgamento Final, mas continuam sendo exatamente as mesmas pessoas de antes – por mais que insistam em afirmar que estão mudados. Faça o que digo, não faça o que faço.

A Fracture Inheritance é, em uma análise mais detalhada, apenas uma repetição daquilo já visto em The Ballad of Donkey Doug, o episódio anterior. Se antes Chidi precisava acertar as coisas com a namorada, agora é a vez de Tahani fazer as pazes com a irmã, sua eterna nêmesis. Enquanto isso, se antes sentimos o tédio familiar do reencontro de Jason com o pai, o toque paternal é substituído por uma participação maternal: é Eleanor que precisa descobrir como perdoar a mãe há muito dada como morta, mas que está viva e bem levando uma vida com um novo marido e filha sob um nome falso. E se as desavenças entre Tahani e Kamilah terminam por se resolver com um simples abraço – a própria comicidade dos duelos entre elas se perde diante tamanho melodrama – é no segmento dedicado à Eleanor que verificamos maiores tropeços. Pra começar, por que colocar uma atriz apenas nove anos mais velha do que a protagonista para interpretar sua mãe?

Não há problema em incluir participações familiares em The Good Place. Afinal, estamos no terceiro ano, e é natural que os produtores demonstrem preocupação com o esgotamento da fórmula – e a inserção de novos personagens pode oferecer um fôlego novo aos seis protagonistas. Porém, quanta diferença faria se essas novidades não surgissem de forma tão esquemática, quase matemática, e se optasse por adições mais orgânicas e naturais. Há ainda mais seis capítulos até o encerramento dessa temporada – estamos somente na metade – e ainda há tempo para uma retomada de caminho. Basta ter fé. Afinal, do Lugar Ruim para o Bom não pode ser tão difícil. Até por que, esta é a única motivação que os mantém vivos, não é mesmo?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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