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Sinopse

Dr. Robert Ford está morto. Quais serão os próximos planos a se desenvolverem no parque temático que ele criou? Charlotte Hale está determinada a cumprir sua missão e garantir a sobrevivência do negócio, ao mesmo tempo em que o grupo liderado por Dolores Abernathy dá a entender que está preparado para qualquer desafio. Ao mesmo tempo, Maeve Millay segue atrás dos seus próprios interesses pessoais.

Crítica

Após uma temporada inicial em 2016 que deixou mais dúvidas do que respostas, Westworld está de volta. A série, inspirada no conceito que deu origem à Westworld: Onde Ninguém Tem Alma (1973), longa escrito e dirigido por Michael Crichton – o mesmo autor do livro no qual se baseia Jurassic Park (1993) – se propõe a mostrar um parque de diversões para adultos. Um universo hiper-realista, repleto de robôs humanoides – quase indistinguíveis a olho nu de uma pessoa real – no qual aquele que se dispõe a pagar o preço exigido pode fazer de tudo com estes seu dispor – e “de tudo” de fato significa o que implica: sexo, humilhações, amizades, amor, tortura e até morte. E se o filme terminava com uma rebelião dos androides e uma indicação de que o cenário Faroeste era apenas um dentre tantos ambientes temáticos criados nas mesmas condições – e que, portanto, certamente teriam o mesmo desfecho – a série dá um passo além. E se a revolta destes criados para servir não só desse certo, como o também os colocasse a um passo de uma invasão muito maior, além dos muros aos quais sempre foram confinados?

Escrito por Jonathan Nolan (irmão de Christopher Nolan e co-autor de muitos dos seus filmes, como Batman: O Cavaleiro das Trevas, 2008, e Interestelar, 2014, em seu segundo programa de televisão, após Pessoa de Interesse, 2011-2016), Lisa Joy (Pushing Daisies, 2008-2009) e Robert Patino (Filhos da Anarquia, 2014), Journey Into Night (Jornada Noite Adentro, em tradução literal), o episódio de estreia da segunda temporada, tem direção de Richard J. Lewis, cineasta com longa carreira na televisão (foi indicada ao Emmy pela temporada passada e também por CSI: Crime Scene Investigation, 2003 e 2004) e que no cinema realizou o interessante A Minha Versão do Amor (2010), longa que recebeu uma indicação ao Oscar e ganhou um Globo de Ouro. Ou seja, não é um profissional que possa ser desconsiderado. E, assim como nos seus trabalhos anteriores, aqui demonstra forte interesse pelos personagens, maior do que pela trama em si – não que essa fosse a intenção, afinal.

Como se suspeitava – e agora se confirma – Westworld é uma série assumidamente feminina, e as três personagens mais fortes da sua história são mulheres: Dolores (Evan Rachel Wood, indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro e premiada no Critics Choice Award pela temporada de estreia), Maeve (Thandie Newton, igualmente indicada ao Emmy e ao Globo de Ouro pela temporada anterior, ignorada pelo Critics Choice mas lembrada pelo Screen Actors Guild Awards – o que não aconteceu com sua colega) e Charlotte (Tessa Thompson, vista há pouco em Thor: Ragnarok, 2017). As duas primeiras são, como podemos chamar, robôs conscientes de suas condições, porém com objetivos distintos: a primeira quer vingança, a segunda busca liberdade. Já a terceira é a humana chamada para resgatar a ordem no meio desse caos, e a cada momento revela ter uma nova carta na manga para cumprir seus objetivos.

Cada uma delas possui um homem que as segue: James Marsden, o apaixonado; Rodrigo Santoro; o selvagem; e Jeffrey Wright, o problemático. É este, aliás, o único do trio que desperta o mínimo de interesse ao espectador. Principalmente por não ser possível identificar o que, ou quem, ele é. Seria mais um dos bonecos, ou uma inteligência acima dos demais, cuja linha narrativa por ele própria elaborada imaginasse de antemão os desdobramentos que agora estamos acompanhando? Vítima ou algoz, talvez esse seja o maior mistério. Ainda mais quando nos deparamos com ele em duas situações distintas. Seriam simultâneas, ou em tempos diferentes? Somente os próximos capítulos poderão responder.

O que é real”, pergunta o ser artificial. “Aquilo que não pode ser substituído”, responde aquele responsável por sua existência. Não seguro de ter sido convincente, prossegue: “Por que continua em dúvida? Talvez por saber que não fui verdadeiro?”. A questão proposta, sabe-se, vai além do argumento óbvio. Afinal, não foi, ou não é de verdade? E em Westworld, quem, de fato, pode ser considerado ‘real’? O Homem de Preto (Ed Harris) continua com sua agenda particular, ao mesmo tempo em que o Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins) parece ter, de fato, desistido do jogo. Fim, ou apenas o começo? Com a maioria dos anfitriões eliminados, a companhia Delos determinada a garantir seus investimentos e o grupo de rebeldes dispostos a tudo para seguirem com seu intento, as opções de diversão diminuíram radicalmente, ao mesmo tempo em que os perigos atingiram níveis alarmantes. Ninguém está seguro, e nada é o que parece ser. O que vem depois? Só quem sobreviver até a próxima semana poderá desvendar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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