Crítica


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Sinopse

Serac assume o controle de Delos com o mundo em pleno caos. Meave pede ajuda a ele que, assim, tem a última chance de parar Dolores. Enquanto isso, William inicia sua terapia na instituição mental.

Crítica

Segundo a Wikipedia, “na mecânica quântica, a decoerência é a perda da coerência ou ordenamento de ângulos de fase entre componentes de um sistema numa sobreposição quântica. Uma das consequências desse defaseamento é a adição do comportamento clássico ao sistema”. Em resumo, quando a lógica escapa à razão, o mais sábio é recorrer ao básico. Pois é o que se percebe em Decoherence, sexto capítulo da terceira temporada de Westworld. Um episódio, aliás, bastante especial, pois consegue a proeza de reunir muitos dos seus personagens principais – a maioria há tempos sem dar as caras por aqui – ao mesmo tempo em que apresenta desfechos trágicos para alguns, de forma corajosa, e oferece um digno adeus a outros. Faltam apenas mais dois segmentos neste ano, e está cada vez mais próximo o momento de deixar esse universo para trás.

A guerra está declarada. De um lado, Dolores (Evan Rachel Wood, em participação pontual, mas eletrizante) faz uso de todas as cartas que porventura ainda tenha escondida nas mangas para atingir seus objetivos e impedir a extinção do seu mundo. Do outro, Serac (Vincent Cassel, cada vez mais ameaçador), desmonta as máscaras ao seu redor e parte finalmente para a ação, após tanta conversa e ameaças que pareciam nunca se concretizar. Entre eles estão Maeve (Thandie Newton, confirmando-se como a melhor personagem – e interpretação – do seriado), que precisa decidir pelo que, exatamente, irá lutar, e Charlotte (Tessa Thompson, confundindo artificialismo com monotonia), aquela que foi sem nunca ter sido, a que já morreu, mas não foi enterrada, que pensava estar defendendo com competência uma identidade, apenas para ser desmascarada na primeira tentativa. As duas respondem pelos momentos mais tensos deste episódio, como a triste despedida de uma e a ciência da descoberta das emoções pela outra. Em ambos os casos, a morte lhes teria sido um fim mais digno.

A diretora Jennifer Getzinger (de séries como Outlander, 2017-2018, e Mad Men, 2008-2015, entre outras) e as roteiristas Suzanne Wrubel (que apesar de estar na equipe do programa desde o começo desta temporada, assina pela primeira vez o texto final de um episódio) e Lisa Joy (criadora da série) – todas mulheres, um sinal bastante positivo – encontram espaço suficiente para se debruçarem sobre outro enigmático personagem: o Homem de Preto. Ed Harris vai do céu ao inferno, revelando não apenas seus piores pesadelos, mas também tendo que se confrontar com as mais tristes ou estimulantes versões de si mesmo, como a criança (Zayd Kiszonak), o playboy (Jimmi Simpson) ou o ancião (Peter Mullan), além de outras facetas bastante pessoais. Se até então a pergunta era “quem é esse homem?”, a partir de agora ela ganha novas conotações, principalmente relacionadas ao que ele queria e, mais do que tudo, por quê deu início a um universo que nem ele mesmo conseguiu controlar.

Ao se aproximar da sua inevitável conclusão, Westworld confirma nessa terceira temporada que a inclusão de um nome de peso no elenco (Aaron Paul, que nem chega a aparecer dessa vez) foi muito mais uma jogada de marketing do que uma necessidade narrativa. Ao mesmo tempo, recursos instigantes num primeiro momento – como o uso de hologramas por Serac – logo se tornaram armadilhas desgastadas, pelo emprego descontrolado e sem critérios. Esses são alguns dos passos em falso que se tornam evidentes em Decoherence. Por outro lado, a ação ganha espaço, relegando a filosofia barata a uma segunda instância. Ou seja, os ângulos mais elaborados e a fantasia detalhada foram eclipsados por uma retomada que deve se apressar para colocar tudo nos seus devidos trilhos. Se irá conseguir ou não, há apenas mais duas horas para oferecer tais respostas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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