Crítica
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Sinopse
Wanda Maximoff e Visão são dois seres extraordinários que têm uma vida aparentemente ideal no subúrbio. Mas, elas começam a suspeitar que as aparências podem ser mais enganosas do que imaginam.
Crítica
Quem lê quadrinhos, afirma: Wanda é, provavelmente, a mais poderosa de todos os Vingadores (páreo, apenas, com Thor, e olhe lá). Esse potencial quase inesgotável, no entanto, nunca chegou a ser explorado a contento no cinema. Dentro do Universo Cinematográfico Marvel – que, a partir de agora, talvez devesse ser rebatizado como Universo Audiovisual Marvel – ela primeiro apareceu em uma cena pós-crédito de Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014), e finalmente disse a que veio em Vingadores: Era de Ultron (2015). Sem um longa específico para chamar de seu, continuou dando as caras em Capitão América: Guerra Civil (2016) e no díptico Vingadores: Guerra Infinita (2018) / Vingadores: Ultimato (2019), sempre em participações mais ou menos discretas, geralmente como parte de um todo, e (quase) nunca no centro das atenções. Pois essa situação, enfim, muda com a estreia de WandaVision, série que marca o início da Fase 04 da editora no cinema (ou televisão, ou streaming), ao mesmo tempo em que passa, de uma vez por todas, a explorar essa outra mídia, além da tela grande, após os ensaios com a Netflix (Demolidor, 2015-2018, entre outras) ou com emissoras de sinal aberto (Agents of S.H.I.E.L.D, 2013-2020, por exemplo). E o resultado, ainda que dentro de um padrão há muito sedimentado, tem mais ganhos do que perdas.
Como se percebe, Kevin Feige, a mente por trás de tudo que tem sido visto a respeito da Casa das Ideias na última década, tinha um plano bem traçado – inclusive no que dizia respeito ao destino de Wanda e seu grande amor, o robótico Visão. E assim como desenhou a trama das Joias do Infinito ao longo de mais de duas dezenas de longas-metragens, também o fez a respeito da saga de uma mulher que tudo perde, mas que, por ser dona de um poder quase infinito, decide esse mesmo tudo recuperar, por mais artificial que possa ser essa reconquista. O que Feige fez, portanto, foi apenas reduzir as expectativas. Sem se preocupar com mil e um desdobramentos, optou por se concentrar nos dois personagens de maior impacto, ao mesmo tempo em que aprendeu a delegar tarefas: no caso, para a criadora da série, a roteirista Jac Schaeffer (que apesar de ter escrito antes o tenebroso As Trapaceiras, 2019, está responsável também pelo texto do ainda inédito Viúva Negra, 2021), e o diretor de todos os nove episódios, Matt Shakman (indicado ao Emmy por The Great, 2020, e ao DGA por Game of Thrones, 2017).
Foram estes dois, portanto, que determinaram os caminhos a serem seguidos por Wanda e Visão, mas, ainda mais importante do que isso, também decidiram como estas trajetórias seriam percorridas. E este é o diferencial de WandaVision. Se “grandes poderes trazem consigo grandes responsabilidades” (como muito bem sabe o Amigão da Vizinhança), como aquela de maior potencial conseguirá seguir adiante após tantas e consecutivas perdas? Wanda Maximoff perdeu os pais em um atentado quando criança, viu o irmão, o velocista Pietro, ser baleado em meio à tomada de Sakovia, e não conseguiu impedir que Visão, aquele a quem havia confiado seu coração, fosse eliminado pelo vilão Thanos. Sem mais nada a perder, lhe restava apenas a loucura. E, para evitar isso, e talvez se perder em si mesma, opta por um retiro carregado de ilusão fabricada. Ao criar uma cidade inteira de acordo com seus desígnios, consegue fazer com que tudo ali funcione de acordo com sua vontade: inclusive trazer Visão de volta à vida.
Wanda está, enfim, no controle, e não irá permitir que ninguém mais interfira em sua felicidade – mesmo que seja essa uma falsa sensação. É como um sono bom, do qual não quer mais acordar, pois a única outra opção seria enfrentar um pesadelo. Mas é poder demais em ação, e há um preço a ser pago por isso. No decorrer dos episódios, é permitido ao espectador perceber como Wanda vai perdendo o controle. Aos poucos, os cidadãos que ela, ainda que inadvertidamente, acaba enclausurando dentro dessa ilusão, começam a emitir sinais de socorro. Os filhos, que surgem mesmo contra os mais otimistas prognósticos – afinal, o pai é um robô – passam a agir por conta própria. E, mais importante do que qualquer outra coisa, é Visão quem começa a se perguntar quem, de fato, ele é. O retorno do irmão há muito falecido – ainda que sob nova aparência – e a revelação da verdadeira identidade de uma peça-chave do jogo são outros elementos que agregam ao caos, sendo que este está a todo instante a um passo de ser deflagrado.
Além disso, há aqueles do lado de lá do mundo de faz de conta criado por Wanda. Com a inserção de personagens já conhecidos do público, como Monica Rambeau (afilhada da Capitã Marvel), o agente do FBI Jimmy Woo (responsável pela custódia do Homem-Formiga) e a cientista Darcy Lewis (melhor amiga da namorada do Thor), é possível que se melhor entenda como o resto do mundo está reagindo a esse descontrole emocional da heroína. Há muito em jogo, e Feige e sua equipe não tem pressa em colocar cada peça no seu devido lugar. Desde o visual de perigo eminente assumido no que se poderia chamar de “vida real”, como o ar de leveza e descontração forçosamente imposto por Wanda no seu cenário fantasioso, há uma constante inquietação em ambos os cenários. Conseguir manter essa curiosidade durante toda uma temporada, provocar reviravoltas sem apelar para truques facilmente descartáveis e oferecer explicações plausíveis – e lógicas dentro do contexto explorado – é, provavelmente, o maior dos méritos do programa.
Nada disso seria possível, é claro, não fosse o comprometimento de Elizabeth Olsen e Paul Bettany como os protagonistas. Ela é pura emoção, ele é a razão fria e objetiva. Agora à frente dos dramas vividos pelos personagens, carregam com habilidade o dilema que enfrentam. Outro destaque do elenco é Kathryn Hahan, que finalmente recebe a atenção que merece. Ganham pontos, também, pela escolha de Schaeffer e Shakman em fazer de cada um dos primeiros capítulos uma homenagem às décadas de ouro do sitcom norte-americano, de I Love Lucy (1951-1957) e A Feiticeira (1964-1972) até The Office (2005-2013) e Modern Family (2009-2020), passando por Cheers (1982-1993) e The Real World (1992). Dos enquadramentos de câmera aos figurinos, do preto-e-branco ao colorido, cada elemento acaba se adequando como se programas das citadas épocas fossem, reflexo da confusão enfrentada pela própria Wanda. É um carinho a mais, tanto aos fãs como também aos espectadores que apenas agora estão chegando a esse universo, servindo como oferta de algo novo – ou seja, a busca pela originalidade permanece – mas também sólido – pois há fortes laços com o que vinha sendo visto até então. E se em sua conclusão um gosto amargo possa permanecer, não há motivo para desgosto: afinal, como quase tudo por aqui, este é só mais um passo de uma longa caminhada que ainda tem bastante a oferecer.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Ailton Monteiro | 8 |
Lucas Salgado | 7 |
Daniel Oliveira | 6 |
Chico Fireman | 6 |
Rodrigo de Oliveira | 7 |
MÉDIA | 6.8 |
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