Crítica


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Sinopse

Olívia, atriz de sucesso, em pleno processo de luto, é convidada a estrelar uma série sobre a vida dos Romanov. No set, ela encontra uma artista de prestígio, um galã sedutor e vários elementos que a fazem estranhar o entorno.

Crítica

Intitulado House of Special Purpose, o terceiro episódio de The Romanoffs é, até agora, o melhor da série. Seus dois antecessores ficaram bastante aquém das expectativas, com tramas banais temperadas de maneira frágil pela linhagem russa que pretensamente sustenta o conjunto. Aqui a protagonista é Olivia (Christina Hendricks), atriz famosa que chega para fazer parte, exatamente, da produção de uma série de TV sobre os Romanov. A metalinguagem, portanto, é um dos pilares da narrativa, utilizada com perspicácia pelo diretor Matthew Weiner a fim de embaralhar as duas instâncias da ficção, acentuando a desorientação dessa estrela que surge para salvar o programa com sua reputação amplamente reconhecida midiaticamente. Ao chegar, ela demonstra toda a sua admiração por Jacqueline (Isabelle Huppert), premiada intérprete que, então, dá seus primeiros passos como diretora, constantemente evocando a descendência da família russa para justificar um suposto conhecimento superior da trama a ser encenada às câmeras da televisão na Áustria.

House of Special Purpose é sobre os bastidores da série gravada com pompa. O principal elemento desse capítulo é a desorientação de Olivia diante de circunstâncias estranhas, como a falta de interesse de Jacqueline em seu trabalho, os rompantes de raiva que ocasionalmente surgem no set, bem como a história nebulosa por trás da saída da profissional a quem ela substitui. Não é dado ao espectador mais do que a protagonista sabe, ou seja, permanecemos num semelhante breu de incertezas, tentando conjecturar a partir das migalhas de informações recebidas. Dessa maneira, há um convite para embarcar na instabilidade da personagem de Christina Hendricks, que enfrenta toda essa turbulência interna/externa – aparentemente inerente a algo que fale de uma dinastia marcada pela violência e a desgraça – enquanto está num processo de luto pela perda recente da mãe. Samuel (Jack Huston), o intérprete de Rasputin, é outro enigma difícil de ser decifrado, ora cordato e carinhoso, ora aparentemente possuído e indócil.

Embora não radicalize essa confusão, frequentemente oferecendo uma área confortável logo após fazer menção a uma desordem considerável, House of Special Purpose funciona pela construção de uma volubilidade que tem a ver com o entorno, vide as esquisitices, como os membros da equipe que mentem sobre não saber falar inglês e as recepcionistas do hotel passando informações falsas. No entanto, relevantes são essencialmente os efeitos disso no estado de espírito/mental de Olívia. Em dado momento ela vê uma menina, vestida como fantasma do passado, atravessando seu quarto à noite e repousando no armário. A Matthew Weiner pouco importa se tratar de uma peça pregada pela equipe ou de visão motivada por uma mente em turbulência, pois importante é estudar os efeitos da incerteza, não necessariamente a explicação por trás dos eventos extraordinários. De quebra, há várias observações concernentes ao mundo do entretenimento, como visto no jantar com os investidores, no qual artistas são instados a bajular os que fazem o show acontecer.

Dentro das observações que dizem respeito aos bastidores da televisão e do cinema, há a disputa de egos, a insegurança da beldade diante de um desafio novo, a dependência do paternalismo do agente, o parceiro de cena que exagera ao encarnar o personagem e a falta de comunicação efetiva entre chefia e atores. Uma piscadela aos mais atentos é o nome do diretor de fotografia da produção, László, homenagem direta ao grande László Kovács, húngaro reconhecido como um dos maiores nomes da chamada Nova Hollywood, fotógrafo, entre outros de Sem Destino (1968) e Cada Um Vive Como Quer (1970), para citar apenas dois dos mais famosos. House of Special Purpose se encerra de maneira contundente, mais uma vez embaralhando verdade e ficção, proporcionando uma releitura dos eventos que levaram ao fim da dinastia dos Romanov, não sem antes retratar o suposto desvario da descendente inclinada a “salvar”, como lhe convém, os brutalmente mortos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.