Crítica


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Sinopse

Definitivamente, alguns não gostam do que vêem no espelho. Mas não devem culpa-lo.

Crítica

Se os dois primeiros episódios da terceira temporada de Westworld apontavam para um outro direcionamento, distante das elucubrações filosóficas dos anos anteriores, investindo mais na ação e no andar dos acontecimentos, esse terceiro capítulo, The Absence of Field, vem como um balde d’água para arrefecer os ânimos. As teorias conspiratórias voltam a ocupar espaço privilegiado na trama, ao mesmo tempo em que as explicações desaparecem, numa nuvem de fumaça que serve apenas para confundir, ao invés de elucidar os caminhos a serem desbravados daqui para a frente. A diretora Amanda Marsalis (que já passou por séries como The Umbrella Academy, 2019, e Ozark, 2018-2020) demonstra visível esforço em obter alguma lógica dentro da estrutura proposta pelos criadores e roteiristas Jonathan Nolan e Lisa Joy, mas nem sempre consegue ser bem-sucedida nessa tarefa.

Outra mudança não muito feliz nesta terceira leva é a decisão de dedicar cada episódio a um personagem diferente. Se no de estreia o foco estava em Dolores (Evan Rachel Wood) e o segundo foi todo centrado na trajetória de Maeve (Thandie Newton), dessa vez quem está sob os olhares é Charlotte (Tessa Thompson) – e, pelo preview da próxima semana, já se imagina que será a vez do Homem de Preto (Ed Harris) receber as atenções. Charlotte, como se viu no final de Westworld T02, está morta. Ainda assim, desperta. Seria também ela um robô? Sim... e não. A explicação é um tanto canhestra, mas dentro das possibilidades aqui vislumbradas, não chega a causar espanto. A companhia Delos, responsável pelos parques de diversões ultrarrealistas, mantinha moldes dos seus principais executivos, caso fosse preciso substituí-los de acordo com suas vontades. Não se sabe se a prática ilegal chegou a ser colocada em uso, talvez não pelos que tiveram a ideia no começo, mas agora acaba sendo utilizada justamente por aqueles dos quais buscam se proteger.

Pois será Dolores, na posse do globo central de poucos como ela – a ‘alma’, ou o núcleo de informações, de acordo com o freguês – que irá ressuscitar Charlotte. Só que ela, bem... não é mais ela. É outra, em um diferente corpo. Ainda que não tenha ficado explícito, o mais provável é que a líder da revolução tenha usado o arquivo base de outra figura com motivos de sobra para se rebelar – as opções não são muitas, por isso não causará espanto algum se o espectador acabar se deparando com Clementine (Angela Sarafyan, vista também em American Horror Story, 2015) ou até mesmo o pobre – e apaixonado – Teddy (James Marsden). Decidida a acabar com o mundo dos homens, como não se cansa de declarar, Dolores tem se mostrado capaz de feitos impensados para a menina de acordo com a sua primeira programação.

Enquanto Charlotte se vê tendo que confrontar o passado de uma mulher que não é mais ela e o enigmático vilão Serac (Vincent Cassel) mais uma vez aparece apenas nos últimos instantes – repetindo a estratégia do capítulo anterior – talvez o que tenha gerado mais incômodo em The Absence of Field seja o uso nada original de um argumento baseado em algoritmos e estudo de performances (alguém lembra do enredo básico de Capitão América 2: O Soldado Invernal, 2014?) para tentar justificar a presença do mercenário Caleb (Aaron Paul) ao lado de Dolores. O personagem dele, ao menos até o momento, é não mais do que descartável. Mas como se trata de um ator popular na televisão, seu acréscimo ao elenco tinha como objetivo renovar o interesse pelo programa. Isso, é claro, se ele tiver o que fazer em cena. E chegando à metade desta temporada, ainda há muito a se dizer. Pelo visto, Westworld continua brincando com as expectativas ao seu redor, tanto na ficção quanto no lado de cá da telinha. Resta esperar para ver quando começará a realizar tais promessas.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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