Crítica


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Sinopse

Em um único dia em Nova York, uma mulher é confrontada por cada mentira que contou.

Crítica

A protagonista de Expectation, quarto episódio da primeira temporada de The Romanoffs, é Olivia (Amanda Peet), em crise por conta da iminência do nascimento do seu primeiro neto. Ela guarda um segredo que pode mudar o estabilizado panorama familiar. Sua filha foi gerada num caso extraconjugal com o amigo Daniel (John Slattery), escritor que outrora se debruçou sobre a história dos Romanov. De forma inconsistente, a história caminha lançando estilhaços de um drama nem sempre delineado com potência. Às vezes parece que tudo se trata de uma resposta inconsciente ao fato da juventude se distanciar. São vários os instantes em que a mulher se enerva diante de características da nova geração, vide a alienação da filha, que soa como retrocesso, ou a falta de educação de um rapaz que lhe toma a cadeira num espaço público. Noutros momentos, é, sobretudo, como se a vida marcada pela mentira gerasse a angústia potencializada pela proximidade do parto.

Expectation, assim como boa parte de seus predecessores, utiliza a linhagem russa como desculpa esfarrapada para oferecer um entrecho repleto de elementos comuns. Há pouca singularidade, no que diz respeito tanto à forma quanto ao conteúdo. Com interpretações burocráticas, esse fragmento tenta encontrar uma voz própria na dinâmica do roteiro, pautada pelas revisitas constantes às circunstâncias de um passado recente. Todavia, essa estrutura cheia, portanto, de flashbacks torna o conjunto ainda mais desprovido de personalidade. Olivia apresenta características que supostamente serviriam para contextualiza-la melhor, afastando-a do ordinário. Mas, a consciência social, superficialmente motivadora da discussão com a filha feliz no papel da esposa abastada, é pouco aproveitada, inclusive indicando o caminho para uma passagem completamente descartável, a lembrança de um incidente envolvendo a menina que, desesperada, agrediu sua benfeitora na cabeça.

The Romanoffs segue aquém do esperado, especialmente pelo desperdício da mítica da dinastia na qual supostamente se fundamenta. Sem recorrer ao ontem, mencionando a linhagem somente de passagem, Matthew Weiner novamente evita substanciar os dramas vigentes com a carga trágica da consanguinidade. O enredo se baseia nas tristezas duras de Olivia por ver a pressão no peito aumentar em virtude da inconfidência, e nas reclamações melancólicas de Daniel, cujo fardo é observar de perto o crescimento da filha sem poder, ao menos, declarar-se como pai. É a imediação da mudança de status que traz fortemente à tona essas questões. Os coadjuvantes são meros penduricalhos, haja vista a aparição pontual do marido, o subaproveitamento da filha grávida e a praticamente nula intervenção da esposa de Daniel, personagem que está mais para figurante creditada. Falta tônus a essa trama previsível em que a verdade pede passagem.

Amanda Peet possui ápices de pura introspecção, por ventura da inquietude que a chegada do novo membro da prole acarreta em Olívia. Ela segura bem essa responsabilidade de centralizar os dilemas de Expectation, mas é combalida pela frouxidão do roteiro ao entrelaça-la com os demais, exceção feita a Daniel, com quem ganha cenas de flagrante relevância. A somatização desse torvelinho emocional, seguida da compreensão da filha à beira do leito hospitalar, são sutilezas certeiras, encarregadas de tornar a amplitude do painel mais densa, algo infelizmente ausente no restante do episódio. O cruzamento dos desejos com as realidades tampouco funciona a contento, sendo sintomático de uma construção frágil, baseada nas reações superficiais e pontuais (além de um tanto banais) a um evento futuro que desencadeia o revolvimento do passado. The Romanoffs precisa melhorar muito para se aproximar da expectativa gerada desde os seus estágios iniciais.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.