Crítica


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Sinopse

Os androides se rebelaram por todos os lados - e não apenas em Westworld. Enquanto isso, Dolores segue determinada a montar seu próprio exército, ao passo de Maeve está cada vez mais próxima de alcançar seus objetivos. E Charlotte, conseguirá ela acabar com a ameaça dos revoltosos e restaurar a ordem nos parques?

Crítica

Isto é o presente?”, pergunta Bernard (Jeffrey Wright), desorientado, para Dolores (Evan Rachel Wood). A busca para por esta questão, parece ter permeado a segunda temporada de Westworld, série que conta entre suas mentes criativas responsáveis nomes como J. J. Abrams e Jonathan Nolan. O primeiro, diretor de algumas das maiores bilheterias de todos os tempos, também revolucionou a televisão com programas como Lost (2004-2010), enquanto que o segundo é irmão – e co-roteirista – de quase todos os filmes de Christopher Nolan (inclusive o aclamado Batman: O Cavaleiro das Trevas, 2008). Como se percebe, ambos possuem peso suficiente para elaborarem algo que transcende o mero entretenimento, posicionando-se como autores em ebulição. E The Passenger, o décimo – e último – capítulo dessa temporada, apenas vem para confirmar essa possibilidade.

Quem é, então, esse passageiro em busca do hoje, longe das amarras de um passado que nunca viveu e proibido de alcançar um futuro com o qual apenas lhe é permitido sonhar? Seria Bernard, o que se questiona? Ou Dolores, a que parece, enfim, estar no controle? Maeve (Thandie Newton) já passou por dias melhores, e desde o momento em que reencontrou sua (?) filha, tem também deixado claro já ter cumprido sua missão. O Homem de Preto (Ed Harris) – cuja identidade não mais é um mistério – surge apenas para abrir novas portas – ou seriam possibilidades? Afinal, se dois personagens puderam se fundir em apenas um, quem garante que o mesmo processo não será mais uma vez aproveitado? Como ficou claro nos dezenove episódios anteriores, em Westworld, mais importante do que esclarecer as dúvidas que a toda hora surgem, é saber como – e de onde – elas vieram.

Charlote (Tessa Thompson), após os últimos acontecimentos, colocou em evidência uma predisposição por assumir o protagonismo da sua linha narrativa. Agora, ao menos, conseguimos identificar o que a movia neste sentido. Todos rumam ao Vale do Além, pois não só estão conscientes dos seus papeis naquele macabro parque de diversões – estão mesmo? – como também anseiam por retomarem o sentimento de serem donos dos próprios narizes. Mas conseguirão, enfim, essa liberdade? Ou apenas voltarão ao mesmo estado inicial, mais uma vez dominados por um jogo que os recolocará envoltos por sombras e disfarces, num baile de máscaras que não tem data para acabar? James Delos (Peter Mullan) e seu filho, Logan (Ben Barnes), são peças fundamentais nesse processo, e cada um – de forma consciente ou não – irá revelar novas facetas do que, de fato, estava se desenvolvendo ali. Nenhum deles, no entanto, será tão fundamental quanto o Dr. Robert Ford (Anthony Hopkins). Esse não apenas sabe para onde vai, como também conhece todos os caminhos até lá.

E se este é um conto feminino, com Wood, Newton e Thompson assumindo a frente dos acontecimentos, seus acompanhantes – James Marsden, Rodrigo Santoro e Simon Quarterman – se confirmam como peças descartáveis que invariavelmente ficam para trás. A voz masculina que surge com força nesta reta final é a de Akecheta (Zahn McClarnon), o guerreiro da Nação Fantasma que pode, enfim, ter descoberto o destino pelo qual tanto lutou. Com mais quase 100 minutos de duração – praticamente um longa-metragem, e certamente o mais longo de todos os episódios da série até agora – The Passenger oferece uma conclusão à segunda temporada de Westworld longe daquela que os fãs e curiosos certamente esperavam, mas que faz sentido de acordo com a lógica dos seus realizadores: afinal, por que oferecer respostas, quando se é possível criar muitas outras – e novas – perguntas?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.