Crítica


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Sinopse

Os androides se rebelaram por todos os lados - e não apenas em Westworld. Enquanto isso, Dolores segue determinada a montar seu próprio exército, ao passo de Maeve está cada vez mais próxima de alcançar seus objetivos. E Charlotte, conseguirá ela acabar com a ameaça dos revoltosos e restaurar a ordem nos parques?

Crítica

O sétimo episódio da segunda temporada de Westworld, Les Écorchés, chegou ao fim com uma interessante discussão sobre livre-arbítrio. Afinal, o ser humano pode, de fato, decidir o seu destino, ou esse já estaria trilhado desde a sua concepção, movido por uma força maior? E, se assim for, qual seria a diferença, então, entre homens e máquinas? Kiksuya, o capítulo seguinte – o antepenúltimo deste ano – chega justamente para proporcionar esse momento de respiro e reflexão. Afinal, a tradução mais apropriada para a palavra do dialeto Lakota que lhe dá nome seria “aglutinador”. Ou seja, é um momento de olhar para trás e tentar agrupar tudo que foi exposto até agora, buscando novos entendimentos e até mesmo permitindo ressignificações para antigos conceitos. E o meio que possibilita tal jornada, muito mais íntima e pessoal, é um personagem até então absolutamente periférico, mas que aqui ganha força e relevância: Akecheta (Zahn McClarnon).

É importante estar alinhado com o que é dito durante cada episódio, pois toda fala ou diálogo podem, de uma hora para outra, adquirirem uma importância insuspeita. Ainda que o foco desta narrativa esteja na história de Akecheta, uma figura que até então havia despertado muito mais estranheza do que curiosidade, quem abre e fecha este episódio é o Homem de Preto (Ed Harris), alguém que já sabemos ter importância fundamental não apenas para a construção do parque, mas, principalmente, para a definição dos seus verdadeiros objetivos. Sendo ele quase um ‘guia’ até a tribo Nação Fantasma, outros questionamentos também se manifestam: afinal, qual seria a ligação do povo indígena com todos os demais elos dramáticos da trama? No melhor estilo “ame ou odeio”, alguns verão aqui a possibilidade de nos aproximarmos dessas respostas, enquanto outros encontrarão apenas devaneios que, na prática, não deverão apresentar nada de novo.

A morte é uma saída de um lugar violento, e você não tem direito a essa fuga”. É assim que o doutor Robert Ford (Anthony Hopkins) define o papel de Akecheta neste tabuleiro. O índio, então, dá uma pausa para relembrar sua própria história, o despertar de sua consciência e qual função que desempenha naquele universo. Quem está diante dele neste momento é a pequena menina filha de Maeve (Thandie Newton), mas seria essa, em última instância, quem finalmente lhe presta atenção. É ela quem irá se compadecer de sua trajetória, não só vendo nele sua própria realidade, mas também se identificando com medos, anseios e preocupações. Os extremos em Westworld estão mais perto do que nunca uns dos outros.

Típico episódio de meio de temporada, Kiksuya é daqueles que poderia ser chamado de “barriga”, ou seja, surge para ocupar um espaço até então vago enquanto o final não chega. No entanto, a delicadeza e a sensibilidade com a qual a diretora Uta Briesewitz (indicada ao Emmy pela série Hung, 2009) aborda a história de amor de Akecheta pela vida, por seu povo e até por aquela que, enfim, o colocará diante do que lhes espera (Julia Jones, de Terra Selvagem, 2017). Esse processo de despertar, imagina-se, é algo pelo qual todos os robôs do parque passaram, e a busca pela saída desse labirinto revela-se uma urgência maior do que a condição de qualquer um deles. Com muito a ser revelado e pouco concluído, o caminho está cada vez mais aberto – ao menos, até que um ceifador surja para acordá-los deste sonho. Uma existência que pode ou não estar no limite: e descobrir como lidar com ela é uma tarefa da qual nenhum deles poderá se livrar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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