Crítica
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Sinopse
Uma criança mata os pais ao dar a eles duas xícaras de chá envenenado. Ao prender o menino, a policial encarregada pelo caso decide chamar o detetive Ambrose, famoso por ter solucionado o caso de Cora Tannetti um ano ano, para ajudar nas investigações sobre o que motivou o garoto a cometer tamanha barbaridade.
Crítica
Pensada inicialmente como uma minissérie de apenas oito episódios, The Sinner acabou fazendo tanto sucesso que os executivos da USA Network, emissora norte-americana responsável pela produção, decidiu encomendar novas temporadas, transformando-a em uma série. Porém, ao contrário de shows como American Horror Story (2011-) ou True Detective (2014-), que funcionam como antologias e cada temporada é independente da anterior, aqui, essa intenção fica apenas no meio do caminho. Afinal, entre o primeiro e o segundo ano há apenas um personagem proeminente que se mantém constante: o detetive Harry Ambrose, vivido com um interessante desconforto por Bill Pullman. Todos os demais do elenco, assim como o próprio cenário e as motivações referentes, são substituídos. Isso, ao mesmo tempo em que oferece um ar de novidade, também serve para manter as atenções dos fãs cativados pela leva anterior de episódios. Ou seja, joga em dois campos, e se sai razoavelmente feliz em ambos.
O meio termo percebido nessa segunda temporada vem pelo fato de que, como dito anteriormente, o ano de estreia foi muito bem sucedido, e manter as expectativas foi uma tarefa mais difícil do que se esperava. Se em Cora o que se tinha pela frente era uma jovem mãe de família que, num belo dia de sol à beira do lago, decide em frente a todos os presentes assassinar com golpes de uma faca de cozinha um desconhecido que também estava ali com amigos interessado apenas em desfrutar um dia de folga, em Julian a situação é um pouco mais complicada. A começar pelo fato do crime cometido ser mais grave – duas pessoas são mortas, ao invés de apenas uma – e a violência não se dá num momento de descontrole, mas de modo premeditado. Para piorar, o responsável é uma criança de não muito mais do que dez anos de idade.
Julian Walker (Elisha Henig, de Mythic Quest; Raven’s Banquet, 2020) está indo passar um final de semana com os pais visitando as Cataratas de Niágara. Isso, ao menos, é o que o espectador é levado a acreditar. No meio do caminho, um pneu do carro fura, e eles são obrigados a se hospedar em um hotel de beira de estrada enquanto o conserto não vem. No dia seguinte, após o café da manhã, o pai deixa o menino sozinho e vai acordar a esposa. Poucos minutos depois, o garoto aparece no quarto, com duas xícaras de chá. Assim que os adultos tomam o que lhes é dado, em questão de minutos estão no chão se contorcendo – a bebida estava envenenada. Quando a polícia chega, o autor do duplo homicídio se entrega sem resistência, e não nega nenhuma acusação. O inesperado do crime é similar e mantém a coerência da proposta do programa criado por Derek Simonds (roteirista de When We Rise, 2017, e produtor de Me Chame Pelo Seu Nome, 2017). O que muda, no entanto, é justamente o envolvimento daquele que deveria acentuar essa constância.
Afinal, se antes Ambrose fica do lado de Cora desde o momento em que se conhecem e passa os capítulos seguintes tentando descobrir o que a motivou a cometer a agressão que a colocou atrás das grades, deixando claro que via a acusada como mais uma das vítimas, dessa vez é a dúvida que permeia suas ações. Ele não está certo que Julian seja tão inocente quanto Vera Walker (uma impressionante Carrie Coon, na melhor atuação da temporada, completamente entregue a uma personagem que tem tudo para ser antipática, mas capaz de prender a atenção da audiência justamente pelo inesperado e, por isso mesmo, eficiente em justificar suas ações) gosta de declarar. Para começar, a própria relação entre ela e o acusado: primeiro declara ser a verdadeira mãe do rapaz, para logo em seguida ser revelado que se trata da mãe adotiva. O casal que foi morto, por sua vez, não possuía nenhum parentesco com Julian. As mentiras logo começam a se multiplicar. São muitos os questionamentos, e poucas as certezas.
Dessa vez, Ambrose é chamado para uma pequena cidade do interior para ajudar nessas investigações não apenas pelo sucesso do seu caso anterior – que lhe deu fama e reconhecimento entre os colegas – mas também por se tratar do local que abandonou tantos anos atrás. Quem o convida é um amigo de infância, interpretado por Tracy Letts. Ele talvez seja o maior erro do novo grupo de atores, e não por não estar à altura do tipo que precisa defender – muito pelo contrário. Afinal se trata de alguém importante demais – vencedor do Pulitzer e do Tony pelo texto que deu origem ao filme Álbum de Família (2013), tem se destacado também como ator (só no último ano esteve no elenco de dois sucessos indicados ao Oscar de Melhor Filme: Adoráveis Mulheres, 2019, e Ford vs Ferrari, 2019). Quando alguém de tamanha importância se mostra presente, é sabido que não será para apenas oferecer café da manhã ou servir de pouso para o protagonista. E quando sua relevância finalmente se comprova, mostrando-se como uma das peças chaves da narrativa, tal descoberta já terá sido mais do que antecipada, ao menos pelos espectadores mais atentos.
Combinando uma forte crítica ao fanatismo religioso (construído de forma elegante e nada gratuita) e se aproximando perigosamente de conspirações imaginadas apenas em pequenas e restritas comunidades, o segundo ano de The Sinner ganha força ao se aprofundar no passado de Ambrose, ao mesmo tempo em que perde tempo precioso com um mistério que muito provavelmente faria mais sentido em uma novela vespertina. Se o tom sofre ao ser alongado além do necessário, da mesma forma o show também se ressente dessa continuação improvisada às pressas apenas para atender a uma demanda que veio com muito mais força da audiência do que por parte dos realizadores. Como o terceiro ano já foi lançado – e uma quarta temporada também está confirmada – é chegado o momento de renovar as expectativas. Pois se não estão mais tão altas como antes, também não chegam a beijar o chão em desespero. Defender o indefensável soa como um caminho sem volta, mas o que Bill Pullman e seu apreço pelo inesperado tem mostrado é que há mais a se descobrir além daquilo tão evidente aos olhos despreparados. E esse prazer, ao menos, continua intacto.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Daniel Oliveira | 6 |
Cecilia Barroso | 6 |
MÉDIA | 6 |