Crítica


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Sinopse

Serac está disposto a fazer o que for preciso para que seus planos não sejam atrapalhados. Dolores e Caleb continuam sendo perseguidos, mas também estão mais próximos da verdade.

Crítica

A terceira temporada de Westworld está mais próxima de uma série de antologia, ao estilo de Black Mirror (2011-2019) ou Modern Love (2019), por exemplo, do que dos seus dois anos anteriores. Isso porque cada novo episódio tem buscado uma trilha bastante pessoal, quase desconectado dos anteriores – e, como esta sendo percebido, também dos posteriores. São histórias aparentemente independentes, cada uma centrada em um personagem de destacada relevância – como um quebra-cabeças, portanto, que só fará sentido quanto todas as peças estiverem nos seus devidos lugares. Começou com Dolores (Parce Domine T03E01), seguiu-se com Maeve (The Winter Line T03E02), Charlotte (The Absence of Field, T03E03) e com o Homem de Preto (The Mother of Exiles T03E04), até chegar ao mais enigmático deles, o multimilionário Serac (Genre T03E05). Ao mesmo tempo, foi possível perceber que cada um desses segmentos tinha impresso também em sua narrativa algumas das principais características das figuras abordadas: objetividade, raciocínio, estratégia, confusão. Dessa vez, é o poder que está em jogo. E, com ele, a ação que provoca. Uma agitada que chega em boa hora ao programa.

Recuperando um pouco do dinamismo desperdiçado nos episódios mais recentes, Genre faz uso do nome de uma droga que altera as percepções daquele sob sua influência para seu batismo. Afinal, é chegado o momento de algumas certezas serem questionadas, outras esquecidas e, principalmente, muitas novas começarem a ser consolidadas. No capítulo anterior, foi revelado que Paris não mais existe, e esse nem sequer é um fato recente: Serac (Vincent Cassel) era uma criança quando a cidade foi riscada do mapa. E ele não estava sozinho: seu irmão corria ao seu lado. Agora, fica evidente que essa tragédia não apenas foi determinante para os rumos trilhados nas vidas dos dois, mas também com reflexos em toda a humanidade. Mais unidos do que nunca, foram eles as mentes responsáveis pela inteligência artificial que agora, em 2058, chamada de Rehoboam, não apenas foi responsável pelo sucesso da empresa Delos – a proprietárias dos parques ultrarrealistas – mas, também, por um controle invasivo e eficiente que se encontra inserido por toda a sociedade. Ou seja, não há mais robôs e humanos: estão todos conectados.

A missão de Dolores (Evan Rachel Wood, finalmente encontrando material para trabalhar) e Caleb (Aaron Paul, ganhando um espaço há muito merecido) é dar fim a essa ameaça. Ela quer acabar com a Delos – e, portanto, com Rehoboam – e ele quer se vingar das perspectivas perdidas em anos de serviços militares traumatizantes. Serac, obviamente, fará uso das armas que estiverem a seu alcance para impedi-los. Mas conseguirá chegar a tempo? Após muito debate e filosofia, essas hipóteses começam a se concretizar – ou não. Os dados estão sendo jogados, as peças estão em pleno movimento, e não há mais como voltar atrás. Caleb sabe que Dolores não é como ele – mas até que ponto ele está ciente da sua real natureza? Os dois formam um casal destinado a se separar: por mais quanto tempo seguirão ignorando esse fato? Entre eles, há ainda Liam (John Gallagher Jr.), o herdeiro que nada sabe, mas que se ilude acreditando estar a par de tudo. É um peso necessário. Mas a mesma questão também é válida para ele: até quando?

Com Maeve (queremos mais Thandie Newton!) e Charlotte (Tessa Thompson ainda não disse a que veio) fora de cena e o Homem de Preto (Ed Harris nem deveria ter sido chamado) aniquilado em seus próprios propósitos, cabe ainda se perguntar por mais quanto tempo Bernard (Jeffrey Wright) e Ashley (Luke Hemsworth) seguirão agindo de forma independente. Ainda com muito a explicar, Westworld se encaminha para o desfecho (faltam apenas mais três episódios) fazendo o que sempre fez – levantando perguntas – sem parecer preocupado em sequer indicar os caminhos para tais respostas. Ao menos a cortina de fumaça começou a esvanecer, e a guerra, mais declarada do que nunca, está a um passo de atingir seu clímax. E que vença o melhor – ou o mais convincente, o que já será de bom tamanho.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.