Crítica
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Sinopse
A saga de um guerreiro solitário, que também é um mercenário e pistoleiro, viajando pelos territórios esquecidos e marginais do espaço, logo após a queda do Império e antes da criação da temida Primeira Ordem.
Crítica
Um dos méritos da primeira temporada de The Mandalorian, série derivada da saga Star Wars, foi alinhavar um tecido de referências a estilos/modelos narrativos para sustentar a trama protagonizada pelo caçador de recompensas levado pelas circunstâncias a cuidar de uma criança de raça indefinida. O segundo ano do programa capitaneado por Jon Favreau começa reafirmando a essência reverente, especificamente ao faroeste. Em O Xerife, Mando (Pedro Pascal) tem uma típica aventura decalcada das ambientadas no Velho Oeste estadunidense. Ele chega a uma vila conturbada pelo inimigo potencialmente invencível e une forças com a autoridade local para ambos chegarem aos seus objetivos. Timothy Olyphant vive Cobb Vanth, personagem que aceita devolver sua armadura mandaloriana desde que garanta a salvaguarda dos moradores. Todo o esqueleto é do western, vide antagonistas aliando-se para acabar com uma ameaça maior em comum, mas também as composições de quadro alusivas ao gênero e às terminações nervosas de sua estrutura matriz.
No entanto, mesmo seguindo a toada de valer-se de narrativas consagradas, no episódio inaugural é perceptível uma vontade de inclinar o enredo para ele encontrar-se mais diretamente com o universo construído nas três trilogias responsáveis por consolidar esse mundo complexo como um dos mais celebrados da cultura pop. Cobb não ostenta uma vestimenta qualquer, mas a de Boba Fett (Temuera Morrison), personagem importante da franquia cinematográfica, o primeiro indício dessa aproximação vertiginosa que, adiante, ganha reforço considerável com a aparição dos jedis. Nesse segundo ano, ao largo de subtramas que parecem em princípio frugais – como o transporte perigoso da mãe que pode levar o protagonista ao caminho dos guerreiros que empunham o sabre de luz – Favreau e companhia desenham de maneira consistente a inserção de Mando no contexto sócio-político da galáxia. Ao deparar-se com uma herdeira do trono de Mandalore, por exemplo, o andarilho descortina parte vital da luta de velhas engrenagens se rearranjando.
Ainda no que diz respeito à introdução frontal de Mando e da Criança nessa conjuntura pós-derrota do Império, a reunião de antes aliados, a investida contra focos de permanência da organização nefasta e uma aproximação das conjunturas que antecederam os eventos de Star Wars: O Despertar da Força (2015). Diluindo melhor as citações/homenagens após o primeiro episódio bastante similar em tom aos da temporada inaugural, The Mandalorian aposta num misto de valorização da aventura, diagnóstico de uma galáxia convulsionada e aprofundamento do elo emocional entre o homem que nunca tira o capacete e o pequeno transformado no alvo mor do fascismo espacial. Aliás, há circunstâncias que podem bem ser compreendidas como menções ao nazismo, haja vista as experiências científicas sombrias tendo como princípio o sangue da Criança. Existem insinuações que criam uma ponte com nossa contemporaneidade. Frases sintomáticas, do tipo “o povo não quer liberdade, mas ordem” infelizmente caberiam na boca de mandatários atuais.
Como era de se esperar num projeto bem-sucedido que prevê continuação, pontas ficam soltas. Assim, os ganchos são ativados. A nobre mandaloriana atuante como aliada de Mando – desde que ele a ajude a cumprir certas tarefas – é uma figura ambígua, especialmente por se vincular espontaneamente ao arquétipo da aliada de ocasião que, pelas suas ambição e determinação desmedidas, pode se tornar adiante uma ameaça. Embora sejam adequadas ao desenrolar do enredo, as presenças de Boba Fett e Ahsoka Tano (Rosario Dawson) têm várias funções, entre elas as suas apresentações nessa dinâmica serializada, numa espécie de teaser, já que ambos personagens ganharão programas para protagonizar. Desse modo, a segunda temporada de The Mandalorian se sai bem inclusive dentro da intenção da Disney de engatilhar um universo interligado das séries derivadas dos filmes Star Wars. O plano de negócio está ali, escancarado, mas não asfixia o andamento da história. O case de sucesso passa também pela habilidade ao negociar com essa necessidade de mercado.
The Mandalorian dá um passo adiante não apenas quanto à sua inclusão num cronograma maior, mas também a respeito da investigação afetiva do personagem principal. Mando demonstra em vários instantes a disposição por quebrar regras e crenças se isso garantir a salvaguarda de Grogu (sim, o nome da Criança é revelado). Desse jeito, as simetrias entre os dois órfãos que encontram no outro a possibilidade de estabelecer um laço próximo ao familiar ganham ares adensados de imprescindibilidade. A despedida é inevitável (aliás, é a missão de Mando encontrar os jedis e fazê-los acolherem o pequeno), mas ela não será um processo necessariamente fácil do ponto de vista emocional. Jon Favreau vence os desafios inerentes às sequências de algo tão celebrado, oferecendo uma segunda temporada empolgante aos fãs da primeira, mas dando passos adiante, por não se contentar com o mais do mesmo. Moff Gideon (Giancarlo Esposito) se consolida como vilão temível nas movimentações intestinais do Império que anseia retornar e um ícone, brandindo um conhecidíssimo sabe de luz de cor verde, inunda de saudosismo os minutos derradeiros. Os fãs agradecem.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 8 |
Victor Hugo Furtado | 8 |
Rodrigo de Oliveira | 9 |
Robledo Milani | 9 |
Sarah Lyra | 9 |
MÉDIA | 8.6 |